Editorial
A dívida de R$ 10 trilhões
O Brasil encerra 2025 diante de um quadro fiscal que já não pode mais ser tratado como mera divergência metodológica ou nuance técnica. A dívida bruta do setor público, medida pelo Banco Central, encostou em R$ 10 trilhões, um patamar que coloca o País em uma rota perigosa de fragilidade econômica e perda acelerada de credibilidade. E, ainda assim, o governo Lula insiste em minimizar a gravidade do problema, preferindo discursos vazios a diagnósticos concretos.
O que se vê é uma estratégia preocupante: enquanto o Tesouro divulga números maquiados, o governo evita dar transparência à totalidade do endividamento do setor público, que inclui Estados, municípios, INSS e passivos consolidados. A diferença é colossal. E quanto maior a distância entre a realidade fiscal e a versão oficial, maior o risco de o País caminhar rumo a uma crise mais profunda.
A condução econômica deste governo Lula tem se apoiado em três pilares frágeis: gasto crescente, metas frouxas e narrativa desconectada dos dados. O Planalto age como se a capacidade de endividamento fosse infinita. A máquina pública segue inflada por despesas obrigatórias, reajustes setoriais, renúncias fiscais mal planejadas e programas de cunho eleitoral. Tudo isso bancado por uma dívida que cresce sem freios — e que agora, com R$ 10 trilhões acumulados, coloca o Brasil numa das posições mais delicadas de sua história fiscal recente.
O mais inquietante é que já se admite que não haverá dinheiro suficiente em 2027 para manter o País funcionando. E o mercado já entendeu isso: risco em alta, juros longos pressionados e investidores receosos com a capacidade do País cumprir as metas fiscais.
O ano de 2026, portanto, não será apenas o último capítulo de um governo que só tem olhos para as urnas. Deverá ser o início de uma travessia fiscal turbulenta, marcada por cortes inevitáveis, revisão de prioridades e, possivelmente, novas rodadas de aumento da dívida para cobrir rombos acumulados. A eleição presidencial corre o risco de ser disputada em meio a um ambiente de estagnação econômica, inflação resistente e perda de confiança.
O fato é que, com a dívida tão próxima de R$ 10 trilhões, o Brasil está esgotando margens de manobra. A cada real comprometido com juros, é menos dinheiro para saúde, educação, infraestrutura e políticas públicas essenciais. E, quando o governo opta por esconder a gravidade do problema, perde a confiança do mercado, dos investidores e da sociedade. O Brasil precisava de transparência, prudência e responsabilidade. Recebeu, em troca, improviso, opacidade e populismo fiscal.
A verdade incômoda, que o governo tenta maquiar, é que o Brasil não chegou ao patamar de quase R$ 10 trilhões em dívida por acaso. Foi resultado direto de uma combinação de escolhas políticas mal calculadas, improviso fiscal e uma visão econômica que privilegia o imediatismo eleitoral em detrimento da sustentabilidade do Estado, sem falar em dutos jorrando dinheiro público na lama da corrupção.
O primeiro elemento desse colapso anunciado é o crescimento descontrolado dos gastos obrigatórios, que já consomem a maior parte do orçamento. Outro fator — igualmente decisivo — é o impacto explosivo dos juros altos sobre a dívida, devido à inflação que o próprio governo não consegue conter. A isso se soma um terceiro problema: a política econômica de expansão de gastos sem contrapartida de receita.
E, quando a mensagem pública é de que o governo sempre pode gastar mais e ajustar depois, o efeito imediato é a perda de confiança: investidores exigem juros maiores, a rolagem da dívida fica mais cara e o País entra em um círculo vicioso difícil de reverter. Somando-se a isso, o Brasil segue preso a um quadro de crescimento econômico medíocre, incapaz de gerar arrecadação suficiente para aliviar o ritmo de endividamento. A economia cresce pouco, a dívida cresce muito.
O resultado final é um cenário fiscal que preocupa e pressiona o futuro. Faltaram a Lula coragem para reformas, transparência nos dados e responsabilidade na gestão. E a conta — como sempre — não será paga pelo governo, mas pela sociedade. 2026 será o ano da verdade fiscal. E 2027, o ano em que o dinheiro acaba. Será a falência do Brasil.