Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

O enigma do Banco Master

11 de Dezembro de 2025 às 21:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
placeholder
placeholder

 

O escândalo envolvendo o Banco Master no Brasil se tornou público de forma mais intensa em novembro de 2025, quando o Banco Central determinou a liquidação extrajudicial da instituição e a Polícia Federal deflagrou uma investigação por fraude, com a prisão de executivos, incluindo o principal controlador do banco, Daniel Vorcaro, enquanto cresciam as suspeitas sobre operações fraudulentas e emissão de títulos de crédito supostamente falsos.

A verdade é que, nos últimos anos, Brasília já vinha sendo palco de uma aproximação silenciosa — porém cada vez mais inquietante — entre o grupo financeiro em expansão meteórica e alguns dos centros mais sensíveis de poder da República. O Banco Master, até pouco tempo um ator periférico no mercado bancário, tornou-se presença constante em gabinetes, eventos e articulações que orbitam o coração institucional do País. A súbita projeção da instituição, somada a episódios recentes que indicam influência desproporcional sobre decisões e personagens do Judiciário, exige mais do que curiosidade, demanda escrutínio público.

O Master cresceu apostando em nichos pouco regulados, operações de crédito de maior risco e uma estratégia agressiva de aquisição de carteiras, associada a uma capacidade de transitar com desenvoltura em ambientes que deveriam ser impermeáveis a pressões econômicas, sobretudo cortes judiciais e instâncias que deveriam prezar pela neutralidade e pelo distanciamento de interesses privados.

Relatos recorrentes no meio político e jurídico apontam para a presença de representantes ligados ao banco em eventos e agendas que tradicionalmente não abrem espaço para agentes financeiros. Soma-se a isso a multiplicação de contratos, consultorias e aproximações com figuras que circulam nos tribunais superiores, compondo um cenário de influência que, embora não seja explicitamente ilegal, é institucionalmente tóxico pois sugere erosão de confiança, suspeitas de favorecimento e a perigosa sensação de que a Justiça pode ser “um ativo” como outro qualquer.

Enquanto isso, o centro do poder nacional parece observar a cena com um silêncio desconfortável, como se a promiscuidade entre capital financeiro e decisões judiciais fosse apenas mais um fenômeno inevitável da política brasileira contemporânea. Não é. Um sistema de Justiça que se pretende republicano não pode compartilhar cátedras, jantares e consultorias com grupos privados interessados em moldar decisões que afetam mercados, concorrentes e bilionários litígios.

A trajetória do Banco Master em Brasília — rápida e repleta de portas misteriosamente abertas — revela uma fragilidade institucional. O Brasil não pode normalizar a ideia de que instituições financeiras conquistem poder no tapete silencioso das articulações políticas e jurídicas, sem transparência e sem controle, pois o País já vive sob constante tensão entre poderes e acrescentar a esse cenário a sombra crescente de banco com ambições políticas é brincar com as bases da democracia. É imperativo que as autoridades competentes, incluindo órgãos de controle, voltem seus olhos para essa relação que avança em ritmo acelerado, antes que exploda um escândalo de grandes proporções.

Nesta semana, em particular, se intensificaram as notícias sobre o contrato do Master com a mulher do ministro Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, que previa que o escritório da família trabalhasse na defesa dos interesses da instituição e de Daniel Vorcaro no Banco Central, na Receita Federal e no Congresso Nacional. De acordo com o contrato, assinado em janeiro do ano passado, o escritório de Viviane receberia R$ 3,6 milhões por mês ao longo de três anos.

Em pronunciamento no Plenário na quarta-feira, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) afirmou que decisões adotadas por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) relacionadas ao Banco Master sugerem possível conflito de interesses e precisam ser esclarecidas e defendeu a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o caso. Ele mencionou a suposta viagem do ministro Dias Toffoli com um advogado ligado ao Banco Master antes de proferir decisão sobre a instituição financeira investigada. Vorcaro, por sua vez, deixou a prisão no dia 29 de novembro, após decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, após 12 dias de sua detenção.