Editorial
Hora de refletir 2025 e de projetar mudança em 2026
Antes de novembro terminar, o peso dos juros elevados sobre os resultados das empresas e sobre o comportamento da economia brasileira foi o principal tema das reuniões dos conselhos de Serviços e do Comércio Atacadista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Empresários de ambos os setores demonstraram preocupação quanto à desaceleração recente dos negócios e com a tendência de que esse quadro se estenda até o ano que vem, ano de Copa do Mundo e das eleições.
Em sua apresentação, Fabio Pina, assessor econômico da FecomercioSP, divulgou dados e análises que reforçam a dimensão do problema, além de avaliar como o ambiente macroeconômico, a produtividade e o tamanho do Estado determinam o custo do crédito e moldam os desafios das empresas nos próximos anos.
Um estudo inédito da entidade que representa o comércio detalha o impacto dos juros para o orçamento das famílias e o caixa das empresas brasileiras. Em 2024, foram pagos R$ 1,148 trilhão só em juros, um salto de 17% em relação a 2023. Desse total, R$ 859,9 bilhões saíram das famílias e R$ 287,9 bilhões, das empresas.
O contraste entre o custo financeiro e capacidade de renda é marcante. A massa de rendimentos dos lares cresceu apenas 3,2%, enquanto as despesas com juros avançaram 20,5% no mesmo período. Isso significa que 10,63% da renda familiar foi destinada ao pagamento de juros, índice que era de 9,11% no ano anterior. Esses dados indicam que o mercado de crédito segue sendo a sustentação da demanda agregada, com crescimento de concessões e queda na taxa de inadimplência.
Há um aumento no comprometimento da renda dos lares e do caixa de negócios com dívidas. Além disso, a renda brasileira fica cada vez mais concentrada no setor financeiro, o que é mais perverso, considerando que os rendimentos reais não crescem nessa mesma dimensão, criando um horizonte arriscado para a sustentabilidade do consumo e dos investimentos.
Mesmo assim, o governo Lula insiste em afirmar que tudo vai bem, o que não reflete em realidade. Da mesma forma que as famílias, o volume de juros pagos pelas empresas do País também cresceu de forma vertiginosa em 2024: 7,8% em relação a 2023, atingindo R$ 287,9 bilhões. Essa expansão ocorreu sobre uma forte base de comparação, já que o montante de juros pagos havia avançado 21,9% no ano anterior em comparação com 2022.
São informações como essas que reforçam análises recentes de como o custo financeiro ainda é um dos principais impasses para a retomada de investimentos privados, assim como a elevada carga tributária nacional. O peso dos juros é ainda maior para as pequenas e médias empresas e para as famílias.
Para Pina, 2025 deve encerrar com o mesmo ritmo de 2024: juros ainda elevados, inflação relativamente alta e risco fiscal crescente e mais desperdício do dinheiro público. A expectativa de melhoria mais concreta recai sobre 2026, quando um novo governo terá de apresentar propostas críveis de reorganização das contas públicas, condição necessária para que o País consiga reduzir juros de maneira sustentável e retomar o crescimento. “Estamos dançando na beira do precipício, mas ainda não caímos”, resumiu o economista, alertando que, sem reformas sólidas, a conta pode chegar em 2027.
Portanto, as decisões de 2026 serão determinantes para juros, inflação e crescimento do País. Planejamentos estratégicos devem considerar cenários distintos para o próximo ciclo presidencial. Mesmo sob forte pressão financeira, o setor de Serviços e o Comércio Atacadista mantêm protagonismo na economia brasileira. Mas a FecomercioSP adverte que, sem mudanças estruturais, o País continuará desperdiçando potencial de crescimento, e famílias e empresas seguirão arcando com um custo financeiro que compromete consumo, investimentos e geração de emprego.
O melhor a fazer agora é buscar a real compreensão da realidade brasileira a partir do consumo de notícias que não privilegiem a retórica do atual governo “de que tudo está bem”. Com esse entendimento — e sem paixões — a melhor decisão pode passar pela conclusão que não convém apostar em uma gestão que tem gerado todo esse drama econômico. Ao final de 2025, naquele tempo de reflexão, é o momento ideal para focar nas mudanças necessárias que 2026 vai proporcionar.