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Editorial

O forte discurso de Nikolas Ferreira

26 de Novembro de 2025 às 21:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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A comunicação do Supremo Tribunal Federal (STF), na terça-feira, sobre o trânsito em julgado em relação a ação sobre a trama golpista que envolvia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros importante personagens, incluindo generais, e que determinou o início das penas impostas, gerou, como não poderia ser diferente, grande repercussão nos meios políticos e que impactaram na opinião pública.

Uma das falas mais contudentes sobre o tema foi proferida pelo deputado federal mineiro Nikolas Ferreira, do Partidoo Liberal (PL). Na sessão de terça-feira, o parlamentar fez um discurso inflamado na Câmara dos Deputados, em que lançou duras críticas ao STF, ao governo Lula e a parte do eleitorado brasileiro. “Muito do que o Brasil está enfrentando é o que o brasileiro merece”, disse. “Se um país não se preocupa com o próximo, minimamente, é porque realmente vocês merecem isso mesmo”, disse Nikolas visivelmente emocionado.

Na visão do deputado mineiro, o cenário atual — de crises institucionais, polarização, e repressões políticas — seria consequência direta de escolhas eleitorais feitas ao longo dos anos. Segundo sua argumentação, a permanência histórica do PT no poder equivaleria a acumular responsabilidades graves, como corrupção e mal governo, cujos efeitos hoje estariam sendo colhidos por toda a sociedade.

Além disso, ele lamentou o que chamou de concentração de poderes no Judiciário em prejuízo do Parlamento, afirmando que a Câmara estaria “de joelhos” diante do STF. Acusou ministros e colegas de esquerda de transferir culpas e nunca assumir responsabilidades: “a técnica deles é acusar os outros”, enfatizou.

Para Nikolas, mudanças reais — no País e nas instituições — dependem mais da “responsabilidade individual” do eleitor e do cidadão comum do que de promessas partidárias: não bastam eleições, é preciso consciência política e compromisso com o bem público. Como efeito, o discurso propõe que o sofrimento institucional, econômico e social do País seria reflexo de escolhas eleitorais e de omissões civis.

É uma crítica que acena para o desencanto democrático: se os eleitores legitimam a repetição de ciclos de corrupção, má gestão e crise social, talvez não tenham o direito de reclamar. A pergunta subjacente é inquietante: há na sociedade brasileira disposição real para exigir ética, competência e responsabilidade e não apenas migalhas ideológicas ou simbólicas?

Mas a retórica tem riscos graves. Ao responsabilizar o eleitor, não se pode permitir a diminuição da responsabilidade dos atores políticos, da classe dirigente e das instituições estatais na condução do País. Além disso, numa democracia que vive polarização extrema, culpar o povo pode alimentar ressentimento, divisões e legitimar discursos de ódio ou de vingança simbólica.

Na verdade não é de hoje que o eleitor deposita o seu voto de confiança em um determinado candidato e depois que o cidadão se elege, ele mostra o seu verdadeiro caráter e as intenções do agora político revestido de poder dado pelo próprio povo. Daí por diante o que se vê são os anseios do povo deixado de escanteio para se sobressair os desejos do eleito. Essa cena se repete eleição pós eleição.

Não se pode ignorar a coragem do jovem deputado Nikolas Ferreira, de apenas 29 anos (nasceu em 30 de maio de 1996) de falar o que muitos têm o desejo de falar, mas não possui a chamada imunidade parlamentar, que os torna civil e penalmente invioláveis por suas opiniões, palavras e votos, desde que proferidos no exercício do mandato e em razão dele. Mesmo assim, o mineiro foi condenado, em 2025, a pagar R$ 40 mil por dano moral coletivo em virtude de um discurso considerado transfóbico proferido na tribuna da Câmara, no Dia Internacional da Mulher, quando ridicularizou identidades trans, e já viu ataques a seus familiares e outros enfrentamentos.

Também não se pode ignorar os preocupantes rumos que o Brasil pode estar sendo conduzido. Há a concentração perigosa de poderes que levam a efeito interesses não tão claros assim ao povo brasileiro. As entrelinhas dos discursos, às vezes, escondem mensagens que apenas determinados receptores sabem fazer a devida leitura.

Talvez seja por isso que Nikolas Ferreira declarou que aquele seria seu “penúltimo discurso” antes de “arrebentar a corda” com o presidente da Câmara, Hugo Motta, sinalizando um confronto político iminente na Casa. O anúncio representa mais um capítulo nas tensões entre a bancada do PL e a atual direção daquela casa legislativa em razão de uma pauta específica: o projeto de lei da Anistia. Os ânimos estão exaltados e nem chegou 2026 ainda.