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Editorial

Um governo que gosta de mídia

03 de Novembro de 2025 às 21:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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A principal notícia da edição de ontem da Folha de S. Paulo, em sua versão impressa — reproduzida no site e redes socias trazia a seguinte informação: “Verba de comunicação do governo Lula cresce antes de ano eleitoral”. O texto assinado pelo jornalista Mateus Vargas traz uma grave constatação: a medida vai na contramão de tudo o que o governo deveria estar fazendo para equilibrar as contas públicas. E mais: o governo está usando milhões de reais públicos para a autopromoção do “chefe” e não para levar informação relevante ao brasileiro, aquela que pode trazer algum benefício ao cidadão já tão desanimado com as decisões que partem de Brasília.

 

Mateus Vargas conta que “o governo Lula (PT) ampliou a verba de comunicação da Presidência em mais de R$ 116 milhões durante o ano, levando esse orçamento para cerca de R$ 876 milhões em 2025. O valor destinado à comunicação do governo, às vésperas do ano eleitoral, supera os cerca de R$ 600 milhões reservados em 2024 — cifra que era a maior aplicada nos contratos da Secom (Secretaria de Comunicação) desde 2017.”

Por sua vez, o jornalista Vinicius Filgueira, do portal Poder360, informou, também ontem que “em 6 dias, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gastou cerca de R$ 1 milhão para impulsionar 6 posts no Facebook e no Instagram sobre segurança pública, segundo a Meta Ad Library. A campanha começou na 4ª feira (29.out.2025), dia seguinte à megaoperação policial do governador do Rio, Cláudio Castro (PL). Alguns posts foram impulsionados mais de uma vez, aumentando seu alcance. As mensagens exaltam o uso de inteligência no combate ao crime organizado, em contraponto ao cerco aos complexos da Penha e do Alemão.”

É muita gastança injustificada! Em tempos de descontrole fiscal e cortes em áreas essenciais, o aumento dos gastos com publicidade oficial soa como um contrassenso moral. O governo que pede “compreensão” para limitar investimentos — e impõe altos impostos e taxas — é o mesmo que encontra recursos generosos para vender sua própria imagem. Essa incongruência mina a credibilidade de qualquer discurso sobre responsabilidade fiscal e transparência.

A justificativa oficial é a de “informar a população sobre programas e políticas públicas”. Mas, na prática, o movimento soa como um velho roteiro conhecido na política brasileira: o uso do dinheiro público para reforçar a imagem de quem está no poder, em um momento em que a comunicação de governo e a comunicação de Lula se confundem perigosamente.

Desde o início de 2024, os investimentos em propaganda estatal cresceram em ritmo superior ao da inflação, com forte concentração em mídias tradicionais e digitais — canais que garantem ampla exposição e controle da narrativa. A coincidência com o calendário eleitoral levanta uma questão ética e democrática: até que ponto o governo está promovendo políticas públicas, e até que ponto está promovendo a si próprio?

A Constituição é clara ao estabelecer que a publicidade oficial deve ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, jamais de promoção pessoal de autoridades ou partidos. Ainda assim, a fronteira entre o institucional e o eleitoral tende a se dissolver quando os cofres públicos se tornam instrumentos de autopreservação política. O risco é que a máquina pública se transforme em megafone de campanha, distorcendo a disputa democrática e sufocando a concorrência de ideias.

Segundo levantamento do portal Poder360, nos dois primeiros anos da gestão Lula (excluindo parte de 2025) foram gastos cerca de R$ 4,1 bilhões em publicidade estatal, incluindo governo federal e principais estatais. A média anual estimada desses dois anos é de cerca de R$ 2 bilhões por ano, e isso representa um acréscimo de cerca de 15% em relação à média anual sob o governo anterior, de Jair Bolsonaro. Para 2025, está prevista (ou já contratada) uma cifra de até R$ 3,5 bilhões em contratos publicitários entre ministérios, bancos e estatais.

Mais do que uma questão contábil, trata-se de um teste ético. O respeito à lisura administrativa exige que a comunicação pública seja instrumento de cidadania, não de autopromoção. Quando o marketing substitui a política, o País retrocede — e a democracia, que deveria ser o palco do debate plural, torna-se refém da propaganda oficial.

Em tempos de tantos desafios econômicos e sociais, o Brasil precisa de resultados concretos, não de retóricas e frases prontas elaboradas pelos “comunicadores” do governo. O cidadão merece políticas de verdade e não comerciais de governo.