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Editorial

Pessimismo crescente

27 de Agosto de 2025 às 22:25
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Há uma nuvem pessimista sobre o Brasil, infelizmente, mas parece que o governo não consegue — ou não quer enxergar a realidade. Há sinais evidentes da falta de vontade política em realmente resolver as questões nacionais, aquelas de interesse coletivo. No entanto, sobra esforços para fazer valer as vontades individuais, principalmente quando o foco é a eleição de 2026.

A economia não vai bem e não se vê movimentos para melhorar o panorama. Dois importantes segmentos nacionais — justamente aqueles que mais geram empregos e renda — estão experimentando na pele — e no bolso — o quanto está difícil produzir, vender e se manter no Brasil.

Vamos aos fatos.  Os comerciantes brasileiros ficaram mais pessimistas em agosto, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) caiu 3,1% em relação a julho, já descontadas as influências sazonais, após quatro meses consecutivos de avanços. Segundo a CNC, a principal fonte de preocupação do empresariado, tanto no horizonte atual quanto no futuro, é a conjuntura econômica.

“A confiança do comércio é um reflexo da economia. Juros altos e um cenário de incertezas mantêm os empresários cautelosos. É preciso sinalizar reformas estruturais e uma agenda econômica consistente para estimular novos aportes e empregos”, declarou o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, em nota oficial.

Na passagem de julho para agosto, o componente de avaliação das condições atuais diminuiu 3,5%, com quedas nos itens economia (-5%), empresa (-2,2%) e setor (-3,9%). O componente das expectativas caiu 3,9%, com reduções nos quesitos economia (-6%), setor (-3,7%) e empresa (-2,4%). O componente das intenções de investimentos teve redução de 1,7%, com quedas nos itens estoques (-0,3%), investimentos na empresa (-1,7%) e na contratação de funcionários (-2,9%).

Entre os segmentos varejistas, o comércio de bens não duráveis — que inclui supermercados, farmácias e lojas de cosméticos — teve queda de 4,6% na confiança em agosto ante julho. O índice do varejo de bens de consumo duráveis diminuiu 1,9% no período, e o de bens semiduráveis caiu 2,2%.

Na comparação com agosto do ano passado, a confiança do segmento de bens não duráveis encolheu 5,4% em agosto de 2025. No varejo de bens de consumo duráveis, a confiança reduziu 8,8% no período, e a de bens semiduráveis, queda de 2,8%.

“A queda mais acentuada entre os bens duráveis reforça a sensibilidade desse segmento aos juros altos. O recuo observado em supermercados, farmácias e cosméticos mostra, por outro lado, que até os ramos ligados a bens essenciais começam a sentir o enfraquecimento da demanda. Esse quadro indica que a perda de confiança está se espalhando”, avaliou o economista João Marcelo Costa, da CNC, em nota.

O mesmo cenário é verificado na indústria. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu em 20 dos 29 setores da indústria em agosto, segundo levantamento divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O indicador varia de 0 a 100 pontos e, quando está abaixo de 50, aponta falta de confiança dos empresários. Com o resultado, o número de segmentos nessa situação subiu de 23 para 25, restando apenas quatro setores confiantes.

De acordo com a CNI, em três segmentos a queda foi suficiente para inverter o quadro e levar da confiança para a falta de confiança: manutenção e reparação; impressão e reprodução; e calçados e suas partes. Outros nove setores registraram alta no Icei, mas apenas o de bebidas retomou o patamar de confiança, acima dos 50 pontos.

Segundo a analista de Políticas e Indústria da CNI, Isabella Bianchi, a alta do pessimismo no mês de agosto em alguns setores se deve ao aumento das tarifas americanas sobre parte das exportações brasileiras. “As incertezas no cenário externo, sobretudo pela aplicação das tarifas de importação por parte do governo americano, têm impactado a confiança de setores industriais que são mais diretamente afetados pela taxação”, avalia.

Os brasileiros que produzem e os que consomem esperam ações de governo que mudem esses panoramas e que vontades individuais deem lugar às demandas coletivas.