Editorial
Arsenal apreendido
Duas ações das forças de repreensão contra o crime no Estado de São Paulo, realizadas na quinta e sexta-feira, chamaram muito a atenção da opinião pública em razão da quantidade de armamentos que estavam nas mãos de bandidos e que, certamente já foram usados — ou seriam — para a prática criminosa.
Vamos aos fatos.
Na quinta-feira, uma operação conjunta da Polícia Militar e do Ministério Público, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), resultou na apreensão de 183 armas, entre fuzis, revólveres, pistolas, carabinas e espingardas. A ação aconteceu durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão nas cidades de Atibaia, Paulínia e Americana.
O alvo principal foi um homem suspeito de vender armas de fogo ilegais e certificados de registro a uma organização criminosa. Segundo as investigações, o pai dele está preso pelo mesmo crime, sendo que o filho teria sido o responsável por continuar os “negócios” da família.
“Quando o pai foi preso, o filho teria continuado os contatos com a facção para seguir lucrando de forma ilegal”, explicou o coronel Cleotheos Sabino, comandante do policiamento na região onde os mandados foram cumpridos.
O Ministério Público descobriu o esquema criminoso e identificou os endereços relacionados ao suspeito. Em um deles, havia uma loja clandestina de armas. Durante a fiscalização, foram encontradas vários revólveres e pistolas sem número de registro.
Em outro imóvel, as equipes encontraram um “bunker” que abrigava pelo menos mais 100 armas. O suspeito vai responder por posse ilegal de arma. O caso está registrado no Ministério Público.
Na sexta-feira, em um sítio localizado na área rural do município de São Roque, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), a Polícia Militar, por meio do 14º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), apreendeu 111 armas de fogo, incluindo uma submetralhadora.
A operação, realizada em conjunto com Ministério Público, por meio do Gaeco de Sorocaba, teve como o objetivo combater organizações criminosas. As investigações apontaram um homem suspeito de armazenar armas de fogo, além de acessórios e apetrechos para a fabricação de munições.
No endereço, as equipes realizaram uma vistoria no imóvel principal, onde foram encontradas 21 pistolas, 12 revólveres, quatro garruchas, uma submetralhadora, quatro armas de fogo não identificadas e 66 armas longas, incluindo espingardas e três armas de pressão. Foram mais de 100 armas de fogo apreendidas, além de milhares de munições produzidas irregularmente e maquinários e equipamentos destinados à fabricação clandestina. As apurações iniciais investigam possível vinculação dos envolvidos com uma facção criminosa. A ocorrência foi registrada na Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Sorocaba, que segue investigando o caso.
Conforme o que já foi apurado, o principal investigado valia-se da condição de CAC — Colecionador, Atirador e Caçador — para justificar o armazenamento de armamentos. Contudo, foram localizadas dezenas de armas em situação irregular, bem como vasto material voltado à produção ilícita de munições, evidenciando o caráter criminoso das atividades.
Além do possível envolvimento da facção criminosa, as autoridades investigam um suposto fornecimento de armas para integrantes da organização.
A apreensão de armas pelas forças de segurança de São Paulo vai muito além de um reforço positivo nas estatísticas. Cada armamento apreendido representa vidas potencialmente salvas. A retirada desses instrumentos das mãos de bandidos é, hoje, uma das tarefas mais estratégicas da segurança pública paulista.
Especialistas concordam que a logística do crime organizado depende fortemente do poder de fogo que ostenta. Sem armas, os bandidos tendem a perder “a coragem” para agir.
Por isso, as operações são fundamentais na incansável luta contra o crime. O monitoramento de rotas clandestinas e o uso de tecnologia de rastreamento são fundamentais. No entanto, a apreensão é apenas uma parte da equação. É preciso punir com rigor quem abastece o mercado ilegal e fechar brechas legais que ainda permitem desvios.