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Editorial

É assim que o Brasil funciona

21 de Julho de 2025 às 21:49
Cruzeiro do Sul [email protected]
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O Brasil vive um período marcado por instabilidade política, ruídos institucionais e crescente perda de confiança da população em seus representantes. Essa crise é impulsionada por episódios que corroem a legitimidade do Estado perante os cidadãos.

Ao observar o cenário atual, é perceptível o distanciamento entre governo e governados. Pesquisas de opinião têm apontado uma crescente desconfiança da população nos poderes constituídos, especialmente no Executivo e no Congresso Nacional. A percepção de que os interesses políticos se sobrepõem às necessidades reais do povo alimenta um sentimento de frustração e impotência social. Enquanto o País enfrenta desafios econômicos sérios — como o desemprego estrutural, a inflação persistente e a precarização dos serviços públicos —, parte da classe política parece mais preocupada em travar batalhas ideológicas e articular reeleições do que em apresentar soluções concretas.

A instabilidade política e a perda de confiança no governo não são apenas problemas institucionais — são ameaças diretas à coesão social. Sem confiança, não há participação cidadã plena, não há respeito às regras do jogo democrático, e o espaço para soluções autoritárias ou populistas se amplia. A democracia, para se manter viva, precisa de mais do que eleições: ela precisa de legitimidade, diálogo e responsabilidade com o bem comum.

Mesmo o Brasil vivendo dias difíceis e com tantos problemas internos a serem resolvidos, o presidente Lula tirou a segunda-feira para dar um pulinho ali no Chile — usando, claro, todo o aparato que tem à disposição e que custa muito caro aos cofres públicos —, para discutir solução à democracia alheia, como se no nosso País tudo estivesse bem. Quanta hipocrisia.

Primeiro é necessário arrumar a própria casa, mostrar organização e resultado, para se tornar um exemplo.

Também ontem, em mais uma prova que as coisas internas não estão bem, pesquisa Genial/ Quaest mostrou que a maioria dos brasileiros desaprova a atuação do Congresso Nacional: 51% dos brasileiros rejeitam o trabalho da Câmara e do Senado, enquanto 42% aprovam e 7% não responderam. A pesquisa ouviu 2.004 brasileiros de 16 anos ou mais entre os dias 10 e 14 de julho.

A maior parte dos entrevistados pelo levantamento desaprova o dispositivo das emendas parlamentares e avalia que os recursos destinados por deputados federais e senadores aos Estados e municípios é desviada antes de ser convertida em investimentos para a população,

Em 2025, o volume de emendas parlamentares já soma R$ 50,4 bilhões. A maioria dos entrevistados afirmou ter a impressão de que as emendas são desviadas antes de chegarem às cidades a que são destinadas. Para 82%, as emendas são alvos de corrupção; para 9%, os recursos são convertidos em investimentos nas cidades, enquanto outros 9% não responderam.

As emendas parlamentares estão previstas na Constituição Federal de 1988. Até 2015, o governo federal não era obrigado a aplicar os recursos da forma que os parlamentares indicassem. Naquele ano, foi aprovada uma proposta de emenda à Constituição que tornou o pagamento das emendas individuais obrigatório, o que reformulou o balanço de forças entre o Congresso e o Poder Executivo.

Essa montanha de dinheiro público é na verdade uma grande moeda de troca de favores entre políticos, aquilo que já foi popularizado de “toma lá dá cá”. Ontem, o jornal o Estado de S. Paulo mostrou que o governo Lula decidiu criar uma espécie de pedágio de 1% para liberar cada recurso indicado por deputados e senadores. Vai funcionar assim: o parlamentar indica o recurso a um município e o governo vai reter 1% do valor na hora de liberar o dinheiro.

É assim que o Brasil funciona e parece que dessa forma não está dando certo. O que o País precisa, urgentemente, é resgatar a confiança do seu povo. Isso exige, além de reformas estruturais, uma mudança de atitude por parte dos políticos: mais escuta, menos confrontos; mais compromisso com os problemas reais, menos espetacularização do poder, mais responsabilidade e transparência com o dinheiro público e desprezo à corrupção. O respeito à população precisa ser retomado enquanto ainda há tempo.