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Editorial

Vacinação infantil segue em baixa

17 de Julho de 2025 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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O Brasil voltou a ficar entre os 20 países com maior número de crianças não vacinadas no mundo, de acordo com dados divulgados recentemente pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O País ocupa agora a 17ª posição no ranking, depois de ter deixado a lista em 2024, quando os números de 2023 indicavam uma melhora na cobertura vacinal infantil.

O indicador da OMS e Unicef classifica a aplicação da primeira dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP1), considerada um dos principais marcadores de acesso aos serviços de imunização de rotina.

No ano passado, 229 mil crianças brasileiras não receberam a primeira dose da DTP1 e no ano anterior, esse número havia sido de 103 mil, uma redução significativa em relação às 418 mil registradas em 2022.

Mesmo com o retrocesso, aproximadamente 2,3 milhões de crianças receberam a DTP1 no ano passado. No Brasil, o imunizante é aplicado por meio da vacina pentavalente, que também protege contra hepatite B e infecções causadas pela bactéria Haemophilus influenzae tipo B (Hib).

A cobertura vacinal da DTP1 foi de 91% em 2024, acima dos 84% registrados em 2022, conforme os dados divulgados pela OMS e Unicef, mas ainda abaixo dos índices históricos. Entre 2000 e 2012, o País chegou a atingir quase 99% de cobertura. A queda começou a partir de 2016 e se agravou entre 2019 e 2022.

A consequência da baixa cobertura pode refletir em mais casos das doenças. O Brasil somou, em 2024, 7.438 registros de coqueluche, número bem superior aos 764 casos contabilizados em 2000.

O problema de baixa vacinação ocorre em outros países, como aponta o relatório. Em escala mundial, 14,3 milhões de crianças não receberam nenhuma dose de vacina em 2024, 4 milhões acima do projetado para manter o ritmo de imunizações e alcançar as metas da Agenda de Imunização 2030. Outras 20 milhões de crianças iniciaram, mas não completaram o esquema vacinal básico no ano passado.

Nas Américas, sete dos 42 países relataram cobertura inferior a 80% com a primeira dose da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola.

Desde 2019, os 131 países avaliados pela OMS e pelo Unicef conseguiram vacinar ao menos 90% das crianças com a primeira dose da DTP, mas não houve progresso significativo em ampliar o número de territórios com essa marca.

Segundo o Unicef, os principais fatores que explicam os baixos índices de vacinação em todo o mundo são conflitos, financiamento, reduzido de programas nacionais de imunização, falta de vacinas e surtos de doenças.

Para Renato Kfouri, que é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), as razões da queda na cobertura vacinal na última década são de vários fatores, mas têm relação com o próprio sucesso das vacinas. Como os imunizantes controlam a incidência das doenças, a percepção de risco cai e as pessoas deixam de buscar a imunização, explica. Fora isso, desinformação e dificuldades de acesso também contribuem para a queda nas taxas, diz o médico.

O especialista também aponta que, apesar de ser um indicador importante, existem restrições em relação à precisão dos dados, que são retroativos e destoam dos registros do próprio Ministério da Saúde, os quais indicam um aumento na cobertura vacinal. Ele ressalta, porém, que isso não exclui a possibilidade de existirem crianças à margem, não inseridas no sistema de saúde, sem receber as doses da vacina.

Em 2022, ainda na pandemia de Covid, o Ministério da Saúde acionou pesquisadores para levantar os principais motivos para a queda na cobertura vacinal das crianças no Brasil. Entre eles estavam medo de reações, o descaso com a imunização para doenças já erradicadas e as dificuldades para conseguir atendimento em postos de saúde. Este último motivo surpreendeu na época.

O levantamento mostrou que a dificuldade para conseguir atendimento em um posto de saúde também era uma barreira para melhorar os índices de vacinação: 28% dos pais ou responsáveis ouvidos disseram que levaram as crianças, mas foram obrigadas a voltar para casa sem que elas recebessem a dose necessária. As alegações mais citadas foram a falta de vacinas no posto, salas de vacina fechadas, falta de profissionais, que não era o dia da vacina e tempo de espera muito longo.

Todos esses motivos vão contra a vacinação completa das crianças. Com isso, se acende um alerta para uma espécie de bomba-relógio do reaparecimento, em grande escala, de doenças que antes estavam controladas. É dever das autoridades, em níveis federal, estadual e municipal, concentrar todos os esforços na imunização infantil, além de combater falsas informações que insinuam malefícios — estes são, na verdade, os efeitos e sequelas que podem acometer as crianças, além do risco de perecer ainda no início da vida.