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Editorial

‘Tarifaço’: hora de decidir

15 de Julho de 2025 às 23:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Há exatamente uma semana, o governo brasileiro recebeu um comunicado do presidente norte-americano Donald Trump, anunciando que a partir de 1º de agosto todos os produtos brasileiros que chegarem aos Estados Unidos, frutos de exportações, serão taxados em 50%. Passados sete dias, o presidente Lula continua indeciso sobre qual caminho tomar diante deste contexto.

Desde então, as mais variadas opiniões, vindas de todos os segmentos do País, foram externadas e os mais diversos posicionamentos foram colocados.

Enquanto uns defendem que a política do olho por olho, dente por dente é a que deve ser aplicada, ou seja, a de que o governo brasileiro deve impor os mesmos 50% de tarifa aos produtos que aqui chegarem vindos dos Estados Unidos, outros entendem que não estamos em condições de enfrentar Trump dessa maneira.

Bases do governo indicam que, extraoficialmente, uma decisão será anunciada ainda nesta semana, e o que esperamos é que, se realmente isso ocorrer, tenhamos optado por uma medida que melhor atenda à economia do País, ou que menos prejudique toda a cadeia envolvida.

Nos últimos dias tivemos alguns fatos envolvendo o assunto e que podem interferir nas medidas a serem tomadas diante do “tarifaço”: a publicação de carta do presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, se posicionando a respeito e defendendo a sua instituição, enfatizando a necessidade de a soberania nacional e a democracia serem preservadas, acrescentando que o presidente Donald Trump, ao impor o “tarifaço”, teve uma compreensão imprecisa dos fatos; a reunião do presidente Lula, no domingo à noite, no Palácio do Planalto, com os ministros das pastas diretamente ligadas ao assunto; a decisão de se formar um comitê nacional para tratar da questão, especialmente os empresários dos segmentos que deverão ser os mais prejudicados, caso a decisão dos Estados Unidos seja mantida; a publicação do decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade Econômica, que permitirá ao Brasil responder à altura, em casos como esse; e a mais recente: o pedido das entidades e empresários da indústria para que o governo peça aos EUA o adiamento da data para a aplicação dos 50%.

A visão diante dos últimos acontecimentos está sendo diversificada. Algumas correntes entendem que Lula está sendo prudente e correto ao ouvir a sociedade como um todo, não tomando medidas no calor dos fatos, enquanto que outros concluem que o presidente está titubeante e indeciso, preferindo transferir para outros uma responsabilidade que é exclusivamente sua.

Projetando para o pior dos cenários, ou seja, a suposição de que a medida ou medidas definidas para responder à imposição do governo norte-americano naufraguem, seja pelo enfrentamento, seja pela via diplomática ou pelas negociações, o Brasil terá momentos difíceis e complexos pela frente para se moldar aos 50% de tarifação.

Mesmo partindo do princípio de que as exportações brasileiras aos Estados Unidos correspondem a somente 18% de todo o nosso Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no País, as consequências afetarão toda a cadeia produtiva, dos empresários aos trabalhadores. A imposição de uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros por parte de um parceiro comercial relevante, seja os Estados Unidos, União Europeia ou outro mercado estratégico, representa uma ameaça direta à competitividade externa do Brasil e pode ter consequências econômicas significativas e variadas.

O impacto mais imediato seria uma forte retração das exportações brasileiras para o país ou bloco que aplicou a tarifa. Produtos como soja, carne, café, minério de ferro, petróleo, celulose e manufaturados brasileiros se tornariam menos competitivos em comparação aos de outros países que não enfrentam o mesmo nível tarifário. Isso poderia resultar na perda de mercados consolidados, afetando principalmente os setores do agronegócio e da indústria de transformação.

A redução nas exportações pode levar à diminuição da produção interna em setores diretamente afetados, o que teria como consequência o fechamento de postos de trabalho. Isso afetaria negativamente a renda das famílias, a arrecadação de impostos e, por extensão, o consumo interno. Além disso, o aumento da incerteza pode reduzir os investimentos privados, especialmente em cadeias produtivas voltadas para o comércio exterior.

A queda nas exportações, se não compensada por aumento em outros mercados ou na exportação de outros produtos, pode pressionar negativamente a balança comercial brasileira. Isso pode levar à desvalorização do real frente ao dólar e outras moedas, elevando os custos de importações e contribuindo para a inflação, especialmente em setores dependentes de insumos importados.

Por outro lado, como saída estratégica, o Brasil poderia intensificar seus esforços de diversificação de mercados, ampliando exportações para países da Ásia, África ou América Latina. No entanto, esse tipo de redirecionamento leva tempo e exige adaptações logísticas e comerciais, além de não garantir compensação imediata para as perdas no mercado dos Estados Unidos.

Resumindo: a manutenção de uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros seria extremamente prejudicial para a economia nacional no curto e médio prazo. Além de reduzir exportações, afetar o emprego e pressionar a balança comercial, a medida teria efeitos indiretos sobre o investimento, o consumo interno e a estabilidade macroeconômica. Diante disso, entendemos que a busca por soluções diplomáticas e comerciais que evitem o agravamento de tensões comerciais é fundamental para preservar os interesses econômicos do Brasil no cenário global.