Editorial
O parque de Kim Jong-un
A exemplo das ditaduras mundo afora, como Cuba, Myabmar, Sudão, Chade — só para citar algumas — na Coreia do Norte são os seus cidadãos comuns que mais sofrem devido a pobreza extrema e o nenhum direito, a não ser atender à risca o desejo do ditador. Vivem sob uma ditadura comunista com forte controle estatal e uma rígida estrutura de poder centrada na família Kim, que fizeram da Coreia do Norte o país mais fechado do mundo.
O que chama a atenção nessas ditaduras é que seus mandatários vivem no mais alto luxo e ostentação, enquanto oprimem o povo. Quem está próximo do poder por alguma circunstância também tem direito a regalias, mas a maioria experimentam uma vida de carestia.
A Coreia do Norte originou-se historicamente da reunião dos reinos de população coreana localizados na chamada península da Coreia. Após anos de domínio do Império do Japão e a consequente derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve a formação da Coreia do Norte, com o apoio da União Soviética.
A família Kim governa a Coreia do Norte desde a fundação do país em 1948, com Kim Il-sung estabelecendo a dinastia. Após sua morte em 1994, seu filho, Kim Jong-il, sucedeu-o. Em dezembro de 2011, Kim Jong-un, neto de Kim Il-sung, assumiu o poder. A sucessão familiar tem sido uma característica marcante da liderança norte-coreana, com a linhagem de sangue sendo um elemento central na legitimidade do poder.
Desde que assumiu o poder, o ditador Kim Jong-un, chama a atenção do ocidente devido a sua ostentação e excentricidade. Quando jovem, já foi considerado um verdadeiro playboy. Além de líder supremo, ele também é chefe do Partido dos Trabalhadores da Coreia e vice-presidente da Comissão Militar Central, segundo a Wikipedia. Frequentou uma escola pública na Suíça de 1998 a 2000, sob o nome falso de filho de um diplomata, e a Universidade Militar Kim Il-sung em Pyongyang de 2002 a 2007.
É casado com Ri Sol-ju, com quem tem uma filha nascida em 2010, a Kim Ju-ae, considerada a sua provável sucessora. Há relatos que sugerem que Kim Jong-un pode ter diabetes e hipertensão, e também é conhecido por fumar.
Na semana passada, Kim Jong-un voltou a chamar a atenção do “resto do mundo” ao inaugurar um sintuoso parque aquático, talvez inspirado nas inúmeras atrações simulares que existem no mundo ocidental e livre. Na verdade, por aqui, pouco ou quase nada se sabe sobre a Coreia do Norte e a família de seu ditador. Não há informações confiáveis ou confirmadas sobre as intenções da ditadura ao inaugurar um parque aquático. Notícias sobre projetos específicos de infraestrutura ou lazer no país geralmente são difíceis de verificar devido ao isolamento do regime norte-coreano e à falta de transparência.
O que se sabe, no entanto, é que o ambicioso projeto turístico, batizado de resort de praia Wonsan Kalma, foi construído na costa leste do país. Projetado para abrigar até 20 mil visitantes, está, ao menos por enquanto, restrito ao turismo doméstico e de aliados estratégicos, como a Rússia.
O projeto, que levou mais de seis anos para ser concluído, foi idealizado por Kim Jong-un, que passou parte da infância em Wonsan, cidade que também abriga residências de veraneio da elite norte-coreana. Segundo a rede de notícias estatal KCNA, o resort ocupa uma faixa de quatro quilômetros de praia e conta com hotéis, restaurantes, shoppings e até um parque aquático.
A Coreia do Norte vive sob sanções internacionais devido ao seu programa de armas nucleares e mísseis balísticos, juntamente com violações dos direitos humanos e práticas repressivas. O Conselho de Segurança das Nações Unidas impôs várias resoluções com sanções que restringem o comércio, proíbem a exportação e importação de certos produtos, e congelam bens e viagens de indivíduos ligados ao programa nuclear.
Além de seu programa nuclear, a Coreia do Norte também é acusada de envolvimento em atividades ilegais, como ataques cibernéticos e lavagem de dinheiro, para financiar seu programa de armas.
Com a economia sufocada pelas sanções, a Coreia do Norte tem investido em setores alternativos para atrair recursos. O turismo, ainda que limitado, é uma dessas apostas. Visitantes estrangeiros, principalmente da China e da Rússia, representam a maioria dos poucos turistas autorizados a entrar no país. Durante a pandemia, as fronteiras foram fechadas, e só começaram a reabrir parcialmente em 2023.
Como divulgado pela própria Coreia do Norte, o complexo turístico pode receber até 20 mil pessoas, a princípio todos norte-coreanos. A entrada de estrangeiros está restrita por enquanto. Empresas do setor de turismo estimam que apenas 5 mil viajantes ocidentais visitem o país por ano. A rede de notícias estatal KCNA informou que Kim classificou o seu parque aquático como “o primeiro passo orgulhoso” para concretizar a política do governo de desenvolver o turismo.
O lançamento do complexo coincide com a reativação da linha ferroviária de passageiros entre Pyongyang e Moscou, suspensa desde 2020, e com relatos de que o regime de Kim Jong-un enviou soldados para apoiar a Rússia na guerra contra a Ucrânia.
Mesmo assim, há quem espera por uma reabertura mais ampla da Coreia do Norte ao turismo internacional e que o novo resort possa atrair viajantes curiosos por destinos incomuns, mesmo que seja para, de alguma forma, ajudar a financiar a ditadura. É fato de que Kim Jong-un busca um dinheiro novo, com cheiro ocidental.
Seria uma forma do ditador tentar driblar as sanções que visam dissuadir a Coreia do Norte de continuar seu programa nuclear e de mísseis, pressionar o regime a melhorar a situação dos direitos humanos e reduzir o isolamento do país. É sabido que a Coreia do Norte tem demonstrado capacidade de passar por cima de algumas sanções e manter a ditadura e suas atividades obscuras ativas.
Tornar a inauguração um fato que foi noticiado mundialmente, pode estar inserido nessas intenções do Kim Jonh-un. A cerimônia de inauguração, realizada em 24 de junho, contou com a presença de Kim, da filha dele da esposa, que fez sua primeira aparição pública desde o ano novo. Diplomatas russos, incluindo o embaixador Alexander Matsegora, também participaram do evento.