Editorial
O BC de Galípolo e a taxa Selic

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, na quarta-feira, por unanimidade, elevar pela sétima vez seguida a taxa básica de juros da economia brasileira. Com o aumento de 0,25 ponto percentual, a Selic agora é de 15% ao ano, a maior taxa desde 2006.
Quando Roberto Campos Neto deixou a presidência do Banco Central, em dezembro de 2024, — duramente criticado pelo presidente Lula —, a Selic estava em 12,25%. Lula achava que Campos Neto era o responsável por manter a taxa de juros alta — afinal ele estava ali escolhido pelo ex-presidente Bolsonaro — e que se colocasse na presidência do Banco Central alguém escolhido por ele, os juros seriam contidos.
Assim, em 1º de janeiro deste ano, assumia Gabriel Galípolo, com as bênçãos de Lula.
Desde então, até a quarta-feira, a taxa continua a subir. O Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a Selic gradualmente ao longo desse período porque a missão de conter a inflação permanece ativa. Em janeiro de 2025, primeiro mês de Galípolo, a taxa subiu para 13,25%. Em março, foi para 14,25%, e em maio chegou a 14,75%. A decisão mais recente, de junho, elevou a taxa para 15%.
Essa sequência de altas reflete a estratégia do Banco Central e é compatível com a nova estratégia de meta contínua da autoridade monetária, que é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O objetivo, afirma o comitê, é de assegurar a estabilidade de preços.
Outra justificativa dada pelo Comitê é o cenário internacional incerto, que exige cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica. O Copom citou especialmente a conjuntura e a política econômica nos Estados Unidos e os efeitos de suas políticas comercial e fiscal.
O Comitê de Política Monetária informou ainda que deverá manter os juros em 15% ao ano nas próximas reuniões, enquanto observa os efeitos do ciclo de alta da Selic sobre a economia. Porém, não descartou novas altas, caso a inflação suba. A decisão vai na contramão do que indicava o último Boletim Focus do Banco Central. Os economistas projetavam que os juros ficariam estáveis, em 14,75%, até o final de 2025.
Portanto, como pensava Lula não importa quem esteja no comando do Banco Central — Campos Neto ou o seu escolhido Gabriel Galípolo —, pois o que tem que ser feito será feito.
Ao informar a sétima alta consecutiva da taxa básica de juros, o BC deu uma notícia boa e outra ruim. Em comunicado, o colegiado antecipou que pode interromper o ciclo de alta da Selic na sua próxima reunião, no fim de julho, para avaliar os impactos do ajuste monetário já realizado. O comitê informou que já enxerga “certa moderação” no nível de atividade — no documento divulgado em maio, falava em “incipiente moderação”.
A pausa, no entanto, não está garantida. Segundo o Copom, os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e o colegiado “não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”. Um dos pontos de atenção virá do exterior, já que o documento de quarta-feira destacou que houve um “acirramento da tensão geopolítica”.
Houve, claro, repercussão negativa dos setores políticos e econômicos. Para entidades da indústria, do comércio e centrais sindicais, a alta prejudicará a produção e o investimento.
Em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, classificou de “injustificável” a decisão do Copom. Segundo ele, os juros altos vão sufocar a economia.
Para a Associação Paulista de Supermercados (Apas), o Banco Central poderia ter tomado outra decisão. “Havia espaço para estabilidade e até mesmo para queda da taxa. Não há justificativas para uma taxa de juros neste patamar”, ressaltou o economista-chefe da entidade, Felipe Queiroz, em comunicado.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, também criticou o Banco Central. Nas redes sociais, Gleisi se tornou uma das vozes mais críticas à política da autoridade monetária.
“No momento em que o País combina desaceleração da inflação e déficit primário zero, crescimento da economia e investimentos internacionais que refletem confiança, é incompreensível que o Copom aumente ainda mais a taxa básica de juros”, disse Gleisi.
O presidente Lula, outro crítico de BC em ocasiões de subida da taxa de juros, não havia se pronunciou até a manhã de ontem.