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Editorial

No 1º de maio, Lula foge da cena

02 de Maio de 2025 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Neste 1º de maio, Dia do Trabalho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por não comparecer às manifestações organizadas pelas centrais sindicais em São Paulo, uma ausência que fala mais alto do que qualquer discurso. O gesto, ainda que calculado por seus conselheiros para evitar o risco de um novo fracasso de público, revela uma desconexão crescente entre o governo e as bases que historicamente sustentaram o Partido dos Trabalhadores.

O temor de um “fiasco”, como confidenciaram auxiliares e ministros ao jornal Estadão, mostra que o Palácio do Planalto se vê, hoje, diante de uma realidade incômoda: a esquerda já não mobiliza como antes. O tempo das grandes massas uniformizadas, bandeiras vermelhas e discursos inflamados em praça pública parece ter ficado no passado, e Lula, consciente disso, preferiu se ausentar do ato em frente ao Campo de Marte, em São Paulo, onde os sindicatos realizaram suas comemorações esvaziadas.

Ainda que tenha recorrido a uma rede nacional de rádio e TV na véspera para anunciar apoio à proposta de fim da jornada de trabalho 6x1, essa tentativa de resgatar uma pauta positiva não mascara a verdade dos fatos. A popularidade presidencial enfrenta abalos e, no campo trabalhista, o governo falha em apresentar conquistas concretas. Soma-se a isso o escândalo das fraudes no INSS, que atingem diretamente a imagem de um presidente que prometeu proteger os mais vulneráveis, mas vê agora aposentados e pensionistas vítimas de um esquema criminoso dentro da própria máquina estatal.

A nomeação de um novo presidente para o INSS, por si só, não basta para estancar o desgaste. A Operação Sem Desconto, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União, escancarou o que já se pressentia: o descontrole e a fragilidade de setores-chave do governo. E a instalação iminente de uma CPI para investigar as irregularidades indica que o custo político desse episódio ainda está longe do fim.

O escândalo expôs brechas nos convênios firmados com entidades de classe, que, em alguns casos, agiram de forma criminosa. É essencial rever essas parcerias, exigir comprovação de autorização expressa dos beneficiários e aplicar sanções severas a entidades envolvidas.

Além dos servidores e entidades envolvidas, é essencial investigar eventuais conexões com agentes políticos ou empresários. Todos os envolvidos devem ser punidos, e os valores desviados, recuperados. Uma instância permanente de fiscalização social, com participação da sociedade civil, Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério Público e defensorias públicas, pode monitorar práticas irregulares e propor medidas preventivas.

A digitalização e o uso de biometria são soluções viáveis para garantir que autorizações e consentimentos sejam legítimos. O governo precisa acelerar a implementação de mecanismos digitais seguros, com cruzamento de dados e validações em tempo real. Estas são algumas ações que o governo, se interessado estiver, deveria tomar.

De qualquer forma, ao evitar, no dia 1º de Maio, o ato sindical, Lula não apenas se escondeu da sombra de um palanque esvaziado, mas também deixou de enfrentar de frente as contradições de sua própria administração. Fugir do risco de vaias ou da imagem de um público rarefeito é uma decisão compreensível sob a ótica da estratégia de comunicação, mas indefensável sob o ponto de vista institucional e simbólico.

No Dia do Trabalho, esperava-se do presidente não apenas presença física, mas liderança. O silêncio no palanque deixou um eco incômodo: o de um governo que parece temer o olhar direto de sua base histórica, e que, diante da dificuldade em mobilizar, opta por se recolher.

Um presidente que se orgulha de sua origem operária e de sua trajetória sindical deveria encarar o desgaste com a mesma coragem com que, no passado, enfrentou patrões e adversários. Neste 1º de maio, no entanto, a ausência falou mais alto que qualquer pronunciamento.