Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

Sem Nísia, agora vai?

26 de Fevereiro de 2025 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
placeholder
placeholder

Pressionado pela queda de popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu a ministra da Saúde, Nísia Trindade, deflagrando a reforma no primeiro escalão do governo. Para comandar a Saúde, que tem um orçamento de R$ 239,7 bilhões, Lula escolheu o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT). A ideia é ter um perfil mais político no ministério. O Centrão reivindicava o Ministério da Saúde, mas Lula não atendeu o grupo, sob o argumento de que a pasta é estratégica para o seu governo.

Acontece que a saída de Nísia marca a terceira substituição de uma mulher por um homem no primeiro escalão do governo Lula e contraria o compromisso de campanha do presidente de ampliar a participação feminina na Esplanada.

A primeira baixa feminina foi a de Daniela Carneiro, que perdeu o comando do Ministério do Turismo em junho de 2023 após pressões do União Brasil, partido que a indicou, mas do qual se desfiliou. Ela foi trocada por Celso Sabino, nome ligado ao Centrão e apoiado pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira.

Três meses depois foi a vez de Ana Moser perder o cargo de ministra do Esporte, em setembro de 2023. Ela foi substituída pelo deputado André Fufuca (PP-MA), em mais uma concessão ao Centrão.

Dessa forma, a presença feminina no primeiro escalão do governo Lula ficou menor. A não ser que haja uma mudança de última hora, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, deve comandar a Secretaria-Geral da Presidência, minimizando um pouco a perda da representatividade feminina.

Mas, o problema maior nem é tanto demitir uma mulher e nomear um homem. Certa vez, um sábio falou que o efeito negativo das decisões não passa pelo fato “do que foi feito” e sim “como foi feito”. A demissão de Nísia já era esperada e ocorre após semanas de “fritura” no cargo, o mesmo modus operandi da saída de Daniela Carneiro e Ana Moser.

No caso específico de Nísia, no mesmo dia de sua demissão, horas antes, a agora ex-ministra participou da última cerimônia no Planalto, com a presença de Lula. Ela assinou portarias referentes à produção de vacinas contra a dengue, influenza H5N8, vírus sincicial respiratório (VSR) e também ampliação do fornecimento de insulina pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Fez um longo discurso, em tom de despedida, foi ovacionada pela plateia e agradeceu a vários integrantes de sua equipe.

A solenidade foi marcada por um clima de constrangimento, com Lula olhando o relógio a todo instante. Uma hora e meia depois, o presidente chamou Nísia para uma conversa reservada, em seu gabinete no terceiro andar do Planalto e a demitiu. Lula queria que ela acelerasse o programa Mais Acesso a Especialistas, que foi lançado em abril do ano passado, mas ainda não chegou a todas as regiões do País, mas Nísia não atendeu aos anseios do presidente. Pelo menos houve uma justificativa para se abraçar.

Com as mudanças, que continuarão nos próximos dias, o presidente Lula busca impor um freio de arrumação na segunda metade de seu mandato para estancar o desgaste e se preparar para 2026, quando pretende disputar a reeleição.

Ao deslocar Padilha, que cuidava da articulação política do governo, Lula abre espaço para uma nova troca justamente na área que trata da difícil relação do Palácio do Planalto com o Congresso, agravada por causa do impasse em torno das emendas parlamentares.

Além dessa mudança, uma reforma ministerial mais ampla é aguardada para depois do Carnaval.

Fica claro que o foco do governo é formar um exército que pense em reeleição e como alcançá-la, missão essa que não passa necessariamente por cuidar de políticas que influenciem positivamente os cidadãos brasileiros. A ideia é cercar-se de representatividade política, que se reverta em horário para propaganda partidária em rádio e televisão, recursos, e votos.

Afinal, levantamento da Genial/Quaest divulgado ontem (26) aponta que o terceiro governo de Lula é reprovado por 50% ou mais dos eleitores em oito estados pesquisados. De acordo com a pesquisa, a desaprovação supera os 60% em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e a aprovação cai mais de 15 pontos na Bahia e em Pernambuco, estados onde Lula venceu as eleições em 2022. Pela 1ª vez, a desaprovação do presidente numericamente superou a aprovação nesses dois estados.