Editorial
A confiança do empresário

Na passagem de janeiro para fevereiro, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) manteve-se em 49,1 pontos. Com isso, os empresários da indústria demonstram pessimismo pelo segundo mês consecutivo, conforme mostrou pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), na quinta-feira (13).
Segundo a especialista em Políticas e Indústria da CNI, Cláudia Perdigão, o pessimismo dos empresários impacta as decisões de negócio do setor industrial. “Em um cenário de baixa confiança, espera-se desaceleração de investimentos. Após 2024 registrar evolução muito positiva desse indicador, essa queda na confiança pode impactar o andamento dos projetos que não foram executados no ano passado e ficaram para 2025. Isso acende um sinal de alerta para os próximos meses.”
De acordo com o levantamento, os componentes do Índice de Confiança do Empresário Industrial não registraram mudanças significativas entre janeiro e fevereiro. O Índice de Condições Atuais subiu 0,2 ponto para 44,4 pontos. Embora a avaliação dos empresários sobre o momento das empresas e da economia brasileira tenha melhorado levemente, o indicador continua abaixo da linha divisória de 50 pontos, indicando que, para eles, as condições atuais são piores do que há seis meses.
Já o Índice de Expectativas não mudou e continua em 51,5 pontos, o que demonstra que os empresários têm perspectivas positivas para os próximos seis meses. Esse resultado, no entanto, é explicado unicamente pelas boas expectativas dos industriais para as empresas, uma vez que as avaliações sobre o futuro próximo da economia continuam negativas.
Fato é que a atual situação da indústria brasileira reflete uma crescente falta de confiança entre os empresários diante das decisões governamentais (ou a falta delas), com evidente implicações negativas para a economia do País. Essa desconfiança é alimentada por uma combinação de fatores, incluindo incertezas políticas, instabilidade econômica e desafios estruturais que afetam a competitividade das empresas.
O ambiente político brasileiro tem sido marcado por crises frequentes, o que gera incertezas sobre a continuidade de políticas públicas e reformas necessárias para o desenvolvimento industrial. Os empresários, diante desse cenário, tendem a adiar investimentos e decisões estratégicas, o que pode comprometer o crescimento do setor.
Além disso, a economia brasileira enfrenta desafios estruturais, como a elevada carga tributária, a burocracia excessiva e a falta de infraestrutura adequada. Esses problemas dificultam a operação das indústrias e aumentam os custos de produção, levando os empresários a questionar a viabilidade de novos investimentos. A falta de um ambiente favorável para negócios também se reflete em índices de confiança.
Outro aspecto que merece destaque é a relação entre a indústria e o mercado externo. A volatilidade do câmbio e as tensões comerciais globais podem impactar a competitividade das exportações brasileiras. A incerteza em relação à demanda internacional e a possibilidade de tarifas e barreiras comerciais adicionais tornam os empresários cautelosos em relação a suas estratégias de expansão.
A falta de confiança na indústria não se limita apenas ao ambiente econômico e político, mas também se estende às questões sociais. A insegurança em relação ao futuro do emprego e à qualidade da mão de obra disponível são preocupações que permeiam o setor. A necessidade de inovação e adaptação às novas tecnologias exige investimentos em capacitação e formação, mas a incerteza sobre a estabilidade do mercado pode levar as empresas a hesitar em fazer esses investimentos.
Para reverter esse quadro, é fundamental que haja um esforço conjunto entre o governo e o setor privado. A implementação de políticas que promovam a estabilidade política, a simplificação tributária e a melhoria da infraestrutura são passos essenciais para restaurar a confiança dos empresários. Além disso, iniciativas que incentivem a inovação e a capacitação da força de trabalho podem ajudar a criar um ambiente mais propício para o crescimento industrial.