Editorial
A internet e as crianças

A internet se tornou uma ferramenta indispensável na sociedade contemporânea, influenciando diversas áreas, incluindo a educação e o entretenimento infantil. Crianças de até 8 anos já estão amplamente expostas a dispositivos conectados, seja para assistir a vídeos, jogar ou aprender por meio de aplicativos educativos. No entanto, essa exposição traz tanto benefícios quanto desafios, levando a debates sobre a necessidade de restrições, especialmente no ambiente escolar, conforme previsto na Lei nº 15.100/2025, sancionada em 13 de janeiro, que veda o uso de aparelhos eletrônicos portáteis durante aulas, recreios e intervalos em todas as etapas da educação básica e em todas as escolas do Brasil. A vedação não se aplica ao uso pedagógico desses dispositivos. As exceções são permitidas apenas para casos de necessidade, perigo ou força maior. A lei também assegura o uso desses dispositivos para fins de acessibilidade, inclusão, condições de saúde ou garantia de direitos fundamentais.
Fato é que, nos últimos dez anos, o uso de internet e a posse de aparelho celular cresceram entre as crianças brasileiras até 8 anos. Considerando-se a faixa etária de 0 a 2 anos, a proporção de crianças usuárias de internet saltou de 9% em 2015 para 44% no ano passado. Já na faixa etária de 3 a 5 anos, o salto foi de 26% para 71% no mesmo período e, entre 6 e 8 anos, o uso dobrou, passando de 41% para 82%.
Os dados estão no levantamento inédito produzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que foi lançado ontem (11), em São Paulo, durante o Dia da Internet Segura. O estudo foi feito com base nas pesquisas TIC Domicílios e TIC Kids On-line Brasil referentes ao período entre 2015 e 2024.
A proporção de crianças que possuíam celular subiu entre 2015 e 2024: de 3% para 5% na faixa de 0 a 2 anos; de 6% para 20% na de 3 a 5 anos e de 18% para 36% na faixa etária de 6 a 8 anos.
No caso do computador, no entanto, aconteceu o contrário. Em 2015, 26% das crianças de 3 a 5 anos e 39% das de 6 a 8 anos utilizavam esse tipo de equipamento. Em 2024, as proporções diminuíram para 17% e 26%, respectivamente.
O estudo apontou ainda que o uso de tecnologias digitais por crianças de até 8 anos varia conforme as condições econômicas, sendo menor entre os mais pobres. Entre as crianças de domicílios de classes AB, por exemplo, 45% daquelas com idades de 0 a 2 anos, 90% das de 3 a 5 anos e 97% das de 6 a 8 anos foram usuárias da internet em 2024. Na classe C, as porcentagens foram de 47%, 77% e 88%, respectivamente. Já entre as de classes DE, os mesmos indicadores somaram 40%, 60% e 69%.
O mesmo acontece quando se verificam as diferenças quanto à posse de aparelho celular. Na faixa de 0 a 2 anos, as proporções das crianças que têm o dispositivo correspondem a 11% (classes AB), enquanto nas classes D e E isso representava apenas 4%.
Quando se considera a faixa etária entre 3 e 5 anos, a proporção variava entre 26% (classes AB) a 13% (classes DE). Na faixa etária de crianças entre 6 e 8 anos, a posse de celular corresponde a 40% nas classes AB, 42% (classe C) e 27% (classes DE).
Tanto o uso quanto a posse de celular foram intensificados nessa faixa etária com a pandemia do novo coronavírus. Quanto à posse do aparelho, houve uma grande mudança no período antes e após a pandemia. Os números ficaram estáveis de 2015 a 2019, cresceram em 2021 e voltaram a se estabilizar em patamar mais elevado até 2024. As variações mais significativas foram verificadas nas faixas de 3 a 5 anos, que passou de 12% em 2019 para 19% em 2021, e na de 6 a 8 anos, que subiu de 22% para 33% em 2021 no mesmo período. A única diminuição observada após a pandemia foi com relação aos computadores, sejam eles de mesa, tablets ou laptop.
Enquanto a tecnologia pode ser uma aliada das crianças, também é necessário o monitoramento e limitação para evitar impactos negativos. Bom lembrar que há muitos criminosos em busca da inocência das crianças na internet.