Editorial
Até Galípolo votou sim
Na quarta-feira (18), todos os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) — inclusive Gabriel Muricca Galípolo, o escolhido do presidente Lula para dirigir a instituição a partir de 2025 — decidiram pela alta da taxa básica de juros — a Selic — em 0,25 ponto percentual. A Selic subiu para 10,75% ao ano, como previu o mercado financeiro.
Acompanharam o voto de Galípolo os seguintes membros do Copom: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente, que vem sendo duramente criticado por Lula), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
A decisão unânime do Copom, como se percebe, mostrou que os diretores do Banco Central estão em sintonia. E isso é fundamental para a segurança econômica do País. O Banco Central é o guardião dos valores do Brasil. É uma autarquia de natureza especial, criada pela Lei nº 4.595/1964 e com autonomia estabelecida pela Lei Complementar nº 179/2021.
Para manter a inflação sob controle, o Banco Central executa a estratégia estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão responsável por elaborar as políticas de moeda e de crédito no País. Criado em 1964, pela mesma lei que criou o Banco Central, o CMN é composto pelo ministro da Fazenda, que o preside; o presidente do BC; e o ministro do Planejamento e Orçamento.
O objetivo fundamental do Banco Central é manter a inflação sob controle, ao redor da meta, pois a estabilidade dos preços preserva o valor do dinheiro, mantendo o poder de compra da moeda. Para alcançar esse objetivo, o BC utiliza a política monetária, política que se refere às ações que visam afetar o custo do dinheiro (taxas de juros) e a quantidade de dinheiro (condições de liquidez) na economia.
A ata da reunião do Copom que determinou o aumento da taxa básica de juros deve sair somente no início da semana que vem. Porém, na própria quarta-feira, o Comitê deu sinais do principal fator motivador da decisão: “O ambiente externo permanece desafiador, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes”.
Mas, também, há um indicador interno importante, que mostra risco para alta da inflação: “Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”.
A decisão do Copom interrompeu um ciclo de cortes da taxa Selic e rendeu críticas de políticos e do setor produtivo. Na avaliação deles, a elevação dos juros em 10,75% ao ano ameaça a recuperação da economia, especialmente quando os Estados Unidos começarem a cortar os juros. Por outro lado, a possibilidade de uma alta gradual, neste que parece ser o início de um ciclo de aperto monetário, havia sido cogitada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. A alta de juros anunciada na quarta-feira era a aposta majoritária do mercado. Por isso mesmo, o comentário das últimas 48 horas sobre o tema tinha na fala do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, a tônica da crítica a “guerra entre a Faria Lima e o resto do país”. Pois bem, o Banco Central é o guardião dos valores do Brasil, como já foi colocado aqui. Assim, conclui-se que o BC não rasga o “próprio” dinheiro. O desempenho dos mercados — interno e externo — mostrará quem está com a razão. Afinal, um bom desempenho da economia é o que todos esperam.