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Editorial

Lula, Maduro, Brasil e a Venezuela

08 de Agosto de 2024 às 22:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Apesar de trinta ex-líderes de 13 países cobrarem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defenda a democracia na Venezuela, o petista continua quieto sobre o assunto. Na segunda-feira (5), os ex-líderes do Paraguai, Costa Rica, Espanha, Panamá, México, El Salvador, Colômbia, Chile, Equador, Uruguai, Argentina, República Dominicana e Bolívia pedem que Lula reafirme “seu inquestionável compromisso com a democracia e a liberdade” e faça o regime político prevalecer no país sul-americano vizinho ao Brasil. Resta saber se o petista atenderá o pleito.

No Senado, na terça-feira (6), o senador Eduardo Girão (Novo-CE), criticou, em pronunciamento, a posição do governo brasileiro — e do PT — em relação às eleições na Venezuela. Ele condenou a reação do Brasil às denúncias de fraude no pleito e disse que o silêncio do presidente Lula indica conivência com regimes autoritários. Essa é a preocupação dos trinta que assinaram documento enviado a Lula.

Na tribuna, Girão disse que “o governo Lula foi rápido em lamentar a morte de um líder político do Hamas, mas, sobre as eleições venezuelanas, silêncio total; sobre as mortes na Venezuela, silêncio total; sobre as prisões na Venezuela por perseguição do regime chavista, do regime de [Nicolás] Maduro, silêncio total. Sabe o que isso demonstra para o mundo? Que o Brasil está, aparentemente, pela sua liderança maior, ao lado de terroristas e ditadores. É conivente com as barbaridades perpetradas por regimes totalitários. O silêncio do presidente Lula diz muito. O Brasil está passando pano para essa ditadura, claramente torcendo por ela”, bradou o senador cearense. Para ele, “o sinal mais evidente da fraude é a demora injustificável para tornar públicos esses documentos”.

Por sua vez, ontem (8), a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado aprovou requerimentos de convite para ouvir o assessor-chefe especial da Presidência da República, Celso Amorim, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Os diplomatas devem prestar esclarecimentos sobre a crise relacionada à eleição presidencial na Venezuela.

Amorim viajou a Caracas para acompanhar as eleições, assim é importante que o representante do governo preste contas sobre sua missão oficial, garantindo que as ações tomadas em nome do Brasil estejam alinhadas com os interesses nacionais e com os princípios democráticos e de respeito à soberania dos países vizinhos.

Senadores têm criticado o silêncio do Brasil perante a crise por graves e contundentes suspeitas de fraude no pleito presidencial. Nas recentes eleições na Venezuela, surgiram novamente graves e contundentes suspeitas de fraude eleitoral. Diversos observadores internacionais e grupos de direitos humanos apontaram irregularidades que variam desde a manipulação dos resultados até a intimidação de eleitores e a exclusão de candidatos opositores.

O que mais tem chamado a atenção de parte de organismos internacionais e de senadores brasileiros é a informação do Conselho Nacional Eleitoral venezuelano de que o presidente Nicolás Maduro, no poder desde 2013, foi reeleito para um terceiro mandato com 51,95% dos votos e o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, tenha recebido 43,18%, contrariando totalmente todas as pesquisas pré-eleitorais e de intenção de votos no dia da eleição, 28 de julho. Baseado nisso, a oposição apresentou projeções segundo as quais venceu a disputa presidencial.

A Organização dos Estados Americanos, os Estados Unidos e a União Europeia não reconhecem o resultado anunciado pela Venezuela no dia seguinte à eleição e insistem em pedir a divulgação das atas eleitorais. Lideranças internacionais cobram do governo de Maduro a apresentação das atas oficiais, sem fraudes. Outros países latino-americanos, como Argentina, Chile, Uruguai e Peru, chegaram a reconhecer a eleição do oposicionista González Urrutia e tiveram seus diplomatas expulsos de Caracas. Fora as prisões arbitrárias de oposicionistas ao atual regime governista. O que ocorre na Venezuela não é nada democrático e o Brasil não pode ser avalista de Maduro.