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Editorial

Febre oropouche, a nova preocupação

25 de Julho de 2024 às 22:18
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Mais um problema de saúde pública na vida dos brasileiros e causado por mosquitos traz preocupação. Duas mortes por febre oropouche foram confirmadas no País, mais, precisamente, no Estado da Bahia. Trata-se de uma doença causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense (Orov) transmitido, principalmente, por meio da picada de um mosquito conhecido como maruim (Culicoides paraensis), bem como por espécies do mosquito Culex. O Ministério da Saúde ainda investiga mais uma morte suspeita de febre oropouche em Santa Catarina.

O mosquito maruim, também conhecido como “mosca pequena” é um pequeno inseto, também conhecido como mosquito-pólvora por causa de sua cor escura. Sua picada é dolorida e causa coceira e hematomas. O maruim vive onde há matéria orgânica em decomposição. Existem espécies que vivem no mangue, outras em brejos e banhados. Atualmente, ele já é visto nas regiões urbanas onde há matéria orgânica em decomposição disponível para sua proliferação, principalmente em hortas e jardins, ou onde há madeiras apodrecidas, touceiras de bananeira e fezes de animais. O maruim, como os outros mosquitos, se reproduz em lugares com água.

O Ministério da Saúde avisa que a febre oropouche pode ser confundida com a dengue. A doença evolui com febre de início súbito, cefaleia (dor de cabeça), mialgia (dor muscular) e artralgia (dor articular). Outros sintomas como tontura, dor retro-ocular, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados. Os sintomas duram cerca de 2 a 7 dias. Mas, até 60% dos pacientes podem apresentar recorrência dos sintomas, após uma a duas semanas a partir das manifestações iniciais. A maioria das pessoas têm evolução benigna e sem sequelas, mesmo nos casos mais graves. Infelizmente, até o momento, não há terapias específicas para a febre oropouche. O tratamento apenas alivia os sintomas.

De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, o primeiro óbito confirmado no Estado foi de uma mulher, moradora do município de Valença, sem comorbidades, com 21 anos de idade, em 27 de março. A segunda morte confirmada também foi de uma mulher sem registro de comorbidades. Moradora de Camamu, tinha 24 anos e faleceu em Itabuna, em 10 de maio. As pacientes apresentaram sintomas como febre, dor de cabeça, dor retro-orbital (na parte mais profunda do olho), mialgia (dor muscular), náuseas, vômitos, diarreia, dores em membros inferiores e fraqueza. Ambas evoluíram com sinais mais graves como: manchas vermelhas e roxas pelo corpo, sangramento nasal, gengival e vaginal, sonolência e vômito com hipotensão, sangramento grave, e apresentaram queda abrupta de hemoglobina e plaquetas no sangue.

A detecção de casos da doença foi ampliada para todo o País em 2023, após o Ministério da Saúde disponibilizar diagnósticos para a rede nacional de Laboratórios Centrais de Saúde Pública. Naquele ano, foram confirmados 832 casos. Neste ano, já foram feitos 7.236 registros de febre oropouche em 16 estados, o que representa aumento de 770,19% no número de casos notificados. Os infectados primeiramente estavam concentrados na região norte, mas passaram a ser identificados também em outras regiões do País. A Organização Pan-Americana da Saúde destacou o aumento nos casos da doença, sobretudo em municípios do Amazonas, Acre e Roraima. Esses três estados fazem fronteira com outros países da bacia Amazônica: Bolívia, Colômbia, Peru e Venezuela.

A Organização emitiu um alerta epidemiológico informando os países membros sobre a identificação de possíveis casos, atualmente em investigação no Brasil, de transmissão do vírus Orov da mãe para o bebê durante a gestação. O alerta recomenda reforçar a vigilância diante da possível ocorrência de casos similares em outros países, com a circulação do vírus Orov e outros arbovírus.

O organismo internacional informou no alerta que uma gestante residente em Pernambuco apresentou sintomas de oropouche na 30ª semana de gestação. Após confirmação laboratorial da infecção, foi constatada a morte do feto. O segundo caso suspeito foi notificado no mesmo estado. A gestante apresentou sintomas semelhantes ao da primeira e ocorreu um aborto espontâneo.

O Ministério da Saúde, por sua vez, emitiu uma nota técnica a todos os estados e municípios recomendando o reforço da vigilância em saúde sobre a possibilidade de transmissão vertical do vírus. Com a nota técnica, o Ministério pretende também orientar a sociedade sobre a arbovirose. A medida foi adotada após o Instituto Evandro Chagas detectar a presença do genoma do vírus em um caso de morte fetal, e de anticorpos em amostras de quatro recém-nascidos com microcefalia. No entanto, o Ministério destacou que não há evidências científicas consistentes sobre a transmissão do vírus Orov da mãe infectada para o bebê durante a gestação nem sobre o efeito da infecção sobre malformação de bebês ou aborto.