Editorial
A dengue avança, mas não há vacina para todo mundo
Enquanto o Brasil segue a passos largos na direção da pior epidemia de dengue de sua história, a quantidade de vacinas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) continua insuficiente e restrita à faixa etária entre 10 e 14 anos. O País lidera o ranking da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre nações com maior número de notificações de dengue em 2024, principalmente entre pessoas com maior vulnerabilidade como crianças, idosos e portadores de comorbidade. Dos 7,6 milhões de casos prováveis de dengue em todo o mundo, 6,3 milhões foram notificados no Brasil.
Em Sorocaba, até a segunda-feira (3), havia 30.031 casos de dengue confirmados, 22 óbitos e outras 15 mortes em investigação, além de 35 pessoas internadas, 27 em leitos de enfermaria e oito em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
E a pergunta que não quer calar: e a vacina? A imunização contra a dengue em Sorocaba já havia imunizado, até a segunda-feira, 10.443 crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Ou seja, naquele dia restavam apenas 568 doses no estoque.
Como não há previsão da chegada de uma nova remessa, assim que acabarem as doses, a campanha será encerrada.
Acontece que no final do mês de abril, o Ministério da Saúde anunciou que Sorocaba receberia 44.045 doses do imunizante Qdenga, mas só chegaram 11.011, obrigando a restrição do público-alvo.
Uma notícia preocupa a todos. É previsto um novo aumento de casos de dengue para iniciar ainda em novembro deste ano, informa a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel. “Assim como em 2024, é esperado uma antecipação no pico de casos. Teremos um tempo pequeno de preparação porque neste momento os nossos modelos matemáticos entendem que a gente pode começar a epidemia de 2025 em novembro de 2024. Então, estamos atuando na epidemia atual e já nos preparando por conta de um curto espaço que teremos entre a epidemia de 2024 e 2025”, disse a secretária.
Como essa informação vem do próprio governo, espera-se ações efetivas do Ministério da Saúde no combate ao mosquito Aedes aegypti e também na providência de vacinas, para que a falta do imunizante não se repita. Neste momento, nem mesmo a totalidade do público-alvo está imunizada.
O laboratório japonês Takeda Pharma, fabricante da vacina Qdenga, é o único fornecedor ao Brasil. Seus executivos prometeram ampliar a produção das doses contra a dengue por meio de uma parceria firmada com o laboratório indiano Biological E. Em nota, a Takeda informou que a Biological E. vai passar a produzir 50 milhões de doses da Qdenga por ano, permitindo alcançar a meta de entregar 100 milhões de doses até 2030. A Qdenga foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) em dezembro do ano passado.
Mas, o Brasil, que ostenta a primeira colocação no ranking da dengue, não tem capacidade para produzir a sua própria vacina? A resposta é sim!
O Instituto Butantan, em São Paulo, trabalha, desde 2010, para produzir o seu próprio imunizante. Em dois anos de acompanhamento, a eficácia geral foi de 79,6%. Para pessoas com e sem histórico de infecção prévia pelo vírus da dengue, a resposta imune foi de 89,2% e 73,6%, respectivamente. O imunizante do Butantan apresenta facilidade de inclusão no SUS por ser produzido integralmente por uma instituição pública, e se mostrou eficaz com um esquema de dose única. Isso ajuda a reduzir custos, facilita a logística de vacinação e garante a proteção da população, que não precisa retornar ao posto para tomar outras doses. A notícia é boa, mas o Butantan ainda precisa finalizar os ensaios clínicos e passar por processo regulatório junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de disponibilizar sua vacina à população. A torcida é de que esse processo não demore tanto tempo, pois, até lá, a sorte está lançada.