Editorial
Brasil lidera ranking de dengue
O Brasil volta a ocupar o noticiário internacional de maneira negativa, infelizmente. Dessa vez, a saúde pública está na berlinda. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) colocam o Brasil na liderança disparada no primeiro lugar no ranking de países com maior número de notificações de dengue em 2024, principalmente entre pessoas com maior vulnerabilidade como crianças, idosos e portadores de comorbidade.
Dos 7,6 milhões de casos prováveis de dengue em todo o mundo, 6,3 milhões foram notificados no Brasil. Argentina, com 420 mil casos prováveis; Paraguai, com 257 mil; e Peru, com 200 mil casos prováveis aparecem em seguida no ranking. Atualmente, 90 países registram transmissão ativa de dengue. A OMS chama a atenção para o fato de que todos os quatro sorotipos de dengue foram detectados nas Américas este ano. Segundo a entidade, pelo menos seis países da região (Brasil, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México e Panamá) já reportaram casos de circulação simultânea de todos os quatro sorotipos.
E, agora, o mais triste: o painel de monitoramento da OMS mostra que mais de 3 mil brasileiros perderam a vida por causa da doença.
A Organização Mundial da Saúde faz outro alerta, principalmente às autoridades de saúde, pois há uma sobreposição de casos de dengue, chikungunya e zika, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti e que têm sintomas semelhantes o que pode resultar em diagnósticos equivocados, já que dados de vigilância durante grandes surtos de suspeita de dengue podem incluir erroneamente casos de uma ou de ambas as outras doenças.
A OMS cita como exemplo estudo realizado em Minas Gerais, em 2023, quando casos suspeitos de dengue respondiam por 84,4% de um total de 828.654 casos prováveis de arboviroses, enquanto casos suspeitos de chikungunya respondiam por apenas 15,6%, sendo a verdadeira proporção das duas doenças, entre os casos confirmados laboratorialmente, de 65,9% para chikungunya e 34,1% para dengue. Até o momento, o painel da OMS contabiliza, em 2024, mais de 250 mil casos de chikungunya em todo o mundo e quase 7 mil casos de infecção pelo vírus zika.
Em Sorocaba, até ontem (3), havia a confirmação de 22 mortes por dengue neste ano, sendo outros 15 prováveis óbitos pela doença em investigação no Instituto Adolfo Lutz. Até aquele momento, a cidade contabilizava 30.031 casos.
O controle da incidência da dengue é, sem dúvida, um problema de todos. É importante a eliminação dos criadouros do Aedes aegypti, verificando regularmente os ambientes em busca de locais que possam acumular água parada, como pneus, vasos de plantas, garrafas vazias, latas, calhas entupidas e todo tipo de recipiente que acumule água.
No entanto, grande parte dessa luta está sob a tutela do Estado, pois é sobre os governantes que recaem as maiores cobranças por uma solução que realmente tenha efeito no combate ao Aedes aegypti. Afinal, o aumento significativo dos casos traz diversos desafios ao País. Na saúde pública, pode ocorrer sobrecarga do sistema de saúde, dificultando o atendimento adequado dos pacientes. Pode trazer também escassez de medicamentos, de insumos, de leitos hospitalares e até de profissionais de saúde. Outro ponto negativo, é o impacto na economia em razão dos custos adicionais com o sistema de saúde, além da redução da produtividade da força de trabalho, devido àquelas pessoas que estão doentes e cuidando dos familiares infectados.
Para a OMS, a vacina contra a dengue deve ser vista como parte de uma estratégia integrada para o combate à doença e que inclui também o controle de vetores, a gestão adequada dos casos e o envolvimento comunitário.
A verdade é que ao fechar 2024 em relação à dengue no Brasil, teremos um número bem superior ao contabilizado até agora, confirmando a maior epidemia da doença, com enormes impactos sociais e na saúde.