Editorial
Gaúchos produzem arroz suficiente
Na semana passada, o governo federal autorizou, por meio de medida provisória assinada pelo presidente Lula, a compra de até um milhão de toneladas de arroz do exterior com a finalidade de garantir o abastecimento em todo o País, que pode ser afetado pelo fenômeno climático que atinge o Rio Grande do Sul. Setenta por cento do arroz produzido — e consumido — no Brasil vem dos campos gaúchos.
O governo federal liberou R$ 7,2 bilhões para essa importação. Acontece que essa intenção não agradou os produtores de arroz do Rio Grande do Sul. O governo gaúcho soma ao coro dos contrários e afirma que a safra de arroz do Estado é suficiente para a demanda do País. Segundo dados do Instituto Rio Grandense do Arroz, a safra 2023/2024 de arroz do Rio Grande do Sul deve ficar em torno de 7,1 milhões de toneladas, mesmo com as perdas pelas inundações que o Estado sofreu. O número é bem próximo ao registrado na safra anterior, de 7,2 milhões de toneladas. “Mesmo considerando as perdas, temos uma safra praticamente idêntica à anterior, o que nos leva a calcular que não haverá desabastecimento de arroz”, argumentou o presidente do Irga, Rodrigo Machado.
Uma postagem nas redes sociais, em especial, chamou a atenção nesta semana e ganhou muitos comentários favoráveis. Um vídeo do deputado estadual Marcus Vinícius (Progressista) contestando a importação de arroz anunciada pelo governo federal viralizou. O parlamentar afirma que a medida é infundada e ignora aspectos cruciais da realidade atual da produção e distribuição de arroz, não apenas no Estado, mas no País, e cobrou providências do Ministério da Agricultura.
Marcus Vinícius sustenta que o Instituto Rio Grandense do Arroz informou que 84,2% da produção desta safra já havia sido colhida antes das enchentes que abalaram os gaúchos. A Federarroz confirma esses dados, apontando que, apesar de haver uma quebra de safra, a área plantada havia aumentado em mais de 7%, resultando em uma redução inferior a 2% na produção total se comparado aos números da colheita de 2023. “A alegação de desabastecimento não se sustenta quando analisamos os números concretos da produção. A importação do arroz está sendo feita sem base técnica, números e dados oficiais das entidades do setor”, afirma Marcus Vinícius. “O arroz foi uma das poucas culturas que tiveram baixo impacto pela calamidade. O que poderia garantir prejuízos menores em números absolutos, senão fosse a intervenção federal para prejudicar a economia gaúcha.”
O parlamentar critica duramente o governo por zerar a Tarifa Externa Comum (TEC) para a importação de arroz de países fora do Mercosul. “Não vejo medidas que desonerem o custo de produção do arroz aqui no Brasil. Se o governo Lula quer colocar alimentos baratos na mesa dos brasileiros, deveria reduzir impostos ligados à industrialização, ao consumo e à produção. Dessa forma, os supermercados conseguiriam vender o produto a um preço mais baixo, sem prejudicar a cadeia produtiva”, avalia.
O deputado destacou ainda que, se a intenção do governo é comprar produtos subsidiados, que compre arroz do Rio Grande do Sul. “Temos quantidade suficiente para isso. O problema real não é a falta do cereal, mas sim as dificuldades logísticas enfrentadas pelo setor desde o início de maio”, afirma. O governo federal aproveita a calamidade para atropelar o agro e agir de modo populista e demagógico”, disse.
Se o governo federal pegar esses R$ 7,2 bilhões e aplicar na compra do arroz gaúcho, o Rio Grande do Sul agradece. E isso é possível. Não é necessário gastar esse dinheiro fora do País, uma vez que agora é importante socorrer os produtores nacionais. Além do mais, o presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, garante que não faltará arroz no mercado brasileiro. “O Rio Grande do Sul tem condições de atender o País. Reafirmo que não temos problemas para o abastecimento interno e não há necessidade de importação”, disse. Os produtores gaúchos também esperam uma ação rápida para resolver a questão logística no Estado. Há muita coisa a fazer e é importante que o dinheiro brasileiro socorra brasileiros.