Editorial
Sorocaba e Rio Grande do Sul estão ligados desde o tropeirismo
Tradicionalmente, neste período do ano, acontece uma das principais comemorações da nossa cidade, em reverência ao tropeirismo sorocabano, atividade ocorreu principalmente entre os séculos XVIII e XIX, durante o período colonial e o início do período imperial no Brasil, e que foi de extrema importância na formação econômica e cultural do Estado de São Paulo e de várias outras regiões do Brasil.
A Semana do Tropeiro — que em 2024 chega a 57ª edição — foi pensada como uma forma de resgatar uma importante passagem da história da cidade e aproximar a população da cultura local, mantendo viva a memória a respeito da participação de Sorocaba no desenvolvimento do chamado Ciclo do Tropeirismo
A atividade tropeira proporcionou um papel fundamental no transporte de mercadorias e na integração comercial entre diferentes regiões, contribuindo significativamente para o desenvolvimento econômico e social do interior do País.
O tropeirismo começou a marcar Sorocaba [para sempre] por volta do início de 1750, com a instalação do Registro de Animais na cidade, tornando-se uma sistemática passagem de tropas xucras ou arreadas e, consequentemente, a realização de grandes feiras, famosas em todo o País — a Feira de Muares — e que normalmente, duravam de dois a três meses.
A partir de Sorocaba, o tropeirismo tinha ligação com diversas cidades e regiões do Brasil. Os tropeiros partiam daqui em direção a cidades paulistas, mineiras, fluminenses, goianas e mato-grossenses e gaúchas. Eles estabeleciam rotas comerciais que conectavam essas localidades, transportando mercadorias essenciais para o abastecimento e comércio entre as regiões. Essas rotas contribuíram significativamente para a integração econômica e social do País na época.
Durante o período do tropeirismo, uma variedade de produtos era comercializada pelas tropas de mulas. Além dos animais, alguns dos principais produtos transportados incluíam o charque (carne salgada e seca), couro, tecidos, sal, açúcar, aguardente, ferramentas, utensílios domésticos, entre outros itens de consumo básico e mercadorias diversas. Esses produtos eram essenciais para o abastecimento das regiões por onde as tropas passavam.
Parte importante dessa época tem o Rio Grande do Sul, hoje devastado pelas fortes chuvas que assolam o Estado, também como protagonista.
Os tropeiros vinham do Sul — importante local de criação de mulas — para vender os animais por aqui, criando assim, uma das principais rotas de transporte de tropas. As comitivas percorriam longos caminhos pela região. Ao longo do percurso, do Caminho de Viamão, os pousos dos tropeiros deram origem a importantes cidades como: Viamão, Vacaria, Lages, Rio Negro, Lapa, Balsa Nova, Palmeira, Ponta Grossa, Carambeí, Castro, Piraí do Sul, Jaguariaíva, Sengés, Itararé, Itapeva, Itapetininga, Sorocaba, entre outras.
A memória da importância das realizações dos tropeiros, principalmente na missão de estabelecer laços fraternos por onde passavam, permanece viva entre nós não somente na manutenção da história como na prática.
Antes ligados pelo comércio, Sorocaba e o Rio Grande do Sul estão unidos hoje pela fraternidade e pelo exercício da empatia. Nos últimos dias, sorocabanos estão empenhados em ajudar os irmãos sulistas que, mais do que nunca, precisam da solidariedade. Daqui, hoje, partem para o Rio Grande do Sul não somente mercadorias para suprir um povo. Junto aos produtos alimentícios, de higiene e limpeza, roupas e calçado, água, medicamentos, entre outros, os sorocabanos estão enviando esperança aos gaúchos.
Nos séculos XVII e XVIII, o tropeirismo representou grande importância para o fortalecimento da economia e crescimento da vida em espaços rurais e pequenas cidades, principalmente no sul do País. Hoje, os laços permanecem ligados para ajudar na reconstrução da dignidade dos gaúchos.