Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

Reduzir acidentes de trabalho é tarefa coletiva

04 de Abril de 2024 às 22:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
placeholder
placeholder

Médico da corte e acadêmico nas Universidades de Módena e de Pádua, o italiano Bernardino Ramazzini (1633-1714) viveu na segunda metade do século XVII. Sem renunciar à sua vocação, ele fez visitas a oficinas e outros locais de trabalho com o intuito de identificar ameaças à saúde dos trabalhadores e propôs várias medidas de prevenção. Consciente da necessidade de evitar extremos, ele recomendava a moderação em todos os comportamentos. A expressão “prevenir é muito melhor do que remediar” resume seu preceito.

Ramazzini dedicou muitos anos aos estudos. Não à toa sua mais importante contribuição à medicina foi o trabalho sobre doenças ocupacionais, que relacionava os riscos à saúde ocasionados por produtos químicos, poeira, metais e outros agentes no ambiente laborativo.

Passados quatro séculos, a preocupação de Ramazzini ainda é uma realidade. Segundo o chefe regional de Sorocaba do Setor de Inspeção do Trabalho (Seint), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ubiratan Vieira, mais de 20 mil acidentes de trabalho foram registrados no ano passado em Sorocaba e mais 80 cidades da área de abrangência da Regional Sorocaba do MTE.

Motivado pelos preocupantes números, representantes do Ciesp, Ministério do Trabalho e Emprego, Sindicatos, Sesi, Senai, Senac, Sest Senat, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) e Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) se reuniram ontem em Sorocaba para discutir a situação e buscar soluções, incluindo uma campanha destinada a conter os acidentes de trabalho.

Ubiratan Vieira informou que nos últimos 12 meses foram quase duas mil denúncias e há outras aguardando a fiscalização. Entre 2022 e 2023, 459 notificações envolveram lesões de toda natureza. No período, foram 65 mortes. Somente nos primeiros três meses do ano, sete óbitos foram registrados em Sorocaba e região. Houve, ainda, acidentes não fatais, mas que causaram ferimentos e, em alguns casos, mutilações e fratura nos membros do trabalhador. “O número vem aumentando, por isso tivemos a ideia dessa campanha. A situação é preocupante, uma vez que não existe um único dia que não tenha um acidente, em Sorocaba, com afastamento do trabalhador, disse o representante local do Ministério do Trabalho e Emprego.

O acidente de trabalho é aquele que ocorre com o trabalhador no exercício de suas atividades laborais, inclusive no horário de refeições, lanches e necessidades fisiológicas, a serviço da empresa em qualquer localidade ou no trajeto de sua residência para o local de trabalho e vice-versa.

As principais causas do acidente de trabalho, geralmente, são a falta de atenção no desenvolvimento das atividades, a não utilização de equipamento de proteção individual — como luvas, capacetes, botas, óculos de proteção, uniformes, cintos, dentre outros —, bem como atos inseguros praticados pelo trabalhador e as condições inseguras que são frequentes em muitas empresas.

Os inúmeros relatos mostram que uma das principais razões dos acidentes de trabalho é a falta de investimento e a falta de programas de gestão de riscos e de perigos para levar à prevenção.

Como consequência de um acidente de trabalho, o trabalhador pode sofrer diversas lesões que podem levá-lo a desenvolver doenças profissionais, incapacidade parcial ou total e até mesmo o óbito.

Para o superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego no Estado de São Paulo, Marcus Alves de Mello, que participou da reunião em Sorocaba, “prevenir acidentes de trabalho também é uma tarefa de conscientização e envolve toda a sociedade e todas as esferas de governo, porque apenas a fiscalização não alcança todas as indústrias e todas as construções; portanto, o trabalho deve ser conjunto”. Agora, espera-se ações efetivas que possam resultar na diminuição das estatísticas que envolvem os acidentes de trabalho em Sorocaba e região.