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Editorial

O que vem por aí

A sociedade vai precisar discutir, imediatamente, os benefícios e os malefícios dessa nova tecnologia

17 de Fevereiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
O bombardeio vem de todos os lados e é quase impossível evitar tantos tipos diferentes de golpe
O bombardeio vem de todos os lados e é quase impossível evitar tantos tipos diferentes de golpe (Crédito: Reprodução)

Há quase um ano, a organização Future of Life (FLI) divulgou um comunicado em que pedia, aos principais conglomerados mundiais de tecnologia, uma “pausa” no desenvolvimento da inteligência artificial (IA) em todo o mundo.

A preocupação dos integrantes da entidade é de que o avanço desordenado desse novo sistema provocasse uma catástrofe de proporções inimagináveis.

O apelo não foi levado em consideração e a disputa por desenvolver programas cada vez mais sofisticados ganhou ainda mais terreno.

Hoje é difícil para muitas pessoas, principalmente as que já acumulam um certo número de décadas na idade, compreender, no dia a dia, o que é real e o que é falso.

Qual informação está correta e qual se trata de golpe. As armadilhas se espalham por todos os meios disponíveis numa velocidade impressionante.

Celulares, redes sociais, e-mails se tornaram armas poderosas nas mãos de inescrupulosos bandidos.

O bombardeio vem de todos os lados e é quase impossível evitar tantos tipos diferentes de golpe.

Os sistemas de inteligência artificial permitem a produção de áudios e vídeos falsos retratando pessoas conhecidas em situações que nunca ocorreram.

Já há relatos de usuários que receberam vídeos falsos de familiares pedindo dinheiro ou ajuda financeira.

Para os menos experientes nessa nova tecnologia, fica difícil notar a diferença. Muitas vezes o prejuízo acaba sendo irreversível.

Boletos falsos também povoam os sistemas de mensagem. Não dá para acreditar em tudo o que recebemos.

Mesmo pagamentos cotidianos podem ser substituídos por arapucas que desviam o recurso do usuário para contas fantasmas.

Em segundos, o dinheiro some numa intrincada teia financeira, difícil de ser rastreada mesmo por técnicos experientes.

A carta, produzida e assinada pela Future of Life, foi endossada por mais de mil especialistas da área.

Eles reconheciam, na época, a necessidade de serem estabelecidos sistemas de segurança mais efetivos e compartilhados com novas autoridades reguladoras; a vigilância de sistemas de IA; novas técnicas que ajudem a distinguir entre o real e o artificial; e instituições capazes de fazer frente às dramáticas perturbações econômicas e políticas que a IA pode causar.

O risco é tão grande que democracias consolidadas podem ser destruídas pela divulgação massiva de informações falsas produzidas e disseminadas pelos mais diversos meios.

Cada país está debatendo o tema de uma forma diferente. O Senado americano, antes de tomar qualquer decisão, tem realizado uma série de audiências públicas com os representantes das “Big Techs” em busca de informação e de compromissos de regulamentação da Inteligência Artificial.

Já no Brasil, o que se tenta é impor uma legislação goela abaixo da população sem que o tema tenha sido corretamente debatido pela sociedade.

No ano passado, por muito pouco, o texto proposto pelo atual governo não foi aprovado. A oposição usou de toda a sua força para impedir que um assunto tão delicado fosse votado açodadamente.

Este ano, uma nova tentativa de aprovação deve ocorrer. É preciso estar atento para que um projeto que tem como objetivo principal proteger a população não se torne uma arma de perseguição política e de disseminação de uma única ideologia.

Em nome da defesa da democracia, não se pode tolerar a limitação da liberdade de expressão.

A Future of Life, ao propor, no ano passado, a discussão e a pausa do desenvolvimento da Inteligência Artificial, deixou claro que a iniciativa não deveria ser considerada apenas um alerta, mas também uma espécie de cartilha de recomendações aos governos e à sociedade na proteção do futuro da humanidade.

Segundo o documento, é preciso “exigir o registro de grandes acúmulos de recursos computacionais, estabelecer um processo rigoroso de auditoria de riscos e exigir que desenvolvedores provem que seus sistemas são seguros, protegidos e éticos”.

Essa é só a ponta do iceberg. Outras discussões também deverão ser levadas em conta. Uma delas envolve o corte de vagas de trabalho.

Não se sabe o impacto que a Inteligência Artificial pode causar em algumas profissões. Milhares de funções podem deixar de existir em poucos anos, jogando milhões de trabalhadores no ócio.

A sociedade vai precisar discutir, imediatamente, os benefícios e os malefícios dessa nova tecnologia. Só assim vai poder se proteger, de forma adequada, do que vem por aí.

O domínio e a concentração da informação em mãos erradas pode causar um desastre global.