Editorial
Filhos em segundo plano
Muitas nações têm registrado declínio em sua população e a preocupação é grande que, no futuro, civilizações inteiras deixem de existir
A população mundial, atualmente, está na casa dos 8 bilhões de habitantes. O ritmo de crescimento está cada vez menor. As gerações atuais, preocupadas com o momento econômico, social e climático, têm reduzido o número de filhos e até evitado procriar.
Muitas nações têm registrado declínio em sua população e a preocupação é grande que, no futuro, civilizações inteiras deixem de existir. Na Europa, França e Itália já começaram a pensar em programas para inverter essa curva. O Japão também está bastante preocupado com o aumento da população idosa e a redução das faixas mais jovens. Nem mesmo a China, que por tantos anos proibiu que as famílias tivessem muitos filhos, escapa dessa tendência mundial.
Esta semana, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou um ‘grande plano‘ para combater a infertilidade e ‘relançar a natalidade‘ no país. O número de nascimentos na França, em 2023, foi o menor desde 1946, no final da Segunda Guerra Mundial.
Para Macron, ‘a França será mais forte se aumentar sua taxa de natalidade. Até pouco tempo atrás, éramos um país onde essa era a nossa força (...) quando nos comparávamos com nossos vizinhos‘ e agora ‘isso é menos certo‘.
A França, segunda maior economia da União Europeia, registrou no ano passado o nascimento de 678 mil bebês e uma taxa de fertilidade em declínio, de 1,68 filho por mulher, segundo os dados oficiais.
Entre as medidas propostas pelo governo francês para reverter a situação, está um novo período de licença parental de ‘seis meses‘ para ambos os pais, que substituiria o atual, ‘extremamente curto e mal remunerado‘. A preocupação é grande também com o aumento da infertilidade. Cerca de 3,3 milhões de franceses enfrentariam esse tipo de problema atualmente. Para Macron, é necessário ‘um grande plano de combate a esse flagelo‘ para permitir impulsionar a natalidade.
Na Itália, a situação é parecida. Pela primeira vez na história, o número de nascimentos em um ano caiu abaixo de 400 mil, o que representa uma média de 1,25 bebê por mulher, de acordo com dados oficiais. Isso significa que a taxa de substituição é agora negativa, uma vez que o número de mortes excede atualmente o número de nascimentos. Há 12 óbitos para cada sete nascimentos.
Estão fora do registro oficial os bebês nascidos na Itália filhos de imigrantes não registrados e os de casais italianos heterossexuais e do mesmo sexo que usaram barrigas de aluguel no exterior. Segundo o governo italiano, se essa tendência não se inverter, o país poderia enfrentar uma ‘idade das trevas‘ econômica, pois haverá um declínio no número de pessoas na força de trabalho ao mesmo tempo em que mais pessoas se aposentam.
Até 2030, a Itália calcula que dois milhões de trabalhadores se aposentem sem novos membros correspondentes da força de trabalho para pagar suas pensões, o que provocaria o caos no sistema previdenciário. A taxa de natalidade na Itália tem diminuído constantemente desde a crise de 2008, e os demógrafos acreditam que a insegurança econômica está na raiz do problema.
O Japão, que é o país com a população mais idosa do mundo, também enfrenta dificuldades para estimular os novos casais a procriar. A taxa de nascimentos por mulher está muito abaixo dos 2,1 considerados necessários para manter uma população estável. O governo japonês tem ofertado diversos incentivos econômicos na tentativa de ampliar o número de nascimentos, mas os programas não têm alcançado o sucesso desejado. A taxa de natalidade atual do Japão é de apenas 1,26.
A China, que já foi o país mais populoso do mundo até ser superada pela Índia, viu, em 2023, sua população diminuir pelo segundo ano consecutivo.
O custo da educação, o distanciamento dos jovens em relação ao casamento e a maior integração laboral das mulheres fizeram com que a taxa de natalidade caísse. Esse movimento pode perdurar por anos, até por décadas.
Como se pode notar, a tendência é que a população mundial entre em declínio a médio prazo. As incertezas são tantas, que os jovens têm evitado ter filhos e formar famílias numerosas. SE isso é bom ou ruim, só o futuro vai mostrar.