Editorial
Do outro lado da redoma de vidro
O Brasil, que ano passado se apresentou em Davos cheio de promessas, decidiu, este ano, mandar uma comitiva bem mais modesta
A pequena cidade de Davos, na Suíça, volta a receber, a partir dessa segunda-feira, 15, o Fórum Econômico Mundial. Durante vários dias, lideranças políticas e empresarias (gente que realmente manda no dinheiro do mundo) vão discutir os problemas que afetam a sociedade e caminhos para solucioná-los. Teorias e relatórios serão apresentados aos montes, mas poucas decisões práticas sairão desse encontro.
Este ano, as guerras em Gaza e na Ucrânia serão um dos pontos de destaque do debate. A primeira, que já dura pouco mais de cem dias, ameaça se espalhar por todo o Oriente Médio envolvendo um número maior de nações. A segunda, próxima de completar dois anos, ainda é uma grande dor de cabeça para a Otan. A Ucrânia precisa cada vez mais de dinheiro para resistir aos ataques da Rússia e essa ajuda financeira está custando a popularidade de presidentes e políticos.
Outro ponto alto dos debates em Davos promete ser o discurso do novo presidente argentino, Javier Milei. Suas palavras já provocaram espanto durante as eleições do ano passado e agora vão ter uma audiência ainda maior.
O Brasil, que ano passado se apresentou em Davos cheio de promessas, decidiu, este ano, mandar uma comitiva bem mais modesta. As bobagens ditas por Haddad e Marina nos discursos e entrevistas do ano passado mancharam a imagem País e como há pouca coisa para mostrar, o melhor caminho foi manter o silêncio para não passar mais vergonha.
A ausência de Haddad na Suíça tem um segundo motivo: o Congresso Nacional. O ministro da Fazenda tem que desarmar a bomba que ele mesmo plantou no cenário político quando decidiu afrontar a decisão maciça de deputados e senadores enviando uma Medida Provisória(MP) que acaba com a desoneração de 17 setores da economia. O ambiente não ficou nada confortável para ele e a chance de uma nova derrota é iminente. A MP só não foi devolvida para o Governo, até agora, graças à paciência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. A pressão sobre Pacheco é grande e não se sabe o quanto ele poderá resistir.
Outra ausência em Davos será a do presidente do equador, Daniel Noboa. Ele chegou a confirmar presença, mas foi obrigado a cancelar a viagem diante do caos que se instalou em seu país. Narcotraficantes de diversas organizações criminosas decidiram se unir para enfrentar o Governo. Foram vários ataques coordenados que resultaram em mais de uma centena de mortos e feridos. Uma onda de violência sem precedentes.
Além de centenas de executivos empresariais e responsáveis por grupos econômicos, a organização do Fórum Econômico Mundial confirmou a participação de mais de 60 chefes de Estado ou de Governo. A lista de participantes inclui o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, o presidente israelense, Isaac Herzog, e o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, o funcionário de mais alto escalão de Pequim a participar na reunião desde a visita do presidente Xi Jinping em 2017. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, também garantiu que participará presencialmente.
Cerca de 5 mil militares suíços vão garantir o esquema de segurança da pequena cidade nos Alpes. Até aviões de combate vão ser usados na vigilância. A preocupação ficou maior depois que vários grupos convocaram manifestações para as ruas de Davos. ONGs internacionais e sindicatos prometem fazer barulho e exigir mudanças.
O Fórum Econômico Mundial vai ser destaque nos próximos dias. De gabinetes luxuosos devem sair decisões que podem mudar a história do planeta. A torcida agora é que os líderes mundiais e empresárias conheçam, de verdade, as necessidades da população do planeta. Que deixem suas redomas de vidro salpicadas pela neve dos Alpes para conhecer como vivem as pessoas comuns.