Editorial
Fala muito, faz pouco
Só que essa mudança de estratégia, acabando com a política de preço de paridade de importação (PPI), trouxe mais incertezas que benefícios
A política brasileira de combustíveis virou uma verdadeira confusão em 2023.
A previsibilidade dos últimos anos deixou de existir e agora nunca se sabe qual será o próximo passo tomado tanto pela Petrobras como pelo governo federal.
O atual presidente, ainda em campanha eleitoral, prometeu mundos e fundos, fez bravatas e pouco conseguiu entregar.
O que se sabe, com certeza, é que o consumidor sentiu pouca diferença no bolso e os acionistas da Petrobras viram minguar os dividendos pagos pela empresa.
Só para se ter uma ideia, a Petrobras registrou um lucro líquido de R$ 26,6 bilhões no terceiro trimestre de 2023.
Os dados, que estão no relatório financeiro da própria empresa, mostram que o desempenho foi 42% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado.
Também houve redução de 7,5% na comparação com o segundo trimestre deste ano.
Em comunicado, a Petrobras justificou que o resultado foi impactado pela desvalorização do real diante do dólar.
Ainda assim, a estatal avaliou que os números indicam manutenção dos bons desempenhos e destaca os R$ 66,2 bilhões registrados para o Ebitda, que é o lucro operacional excluindo-se os juros, impostos, depreciação e amortização.
Os números do quarto trimestre devem ser fechados no início do ano que vem, mas a chance de o resultado ser muito melhor é pequena.
A mudança de comando da empresa, com uma visão estratégica que não agradou muito ao mercado nem favoreceu o consumidor, só serviu para derrubar a lucratividade da empresa.
Ao mesmo tempo o governo federal, seu maior acionista, deixou de receber bilhões em recursos financeiros.
Além disso, há uma enorme preocupação com o futuro da empresa. Decisões do governo vão permitir que uma legião de apadrinhados políticos possa ser contratada para os quadros da Petrobras.
A chance de um novo escândalo surgir, nos moldes do Petrolão, não pode ser descartada.
No campo administrativo, a empresa equilibra-se no fio da navalha. A dança dos preços continua, na tentativa de agradar o mandatário do país.
Nesta terça-feira, 26, a Petrobras anunciou uma redução de 7,9%, ou R$ 0,30 por litro, no preço do diesel A vendido em suas refinarias. A medida passa a valer já nesta quarta-feira, 27.
Com isso, a intenção do governo é fazer o preço para as distribuidoras do combustível cair para R$ 3,48 por litro.
Se essa redução, estimada em R$ 0,26 por litro, chegar à bomba de combustíveis, há uma chance de a medida agradar aos indóceis caminhoneiros que prometem, mais uma vez, paralisar o país com protestos e manifestações.
De acordo com nota da empresa, “o ajuste é resultado da análise dos fundamentos dos mercados externo e interno frente à estratégia comercial da Petrobras, implementada em maio de 2023 em substituição à política de preços anterior, e que passou a incorporar parâmetros que refletem as melhores condições de refino e logística da Petrobras na sua precificação”.
Só que essa mudança de estratégia, acabando com a política de preço de paridade de importação (PPI), trouxe mais incertezas que benefícios.
Enquanto a Petrobras luta para manter sua imagem de independência perante o governo, dentro da Esplanada dos Ministérios, há quem tenha como missão atacar, diuturnamente, o futuro da empresa e seus investimentos na exploração de novas áreas abundantes em petróleo.
É o caso da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que não perde a oportunidade de desmerecer o trabalho da Petrobras.
Em entrevista recente ao jornal Financial Times, ela defendeu que o Brasil deve considerar a imposição de um limite à produção de petróleo.
A opinião, de uma figura de destaque do atual governo, diverge da posição de vários setores do governo Lula.
Marina alertou que o país será incapaz de alcançar objetivos como o de triplicar a energia renovável sem limitar a exploração de combustíveis fósseis.
Ela disse também que o foco na transição para uma economia verde precisa ser mantido.
Segundo a reportagem do jornal britânico, a dubiedade brasileira no que tange à política de combustíveis fósseis gerou “ceticismo” no exterior e pode dificultar os aportes financeiros para o Brasil, principalmente as verbas para proteção ambiental.
Perdido no discurso e nas promessas, o atual governo tem dificuldade em definir um rumo que deixe claro o que pretendemos para o futuro.
Enquanto nisso, na bomba de combustíveis, quem paga a conta é o consumidor.