Editorial
Briga interna
A solução para a questão levantada pela Hungria só vai voltar a ser discutida em meados de janeiro, até lá Zelensky fica sem o dinheiro que tanto precisa
Poucas horas depois da Ucrânia comemorar a decisão da União Europeia de abrir negociações formais para sua adesão ao bloco, uma notícia nada agradável atrapalhou os planos do presidente Volodimir Zelensky. A Hungria decidiu embargar um novo pacote de ajuda financeira para que os ucranianos pudessem continuar combatendo a invasão russa. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, quer aproveitar as mudanças que estão sendo propostas para ajudar a Ucrânia para garantir a liberação de verbas para seu país que estão retidas. Sem essa negociação, ele promete dificultar a adesão ucraniana.
A posição de Orban fez com que o encontro dos países da União Europeia, em Bruxelas, terminasse em impasse. A solução para a questão levantada pela Hungria só vai voltar a ser discutida em meados de janeiro, até lá Zelensky fica sem o dinheiro que tanto precisa. Os dirigentes da União Europeia se comprometeram a encontrar uma forma de superar, o bloqueio da Hungria.
A grande verdade é que o embate entre Rússia e Ucrânia ficou em segundo plano depois que o Hamas atacou o território de Israel. O conflito na Faixa de Gaza fez com que a preocupação mundial se deslocasse para o Oriente Médio. São muitas as razões. Se a guerra entre israelenses e palestinos transbordar para outros países vizinhos, a chance é grande de ataques massivos de mísseis colocarem em risco rotas importantes para o comércio de petróleo, de minerais e de alimentos para a Europa.
A Ucrânia segue sua jornada em busca de ajuda financeira e apoio político. O presidente Zelensky visitou, nos últimos dias, dois importantes aliados: Estados Unidos e Alemanha, mesmo assim está difícil transformar apoio político em dinheiro vivo.
A União Europeia pretendia destinar um aporte extra de 50 bilhões de euros, cerca de 300 bilhões de reais, para a Ucrânia, mas as exigências de Hungria barraram a iniciativa.
O primeiro-ministro húngaro disse que seu veto só será levantado em caso de desbloqueio de todos os fundos da UE para seu país. Os recursos foram congelados devido a dúvidas sobre a validade do Estado de direito vigente no país. A União Europeia, há tempos, tenta impor restrições à forma de governar de Viktor Orban, um político de direita que está modificando o jeito de governar a Hungria. Vários questionamentos foram feitos quanto à legitimidade de seu mandato. As sanções impostas ao país, embora veladas, foram uma forma de tentar enquadrar Orban ao pensamento predominante entre os líderes europeus. O primeiro-ministro húngaro aguardou o momento certo para dar o troco.
Na quarta-feira, véspera da reunião que discutiria o futuro da Ucrânia, a UE anunciou o desbloqueio de pagamentos para a Hungria de 10,2 bilhões de euros (cerca de 55 bilhões de reais), mas Orban achou pouco e agora quer mais, bem mais.
O fracasso da cúpula de Bruxelas em resolver as questões com a Hungria acabou ofuscando, em parte, a decisão histórica selada na véspera, 14 de novembro, sobre as negociações de adesão com Ucrânia e Moldávia.
De pires na mão, a Ucrânia aguarda uma solução que lhe seja favorável. O ministro das Relações Exteriores do país quer que a UE garanta o desbloqueio, em janeiro, do dinheiro prometido. “Esperamos que todos os procedimentos legais necessários sejam concluídos em janeiro de 2024, o que nos permitirá receber o financiamento correspondente o mais rápido possível”, afirmou o ministro em um comunicado.
Enquanto a Ucrânia sofre com a falta de recursos, a Rússia aproveita o inverno e a superioridade de suas tropas para atacar o território ucrâniano. Se a União Europeia demorar muito para resolver seus impasses internos, talvez as verbas prometidas cheguem tarde demais.