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Editorial

Saco sem fundo

A sociedade e o Estado têm pouca condição de acolher e de melhorar a vida dessas jovens que acabam sendo presas fáceis

07 de Dezembro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Geração dos nem-nem
Geração dos nem-nem (Crédito: REPRODUÇÃO)

O futuro do Brasil está em risco. As gerações mais novas não estão sendo devidamente preparadas para substituir as que estão, atualmente, garantindo a produção de bens e serviços no país. São milhões de jovens que deixam a escola sem perspectiva e sem interesse de assumir essa responsabilidade.

Segundo dados do relatório Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2023, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quarta-feira, 6, um em cada cinco jovens brasileiros na faixa etária entre 15 e 29 anos não estudava nem trabalhava em 2022. São cerca de 11 milhões de indivíduos que pouco ou nada produzem e que acabam se tornando um fardo para suas famílias e para a sociedade. Para se ter uma ideia do tamanho desse grupo, ele representa 22,3% da totalidade dos jovens nessa faixa etária.

Para fins de estudos sociológicos, essa turma ganhou o jocoso apelido de “nem, nem”, indivíduos que nem estudam, nem trabalham. Vivem à sombra de seus pais e familiares, subsidiados pelos cofres do Estado. Um desperdício e tanto de força produtiva e de recursos intelectuais.

O IBGE, ao estratificar esse grupo, verificou que 43,3% dos “nem, nem” são mulheres pretas ou pardas. Outros 24,3% representam homens pretos ou pardos, 20,1% eram mulheres brancas e 11,4% eram homens brancos. Somados os grupos, nota-se que mais de 63% da força de trabalho desperdiçada pelo país é formada por mulheres. Em muitos casos, são jovens que perdem o interesse pelo estudo e pelo trabalho para viver fantasiosos romances com traficantes e delinquentes de comunidades mais pobres, dominadas por organizações criminosas. Esses relacionamentos, em grande parte das vezes, terminam em gravidez precoce, agressões físicas e morais e abandono.

A sociedade e o Estado têm pouca condição de acolher e de melhorar a vida dessas jovens que acabam sendo presas fáceis no ambiente em que vivem. Garantir uma rede de proteção eficiente para esse grupo, tão numeroso, é vital para conseguirmos reduzir o número de jovens em situação improdutiva.

Os dados do IBGE ainda destacam que, no ano passado, 4,7 milhões de jovens sequer procuraram emprego e nem têm a intenção de fazê-lo. 61,2% dos 11 milhões de “nem, nem” se encontram abaixo da linha da pobreza e nem isso parece incomodá-los.

Essa situação toda gera um grande problema futuro para o país. A cada ano um número maior de brasileiros vai precisar de recursos oriundos de programas sociais como o Bolsa Família para sobreviver. O Tesouro vai gastar mais em assistência social, sem perspectiva de conseguir reverter esse cenário.

Se não houver investimento no incentivo desses jovens a produzir, eles, já adultos, sempre dependerão da ajuda dos recursos públicos. Em países mais desenvolvidos como França e Reino Unido, esse problema já virou realidade. Fatias imensas da população vivem há décadas dos benefícios estatais, sem nunca ter trabalhado. Isso em países onde há vagas de sobra em muitas funções e trabalhadores de menos.

O Brasil segue a passos largos esse caminho. Apostando no assistencialismo em vez de buscar soluções que alterem de fato a vida de quem está fora do mercado de trabalho.

Outro fator importante é a Previdência Social. Com um número menor de trabalhadores da ativa contribuindo, o déficit para pagar as aposentadorias só vai crescer. A situação só não é pior graças à reforma previdenciária que foi aprovada em 2019. Isso deu um certo fôlego ao caixa, mas as contas estão se deteriorando rapidamente. Alguns estudiosos acreditam que em 2030 o caos já estará novamente instalado.

Enquanto o assistencialismo sem contrapartida perdurar, o grupo dos “nem, nem” só tende a crescer. Uma solução urgente precisa ser encontrada para que o país não desperdice a força de trabalho dessa juventude que está aí, com pouca perspectiva de um futuro melhor.