Editorial
A soma dos fatores altera o resultado
A queda de rendimento dos estudantes afetou países de todos os níveis econômicos
O mundo começa a pagar a conta da atuação exagerada de muitos de seus líderes durante a pandemia da Covid-19.
O excesso de zelo, que resultou em longos períodos de confinamento, prejudicou não só a saúde mental de milhões de pessoas como afastou outros tantos milhões de crianças dos bancos escolares, das aulas presenciais e do convívio social.
Recuperar esse prejuízo educacional vai levar anos e pode afetar uma geração inteira de futuros profissionais.
A queda de rendimento dos estudantes afetou países de todos os níveis econômicos.
Nem as nações mais ricas, melhor preparadas para enfrentar a situação vivida durante a pandemia, escaparam nessa catástrofe sem precedentes na história humana.
A constatação está no relatório divulgado na terça-feira, 5, pelo Pisa, a mais importante avaliação educacional do mundo.
Segundo os dados, o desempenho dos estudantes em matemática e leitura teve uma das quedas mais significativas desde que o sistema foi adotado.
O Pisa avalia alunos na faixa dos 15 anos de idade e serve como parâmetro de como o ciclo educacional fundamental se encerrou e de que forma os estudantes estão preparados para enfrentar as exigências da universidade.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela realização da prova, avaliou a queda mundial como “sem precedentes” e “dramática”.
O diretor de Educação e Habilidades do Pisa, Andreas Schleicher, ressaltou que o Brasil foi um dos países “sortudos”, onde o desempenho não foi tão prejudicado durante a longa crise sanitária, chegando a subir algumas posições na classificação.
Se bem que não há muito o que comemorar, já que o país nunca esteve muito bem colocado no ranking mundial e a situação de estabilidade só demonstrou que não há muito mais a perder.
De acordo com os números recentes do Pisa, um em cada quatro adolescentes de 15 anos dos países mais ricos do mundo agora tem baixo desempenho em matemática, leitura e ciências.
Essa dado assustou, e muito, a comunidade internacional.
Pelas notas avaliadas pelo Pisa, pode-se afirmar que os jovens de hoje enfrentam sérias dificuldades para fazer tarefas como aplicar operações matemáticas básicas ou interpretar textos simples.
Eles não conseguem também executar contas com porcentagens ou diferenciar fatos de opiniões.
Levando-se em conta a habilidade em matemática, a diferença entre a prova aplicada em 2018 e a do ano passado foi de 15 pontos a menos nos países ricos.
Para os especialistas em educação, essa queda representa a perda de praticamente três bimestres de ensino em um único ano escolar.
O desempenho abaixo do previsto atingiu todas as classes sociais.
Ninguém escapou dos efeitos nefastos do isolamento obrigatório e da desestruturação da sociedade durante a pandemia.
O desempenho dos estudantes brasileiros não fugiu muito do que se tem conquistado nos últimos exames.
O país obteve nota 379 em matemática, ficando no 65º lugar do ranking, atrás de Colômbia e Cazaquistão.
Em leitura, foram 410 pontos e a 52º colocação.
Em ciência, o Brasil obteve 403 pontos e aparece em 61º, abaixo da Argentina e do Peru.
Um dado curioso é que o Brasil manteve a estabilidade nas notas mesmo sendo um dos países com mais dias de escolas fechadas por causa da Covid.
Em média, os estudantes de países da OCDE, os mais ricos do mundo, permaneceram 101 dias com ensino remoto. No Brasil, essa quarentena durou 253 dias.
Na avaliação da OCDE, o fechamento das escolas “impulsionou uma conversão global para a aprendizagem remota, aumentando os desafios a longo prazo que já haviam surgido, como o uso da tecnologia nas salas de aula”.
O Pisa discute também, por exemplo, efeitos no desempenho dos jovens causado pela distração com o uso do celular, uma das grandes pragas do mundo moderno.
O alerta está dado. A pandemia prejudicou milhões de estudantes no mundo todo. Seus efeitos ainda serão sentidos pelos próximos anos.
O momento agora é de reforçar o ensino e encontrar formas de melhorar a comunicação entre alunos e professores.
Só assim, somando esforços, é que vamos sair mais fortes e resistentes desse efeito colateral provocado pelo novo coronavírus.