Editorial
Empatia para com quem mais precisa
Francisco utilizou uma passagem da Bíblia para pedir ajuda aos que mais precisam
Desde 1906, o dia 19 de novembro é dedicado a se homenagear a bandeira brasileira.
Mais recentemente, em 2017, por obra do papa Francisco, a data foi transformada, internacionalmente, no Dia Mundial dos Pobres.
A preocupação do líder da igreja católica tem todo o sentido. Segundo dados recentes do Banco Mundial, 1,1 bilhão de pessoas, em todo mundo, vivem nessa condição. Isso representa cerca de 18% da população do planeta.
Apesar da situação ter melhorado um pouco no início de 2020, com a redução do número de pessoas que vive abaixo da linha de pobreza, a chegada da pandemia da Covid-19 modificou essa tendência de queda e devolveu milhões de famílias ao status anterior.
Esse passo atrás tem preocupado muito os especialistas no assunto. Reorganizar toda a estrutura global para permitir a retomada econômica, principalmente dos países mais pobres, tem sido um desafio extra.
Desafio que piorou com a invasão da Rússia à Ucrânia, no ano passado, e agora com os enfrentamentos entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
A tensão causada por guerras dificulta que os países desenvolvidos possam focar, com mais empenho, na situação de vida dos mais pobres.
Diante desse cenário, Francisco utilizou uma passagem da Bíblia para pedir ajuda aos que mais precisam. “Não desvies o rosto de nenhum pobre” (Tb 4,7) é o tema escolhido pelo papa para celebrar a data de hoje.
Aqui no País, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) preparou uma série de atividades para desenvolver a temática proposta por Francisco.
O presidente da CNBB, dom Jaime Spengler, num vídeo gravado para a comunidade católica, salientou a importância desse momento que vivemos.
“O rosto de todo ser humano traz traços do rosto de Deus e, de uma forma toda especial, nos interpela o rosto do pobre. O rosto do pobre nos instiga a alargar o coração e ir ao encontro com aquilo que nós temos: Cuidar dos pobres, não desviar o olhar dos pobres”.
Hoje, muitas paróquias e instituições religiosas ao redor do mundo vão realizar eventos e ações de caridade para auxiliar os necessitados e conscientizar a sociedade sobre a importância de combater a pobreza e a exclusão social.
Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Banco Mundial, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, apontou que o Brasil possui, atualmente, cerca de 22 milhões de famílias inscritas nos programas sociais de distribuição de renda.
Apesar dessa ajuda, fornecida pelo governo com o dinheiro advindo de nossos impostos, muitas dessas famílias beneficiadas ainda permanecem na linha de pobreza.
A diferença é que esses participantes dos programas sociais conseguiram deixar a pobreza extrema. Para que sejam realizados esses estudos, são considerados pobres as pessoas que possuem renda per capita abaixo de R$ 218 mensais.
Já quem recebe menos de R$ 109 per capita, estaria na linha de pobreza extrema. No Brasil, os beneficiários do Bolsa Família, por exemplo, recebem cerca de R$ 142,00 per capita, todos os meses.
O processo para se estabelecer o valor mínimo necessário para uma família viver dignamente é extremamente complicado. Os cálculos envolvem uma série de fatores que dependem do local onde a pessoa vive, exigências com alimentação e moradia e a comparação com a própria sociedade onde ela está inserida.
O conceito de pobreza absoluta, por exemplo, considera os fatores necessários à sobrevivência física do indivíduo. Essa abordagem não leva em consideração o contexto social, buscando analisar apenas se a pessoa consegue acessar as necessidades básicas que lhe garantam o mínimo para a sobrevivência.
A discussão é interminável e sempre haverá controvérsia. O que a comunidade como um todo precisa entender é que vivemos num momento em que a empatia é fundamental.
É importante nos colocarmos no lugar do outro para entender como é difícil a situação.
Só com a redução da pobreza é que conseguiremos atingir um patamar melhor para toda a sociedade. Para isso é preciso colocar a mão na massa e ajudar quem mais precisa.