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Editorial

Portugal navega em águas turbulentas

A popularidade de António Costa foi declinando por conta de uma série de escândalos que surgiram pelo caminho

11 de Novembro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Ex-primeiro-ministro socialista António Costa
Ex-primeiro-ministro socialista António Costa (Crédito: Reprodução)

Os principais partidos portugueses começaram a preparar-se para as eleições legislativas convocadas, de forma antecipada, para o dia 10 de março.

A correria e a busca por apoios começaram logo depois da renúncia do primeiro-ministro socialista António Costa, envolvido em um grave escândalo de corrupção.

A crise política portuguesa teve início no dia 7 de novembro com a deflagração de uma operação policial que fez buscas, inclusive, na residência oficial do primeiro-ministro.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, seria o mesmo, aqui no Brasil, se uma força-tarefa policial fosse autorizada a invadir o Palácio da Alvorada, onde mora o presidente da República, ou mesmo as casas dos presidentes da Câmara, do Senado ou do Supremo.

Dá para imaginar o tamanho da repercussão de uma ação dessas em nossos meios políticos?

No Brasil, infelizmente, muitas vezes, misturam-se funções de Estado com vontades políticas do governo de plantão.

O corporativismo impera e há uma rede de proteção para aqueles que produzem malfeitos.

A Polícia Federal (PF), por exemplo, que deveria ser totalmente independente em suas investigações, muitas vezes, é utilizada para proteger aliados do atual mandatário, seja ele quem for.

O atual ministro das Comunicações, Juscelino Filho, já foi alvo de diversas denúncias de corrupção e de favorecimento na distribuição de verbas públicas.

A PF já documentou diversas provas da relação criminosa entre ele e um empresário investigado por desvios de recursos públicos. Mesmo assim continua no posto.

É difícil saber o que o mantém no cargo e até onde o presidente da República está disposto a ir para protegê-lo.

Em Portugal, a coisa é um pouco diferente. Com o currículo manchado por investigações que atingem seus ministros e assessores, António Costa não viu outro caminho que não fosse a própria renúncia.

A decisão ocorreu após o Ministério Público português indiciar um de seus ministros e o chefe de seu gabinete no âmbito de uma investigação sobre supostas irregularidades na gestão de projetos energéticos.

Na declaração de Costa, "as funções de primeiro-ministro não são compatíveis com qualquer suspeita da minha integridade”.

A investigação que atinge Costa, um dos poucos socialistas à frente de um governo na Europa, está relacionada com suspeitas de "malversação, corrupção ativa e passiva de funcionários públicos e tráfico de influência", na atribuição de concessões de minas de lítio e de produção de hidrogênio.

Costa é um político muito experiente. Foi prefeito de Lisboa e chegou ao poder em 2015, impulsionado por uma aliança inédita entre a extrema esquerda e os socialistas.

Durante seu mandato, aproveitou a situação favorável para deixar para trás as políticas de austeridade aplicadas pela direita em troca de um resgate concedido ao país pelos credores internacionais em 2011.

Ele também zerou as contas públicas e levou o país a um superávit do orçamento.

Em janeiro de 2022, obteve uma vitória eleitoral esmagadora que lhe permitiu governar com maioria absoluta, mas sua popularidade foi declinando por conta de uma série de escândalos que surgiram pelo caminho.

Agora, os portugueses vão ter de decidir que rumo desejam para o país nos próximos anos.

A guinada promete ser grande e muita coisa deve ser mudada.

Enquanto os partidos articulam a sucessão, o que se pode aprender desse caso é que a corrupção, mais dia menos dia, acaba sendo descoberta.

É uma questão de tempo até que a justiça seja realmente feita.