Editorial
Ecos do passado
O vídeo com a performance desastrada de Ludmilla em segundos viralizou nas redes sociais e uma enxurrada de críticas atingiu a imagem da cantora
O Brasil assistiu, indignado, à participação da cantora Ludmilla durante a execução do Hino Nacional Brasileiro no Grande Prêmio de São Paulo do Campeonato de Fórmula 1.
Para muitos, ficou claro que a intérprete, contratada única e exclusivamente para entoar os versos, desconhecia a letra.
Uma vergonha para qualquer cidadão do país!
Ludmilla já começou sua apresentação com um erro crasso. Trocou a primeira palavra do hino, “ouviram”, por “ouvira”.
Poucos versos depois, num completo apagão, ela parou de cantar. Por longos e agoniantes segundos, o mundo ficou ali, em suspense, tentando adivinhar qual seria o desfecho daquele momento insólito.
A única coisa que se escutava era o som do cavaquinho tocado pelo menino Miguel Vicente, escolhido para acompanhar a intérprete.
Sem entender nada do que ocorria, o pequeno músico seguiu sua apresentação até que a cantora, na hora do refrão, voltasse a se lembrar da letra.
Numa das tentativas de se explicar pelo fiasco, Ludmilla chegou a colocar a culpa no sistema de som.
Uma desculpa esfarrapada, uma vez que o instrumento de corda, muito menos potente que a voz dela, podia ser ouvido o tempo todo.
O vídeo com a performance desastrada de Ludmilla em segundos viralizou nas redes sociais e uma enxurrada de críticas atingiu a imagem da cantora.
O que mais se questionava era a falta de profissionalismo dela por não ter-se preparado adequadamente para tão nobre e importante missão.
Nos Estados Unidos, por exemplo, é uma grande glória ser escolhido como intérprete do hino nacional nos eventos esportivos.
Os principais astros do país fazem fila para conquistar, pelo menos uma vez na vida, essa oportunidade.
Os ensaios antes da apresentação são mais que obrigação, são uma garantia de que nada vai dar errado num momento tão solene quando todos estão focados no sentimento de patriotismo que se desperta naqueles instantes.
Infelizmente, em terras tupiniquins, a importância da missão dada a Ludmilla parece não ter sido bem compreendida pela cantora.
Ela acreditou que seus parcos conhecimentos sobre o Hino Nacional seriam suficientes para garantir o sucesso da apresentação. Não foi e não havia plano B. Resultado: mais um caso explícito de vergonha nacional exibida, ao vivo, para todo o planeta.
Ludmilla não é a única culpada por essa falha bizarra. Boa parte desse problema começa nos bancos escolares.
Desde o fim das aulas de Educação Moral e Cívica, em 1993, muitas escolas deixaram sequer de ensinar a importância dos símbolos nacionais para os alunos.
Se nem o Hino Nacional é amplamente conhecido, quem dirá o da República ou o da Independência.
O significado do Brasão Nacional então, desapareceu com o tempo, ninguém mais sabe.
A própria bandeira nacional, vira e mexe, é desrespeitada. Não são poucos os protestos em que ela é pisada, rasgada e até queimada.
Resgatar o patriotismo contido em nossos principais símbolos nacionais é uma missão para hoje.
Quanto maior for o número de estudantes que deixem as escolas sem saber a importância desses elementos, mais difícil vai ser, lá na frente, recuperar essa falha na formação de nossos cidadãos.
A cantora Ludmilla é apenas um exemplo desse desordenamento que se criou na educação.
Muitas vezes parece ser vergonhoso, aqui no país, defender a Pátria. Esse sentimento deve mudar. O Brasil é um só e de todos e todos devem saber respeitá-lo e admirá-lo.
Que os fatos ocorridos durante o Grande Prêmio em Interlagos, apesar de vergonhosos, sirvam de lição.
Não só para melhorar o profissionalismo da cantora contratada e dos intérpretes que futuramente venham a receber a mesma função, mas também para alertar a sociedade da necessidade urgente de se incentivar o aprendizado de nossos símbolos nacionais nas escolas.
Semana que vem, no dia 15, já tem a comemoração da Proclamação da República, uma boa data para mostrar ao mundo que aprendemos mais essa lição.