Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

Transições inevitáveis

Captar essas prioridades urgentes se torna um diferencial para governantes e administradores em geral

11 de Outubro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Desaparecimento do gelo do Ártico é um dos sinais de que planeta pode ter superado um ponto de inflexão para um aquecimento global irreversível
Desaparecimento do gelo do Ártico é um dos sinais de que planeta pode ter superado um ponto de inflexão para um aquecimento global irreversível (Crédito: Jonathan Nackstrand/ AFP (16/08/2019) )

Não há como negar que o Brasil e o mundo vivem os efeitos de mudanças climáticas. O noticiário recente traz fatos importantes que nos alertam sobre essas transformações: o registro de recordes diários no aquecimento global e o derretimento de geleiras, por exemplo.

As mudanças climáticas são decorrentes do desrespeito da civilização à natureza, que se agravou nas últimas décadas. Desmatamento, emissão maciça de dióxido de carbono na atmosfera por indústrias e veículos, poluição do solo e água, enfim o uso desenfreado de recursos naturais para produção de energia e bens de consumo cobram agora o preço pela agressão ao meio ambiente.

O El Niño, que já nos acostumamos a ouvir falar no noticiário, é um fenômeno que se caracteriza pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico na sua parte equatorial, que ocorre em intervalos irregulares de cinco a sete anos e tem duração média que varia entre um ano a um ano e meio. Especialistas explicam que houve modificação do padrão de circulação atmosférica sobre o Pacífico e o El Niño alterou a distribuição de umidade e das temperaturas em várias regiões do planeta.

Ou seja, não é novidade, que o aquecimento global -- devido às intervenções do homem na natureza, que começaram há séculos e se intensificaram velozmente no final do século 20 e início do século 21 -- vem provocando o desequilíbrio de todo um sistema que antes se pensava que permaneceria intacto.

Os efeitos do clima estão sendo extremos no Brasil atualmente, informam os jornais. Há chuvas intensas e volumosas na região Sul e secas prolongadas nas regiões Norte e Nordeste. É mais uma vez a consequência do já conhecido El Niño.

No Rio Grande do Sul, o Lago Guaíba, em Porto Alegre, subiu mais de 3 metros e transbordou, alagando ruas e avenidas no final de setembro. A prefeitura precisou fechar comportas e reforçar a contenção das águas com sacos de areia. Mesmo assim não foi possível evitar inundações de casas, como aconteceram em outras regiões do Estado no mesmo mês e que deixaram mais de 50 mortos. Para outubro, novembro e dezembro, a tendência de chuva acima do normal permanece na região.

Por outro lado, no Amazonas, os rios se afastaram de suas margens deixando a população sem transporte e abastecimento por meio fluvial, tão necessários às populações ribeirinhas.

De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), com base na quantidade de chuvas observadas nos meses de setembro e outubro de 2015, quando foi registrado um El Niño de grande intensidade, o número de municípios do norte do País que devem sofrer com seca neste ano de 2023 tende a ser maior -- pelo menos 34% a mais que há oito anos. O Cemaden é um núcleo responsável pela prevenção e gerenciamento da atuação governamental perante eventuais desastres naturais ocorridos em território brasileiro.

As mudanças climáticas se tornaram mais preocupantes e vão exigir adaptações, capacidade de organização e planejamento do ser humano. A produção de alimentos e o abastecimento de água, que são afetados diretamente pelo ciclo das chuvas e variação de temperaturas, têm prioridade nessa nova era. Mas outros cuidados e desafios se apresentam, como critérios rígidos para crescimento das cidades, respeitando mananciais, áreas verdes e a própria população economicamente desprotegida, que se arrisca a habitar terrenos sujeitos a inundações e deslizamentos.

O envolvimento de crianças e jovens em questões ambientais começa a ser visto não mais como algo incipiente e voltado exclusivamente para o futuro. As preocupações, de fato, estão vinculadas ao presente. A participação em ensinamentos simples como a dos “três erres” (reduzir, reciclar e reutilizar) deixa evidente a visão mais ampla das novas gerações.

Captar essas prioridades urgentes se torna um diferencial para governantes e administradores em geral. A falta de uma consciência nesse sentido pode, agora, não significar muita coisa, mas a realidade nos próximos anos com certeza mostrará o resultado para aqueles que não fizeram a lição de casa enquanto outros se prepararam com louvor para a prova que valerá muitas vidas.