Editorial
Brincadeira tem limites
Os gestos podem ser tipificados como crime de ato obsceno -- manifestação de cunho sexual em local público ou aberto ao público
Milhares de famílias comemoram, todos os anos, a formatura de seus filhos.
É uma solenidade formal, nobre, que exige, na maioria das vezes, beca e capelo.
Todos se preparam com a melhor roupa, maquiagem e enchem-se de orgulho para aplaudir aqueles que conseguiram concluir mais uma etapa da vida acadêmica.
Para muitas famílias, esse é um momento ímpar, de luta e de conquista.
O encerramento de um ciclo que coroa anos e mais anos de estudo e dedicação.
Pais e mães, quase sempre, precisam sacrificar o orçamento da casa para custear os sonhos dos filhos.
Fazer um curso superior no Brasil não é tarefa fácil, segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); só um quinto de nossos jovens consegue concluir uma faculdade ou universidade.
Só que nem sempre essa elite estudantil tem noção da importância que ela representa para o país.
São esses universitários que garantirão o futuro e o desenvolvimento da nação.
As novas gerações dependem do sucesso das gerações que as antecederam.
É assim no Brasil e no mundo todo!
Diante disso, chega a causar revolta a atitude de alguns estudantes do curso de medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa).
Em vídeo, gravado em abril, disseminado na internet e nas redes sociais, um grupo de universitários decide ficar nu e apelar para atitudes e gestos obscenos durante uma partida de vôlei feminino em um campeonato realizado na cidade São Carlos.
O motivo de tamanho descalabro teria sido a comemoração de uma vitória da equipe para a qual torciam.
Após a exibição das imagens nas redes sociais, os alunos sofreram várias críticas, e, a Unisa, em nota, considerou a atitude como “execrável” e decidiu agir rapidamente.
Na noite de segunda-feira, 18, a universidade optou por expulsar os alunos da instituição.
O número de punidos não foi informado, o que se sabe é que eles faziam parte da equipe de futsal da universidade.
As cenas chocantes viraram também caso de polícia.
O episódio está sendo investigado e pode render até a condenação e a prisão dos envolvidos.
Os gestos podem ser tipificados como crime de ato obsceno -- manifestação de cunho sexual em local público ou aberto ao público, capaz de ofender o pudor médio da sociedade --, conforme o artigo 233 do Código Penal.
O caso motivou reação de órgãos do governo, como o Ministério da Educação e o Ministério das Mulheres.
Em publicação nas redes sociais, a pasta, que representa as mulheres, repudiou o comportamento dos estudantes.
“Romper séculos de uma cultura misógina é uma tarefa constante que exige um olhar atento para todos os tipos de violências de gênero. Atitudes como a dos alunos de Medicina, da Unisa, jamais podem ser normalizadas -- elas devem ser combatidas com o rigor da lei”.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) também divulgou nota classificando as cenas como “absurdas” e pedindo a responsabilização dos estudantes.
As atitudes irresponsáveis desses alunos ultrapassam o ato em si.
Além de condenar carreiras que poderiam ter sido brilhantes, no campo da medicina, eles conseguiram destruir os sonhos de suas próprias famílias e conspurcar os sobrenomes que carregam.
Ao desrespeitar as mulheres, suas futuras colegas de profissão, esses estudantes mostraram não ter a capacidade de conviver na sociedade do século 21.
Faltam-lhes empatia e inteligência emocional!
O pior, de toda essa história, é saber que outros tantos vídeos, talvez mais deploráveis ainda, possam estar escondidos nas memórias dos celulares de nossos universitários.
É hora dessa elite estudantil entender seu vital papel na sociedade e agir como adultos, na construção de um país melhor.