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Editorial

Reeleição em risco

Biden tenta manter forte sua intenção de se candidatar a mais um mandato

16 de Setembro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Joe Biden, presidente dos EUA
Joe Biden, presidente dos EUA (Crédito: SAUL LOEB / AFP)

Faltando pouco mais de um ano para as eleições norte-americanas, o presidente atual, Joe Biden, enfrenta uma série de provações.

Com a popularidade em baixa e a economia patinando, o democrata tem pouco a oferecer para os eleitores do país.

No campo internacional, o avanço de uma aliança entre China e Rússia ameaça a hegemonia dos Estados Unidos na diplomacia global.

Para piorar, o filho de Biden, Hunter, continua aprontando das suas e agora corre o risco de ser condenado à prisão.

Alguns analistas políticos, um pouco mais radicais, já defendem que o atual presidente deixe de concorrer no próximo pleito.

Para tornar a situação de Biden ainda mais desconfortável, o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, autorizou, na terça-feira, 12, a abertura de uma investigação que pode levar até ao impeachment do presidente.

O argumento dos republicanos é de que a Constituição dos Estados Unidos possibilita que o Congresso possa destituir o presidente em caso de "traição, suborno e outros crimes e delitos graves".

O foco da investigação é a participação de Hunter Biden, filho mais novo do presidente, em uma série de negócios escusos principalmente com a Ucrânia.

Os republicanos garantem ter "identificado acusações sérias e críveis sobre a conduta do presidente Biden" na tentativa de acobertar os malfeitos do caçula e acusam o presidente de promover a "cultura de corrupção".

Para os republicanos, Biden "mentiu para o povo americano sobre o que sabia a respeito dos negócios de sua família no exterior".

A chance de o impeachment prosperar é mínima, mas o que interessa para a oposição é investigar a fundo os negócios da família do presidente e, com isso, conseguir munição para atacá-lo durante a campanha eleitoral.

Hunter Biden, de 53 anos, virou o alvo preferido da direita americana.

Contra ele, existem várias suspeitas de ter realizado acordos questionáveis na Ucrânia e na China enquanto o pai era vice-presidente de Barack Obama (2009-2017).

Hunter teria se aproveitado dos contatos obtidos na Casa Branca e do nome de seu pai para fechar acordos milionários.

Publicamente, Biden fez questão de apoiar o filho, que tem um histórico de dependência de drogas e problemas com a Justiça.

Na quinta-feira, 14, Hunter foi indiciado pela justiça norte-americana pela compra de uma arma de fogo cinco anos atrás, numa época em que ele era usuário frequente de drogas.

Ele é alvo de duas acusações de falso testemunho por ter informado em formulários que não estava usando drogas ilegalmente na época em que comprou um revólver.

Se for condenado, pode pegar até 10 anos de prisão.

Além dos problemas domésticos, Joe Biden enfrenta ainda greves em setores sensíveis da economia americana.

Há meses os roteiristas da indústria de entretenimento e os atores estão em greve.

Esse movimento, sem data para acabar, já causou bilhões de dólares de prejuízo para os estúdios e plataformas digitais, dinheiro que faz falta para a receita do país.

Como se isso não bastasse, na quinta-feira, 14, o sindicato de três grandes montadoras americanas iniciou uma greve simultânea em três fábricas dos Estados Unidos.

Os trabalhadores exigem aumentos salariais.

A greve vai prejudicar a produção de veículos nas unidades da General Motors, da Ford e da Stellantis.

Cerca de 146 mil funcionários trabalham nessas unidades que tiveram as atividades suspensas pelo movimento.

Se a greve se prolongar, o impacto dela poderia ter consequências políticas para Biden, cuja gestão na economia recebe críticas, sobretudo, pela inflação persistente.

Biden já deu declarações apoiando o movimento grevista, mas sabe que caminha sobre um terreno perigoso e que deve se esforçar em manter o equilíbrio entre o apoio expresso aos sindicatos e o temor sobre as consequências dessa greve para a economia americana.

Diante desse emaranhado de problemas, Biden tenta manter forte sua intenção de candidatar-se a mais um mandato.

A dúvida sobre sua capacidade de voltar a derrotar os republicanos no ano que vem é crescente.

Nos bastidores, busca-se por um nome que possa fortalecer as chances do partido.

A vice-presidente, Kamala Harris, considerada, no passado, sucessora natural de Biden, decepcionou por seu fraco desempenho e perdeu espaço no cenário eleitoral.

A chance de Biden reeleger-se está na recuperação da economia americana e na capacidade dos Estados Unidos de se tornarem, novamente, relevantes no campo da diplomacia.

Uma aposta difícil de se fazer.