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Editorial

Cautela na proteção da galinha dos ovos de ouro

A busca mundial por alimentos faz com que a safra brasileira seja cobiçada por muitos

19 de Agosto de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Cinco Estados já iniciaram a retirada da soja do campo: Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul
Cinco Estados já iniciaram a retirada da soja do campo: Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul (Crédito: IVAN BUENO / AGÊNCIA PARANÁ)

Sem data para acabar, a invasão russa à Ucrânia tem preocupado os governantes de todo o planeta.

Os dois países são importantes produtores de grãos e a dificuldade tanto de produzir como de escoar as safras mexe com os preços internacionais dos alimentos.

Com a comida mais cara, as populações dos países mais pobres acabam sofrendo mais.
Vários organismos internacionais monitoram, constantemente, a produção agrícola global na tentativa de equalizar melhor a distribuição de alimentos pelo planeta.

Outra preocupação são as medidas protetivas que alguns países têm adotado para evitar a escassez interna de alimentos. Índia, Tailândia e China, os maiores produtores mundiais de arroz, anunciaram redução nas exportações e até mesmo a proibição da venda do grão para outras nações. Isso fez com que o preço subisse consideravelmente no mercado internacional.

Na temporada 2023/2024, o planeta deve produzir 2,294 bilhões de toneladas. Esse número, divulgado agora em agosto, é um pouco menor que o resultado de julho. Problemas na produção de cevada e de aveia reduziram as projeções.

Mesmo que essa redução seja confirmada, o volume total da produção ainda seria 1,3% maior do que o colhido na safra 2022/2023. O problema é que a estimativa para o consumo mundial de grãos também subiu, o que pode dificultar a manutenção de estoques globais que possam ajudar na retenção dos preços.

Aqui no Brasil a situação é um pouco mais confortável. Terminamos a última safra com uma produção de grãos na casa dos 320 milhões de toneladas, um aumento de mais de 17% em comparação com o período anterior. Os dados são da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab.

Segundo a estatal, esse feito só foi possível graças à combinação entre o aumento de área de cultivo e à melhora na produtividade das lavouras. Enquanto a área plantada apresentou alta de 5% em relação a 2021/2022, a produtividade média deve registrar um incremento de quase 12%.

Dos itens produzidos em solo brasileiro, a Conab destacou o avanço da colheita da segunda safra do milho. Esse plantio, considerado bastante arriscado por muitos, vem-se tornando o grande diferencial da agricultura brasileira e hoje já atinge cerca de 64% da área plantada.

Foi a aposta no milho safrinha que revolucionou a produção brasileira e permitiu esse fantástico salto na produção agrícola.

Só que a agricultura não para. É preciso investir constantemente em planejamento e em tecnologia. Mal uma safra deixa o campo e o cultivo seguinte já começa a ser preparado. Qualquer descuido pode levar o país a ter um prejuízo de bilhões de reais.

Pensando nisso, os agricultores brasileiros já estão preocupados com o plantio da soja. O grosso desse trabalho deve começar no final de setembro e início de outubro, mas há algumas limitações que precisam ser resolvidas.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, informou que a pasta está atenta a esses problemas e já busca adotar medidas que possibilitem ajustar as particularidades do calendário de plantio de soja em cada um dos Estados brasileiros.

Os produtores do Sul, por exemplo, solicitaram ao ministério a extensão da janela de semeadura da oleaginosa. Já Mato Grosso pediu a antecipação do calendário, permitindo que as máquinas vão mais cedo para o campo.

Uma das preocupações é que o El Niño possa alterar o regime de chuvas, antecipando para o mês que vem a umidade necessária para o cultivo da soja. Perder esse momento poderia significar prejuízo.

O ministro defendeu que todas as medidas e decisões a respeito do calendário da temporada de soja seja decidido com base na ciência e na tecnologia.

“Não podemos criar ampla data de plantio de soja que se torne incentivo para crime sanitário, como, por exemplo, plantar soja sobre soja”, diz o ministro. A ideia é garantir um vazio sanitário que seja suficiente para impedir a entrada de doenças nas plantações e a queda da produtividade. Vale lembrar que é vital proteger a terra com um bom período de descanso.

A busca mundial por alimentos faz com que a safra brasileira seja cobiçada por muitos. É necessário cuidar bem dela para que o nosso trunfo não seja desperdiçado. A ganância não pode prevalecer sobre a prudência. Matar a galinha dos ovos de ouro é a pior decisão que o país pode tomar nos tempos atuais.