Editorial
O brasileiro está nu
O recado das urnas foi claro. Mesmo assim os políticos que comandavam o País na época decidiram desprezar a voz do povo
A língua inglesa é uma das mais utilizadas no mundo para a comunicação entre os povos. Esse mérito foi conquistado através dos séculos por causa da importância que o Império Britânico teve na história recente da humanidade. Depois disso, os Estados Unidos, que foi colônia inglesa, assumiram papel dominante nas relações internacionais tanto por seu poderio militar como pelo econômico. A soma dessas duas realidades acabou fazendo com que a língua falada e escrita por essas duas nações se difundisse por todos os cantos da Terra.
O inglês possui um dos mais extensos vocabulários entre os idiomas praticados pela sociedade moderna. Mesmo assim, algumas palavras são tão importantes para eles que foram utilizadas com mais de um sentido e, em muitos casos, com uma profunda relação. É o caso da palavra “naked”. Seu sentido original é nu, pelado, sem roupa. Mas esse mesmo substantivo pode ser usado para identificar alguém desarmado, sem a proteção de uma arma. Em alguns casos na literatura inglesa, a utilização dessa palavra criou mistérios até hoje não desvendados pelos estudiosos do idioma.
O grande escritor inglês William Shakespeare, numa de suas obras, conta que um grupo de homens, depois de derrotado e aprisionado, foi abandonado “naked” numa ilha. Nunca se descobriu o real sentido desse termo utilizado por ele. Se os homens estavam literalmente nus ou somente desarmados.
Isso mostra a importância da posse de uma arma de fogo para muitas civilizações. Nos Estados Unidos, por exemplo, o direito à aquisição de armas é cláusula pétrea da Constituição. Nenhum presidente, até hoje, teve força ou capacidade política para reverter a força dessa regra.
Aqui, no Brasil, em 2005, época da elaboração do Estatuto do Desarmamento, foi necessário que se fizesse um referendo consultando a população sobre o artigo 35 da lei. Ele dizia que “É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6º desta Lei”. O tema foi a votação e, contrariando a expectativa dos pseudo desarmamentistas, foi recusado pela grande maioria dos brasileiros. Foram 65% dos votos contra essa regra e 36% a favor.
O recado das urnas foi claro. Mesmo assim os políticos que comandavam o País na época decidiram desprezar a voz do povo e impor restrições cada vez mais severas ao uso e aquisição de armas pela população. Ao mesmo tempo, com o cidadão de bem desarmado, as organizações criminosas ganharam força munidas de armas ilegais muito mais poderosas que as que estavam em posse das forças policiais.
A reversão dessa catástrofe social começou a ser consertada em 2019. O cidadão teve de volta o direito de ser proprietário de uma arma de fogo para se proteger. Os regulamentos implantados provocaram uma queda significativa no número de crimes e de mortes no País. A violência caiu e boa parte da população, principalmente quem vive na área rural, se sentiu cada vez mais protegida.
Terminado esse período, o que assistimos é um desmonte de todos os avanços obtidos durante os quatro anos do governo anterior. As regras que permitiam a proteção da população estão sendo derrubadas uma a uma pelo presidente Lula e por seus aliados. Caçadores e atiradores esportivos viraram alvo do governo que busca, a todo custo, desarmar a população de bem.
Enquanto isso, nas comunidades mais pobres e dominadas por bandidos e traficantes, o que se vê é um aumento da quantidade de armas de todos os calibres. As imagens que circulam pelas redes sociais são assustadoras. São festas e mais festas regadas a rajadas de metralhadores e disparos de pistolas automáticas e fuzis de assalto.
A desculpa usada pela esquerda para justificar o avanço do desarmamento do cidadão de bem não para em pé. Vários estudos já demonstraram que a esmagadora maioria dos crimes é praticada por pessoas de posse de armas adquiridas ilicitamente. Uma fração mínima desses crimes é que vem de armas compradas legalmente e que depois acabam na mão dos bandidos. Como explica o jurista Fabrício Rebelo, sempre que o debate sobre a circulação de armas é retomado no Brasil, o segmento desarmamentista verdadeiramente “requenta” seu rol de argumentos contra o acesso do cidadão aos meios efetivos de autodefesa, proclamando, como se dogmas fossem, as mais absurdas hipóteses para justificar sua posição, pouco (ou nada) importando que não resistam à mais básica revisão científica.
Caminhamos, mais uma vez, a passos largos para uma realidade de que todos seremos transformados em vítimas. Aos poucos estaremos encurralados em nossas casas assistindo à ação dominante dos bandidos. E nem teremos como reagir. Estaremos “naked” à espera do pior.