Editorial
Um gesto de solidariedade que pode salvar vidas
Cada doação voluntária pode salvar a vida de até quatro pessoas e é preciso criar, na população, o hábito de doar
A manchete da edição de terça-feira, 25, do jornal Cruzeiro do Sul estampou uma notícia bastante importante, que nem sempre está no radar da população: o estoque de sangue disponível no sistema público de saúde. A maioria só se lembra da existência desse tipo de serviço quando se depara com a necessidade urgente de um parente ou amigo precisar de uma transfusão depois de um acidente ou de uma operação mais séria. Aí é aquele corre-corre danado para buscar doadores que ajudem a resolver a escassez do material.
A boa notícia, destacada pelo jornal, é que desta vez os estoques do Hemonúcleo da Associação Beneficente de Coleta de Sangue de Sorocaba (Colsan) se mantiveram em níveis confortáveis apesar da chegada do período mais frio do ano, época em que as doações minguam. Este ano, a situação não se repetiu graças a mutirões organizados por diferentes grupos que acabaram suprindo a ausência dos tradicionais doadores. Duas dessas iniciativas foram realizadas por funcionários de uma empresa de Itu e por alunos de uma escola de Sorocaba. Esse tipo de atitude deve ser cada vez mais presente na sociedade, resolvendo, de vez, um problema corriqueiro em quase todas as cidades brasileiras e que acaba pondo vidas em risco.
Doar sangue precisa ser um ato de amor e de solidariedade. Cada doação voluntária pode salvar a vida de até quatro pessoas e é preciso criar, na população, o hábito de doar. Mais do que isso, doar não pode ser um falso artifício para escapar de um dia de trabalho. Infelizmente, muitas vezes, pessoas se aproveitam das estruturas dos hemonúcleos para criar álibis que justifiquem uma ausência na empresa. Há vários relatos de pseudo cidadãos que, após exagerarem na farra do fim-de-semana, se apresentam para doar sangue na segunda-feira só para garantir um atestado que os libere de suas atividades. Esse tipo de atitude, além de deturpar o propósito da doação, só causa prejuízo aos cofres públicos uma vez que, depois de analisado, o material terá que ser descartado por falta de condições de uso. A doação deve ser consciente e dentro das regras.
Atualmente, no Brasil, são coletadas cerca de 3,6 milhões de bolsas/ano, o que corresponde ao índice de 1,8% da população doando sangue. Embora o percentual esteja dentro dos parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Ministério da Saúde trabalha para aumentar este índice. Para facilitar que se atinja essa meta, foi reduzida a idade mínima para doação de 18 para 16 anos, desde que haja autorização dos pais ou responsáveis. Outra medida tomada foi aumentar de 67 para 69 anos a idade máxima para doação de sangue no País.
Alguns Estados como São Paulo e o Distrito Federal fornecem vantagens extras para os doadores regulares de sangue. Foram criadas leis que isentam da taxa de inscrição os doadores de sangue que quiserem prestar concursos públicos realizados pela administração direta, indireta, fundações públicas e universidades públicas do Estado.
Só que a doação de sangue não deve pressupor vantagens e sim se transformar num ato de solidariedade e de amor ao próximo. A importante despertar essa consciência principalmente naquela parcela da população que é portadora dos tipos sanguíneos mais raros e difíceis de se encontrar, como o O+ e o O-. Graças ao esforço dos mutirões realizados nas últimas semanas, em Sorocaba, nem mesmo esses tipos estão em falta.
De acordo com o gerente médico do Hemonúcleo, Frederico Brandão, Sorocaba conseguiu manter o volume necessário de sangue graças a campanhas como o Junho Vermelho, que exerceu importante papel no incentivo à doação. São ações como essa que motivam diversos grupos, organizados ou não, a contribuir com a unidade e garantir a manutenção dos estoques.
Esse tipo de campanha não deve se restringir a um único mês do ano. É importante que o trabalho de conscientização se alastre por todas as épocas e produza os resultados necessários para garantir os estoques de sangue sempre em alta.
Para doar, basta o interessado comparecer ao posto de coleta da sua cidade e derramar algumas gotas desse precioso líquido. O médico Frederico Brandão lembra que para ser doador é preciso ter entre 16 e 69 anos, pesar mais de 50 quilos e estar em boas condições de saúde. Se você já teve hepatite, malária, doença de Chagas ou algum outro problema grave de saúde é bom perguntar ao seu médico se você pode ser doador. Mesmo que a medicina não permita a efetividade do seu ato, você pode ajudar convencendo outras pessoas a participar. Só com a união de todos vamos conseguir manter os estoques de sangue em alta para atender quem mais precisa.