Editorial
O Hemisfério Sul em vantagem
A grande maioria dos países do Hemisfério Norte está mais preparada para enfrentar o frio do que o calor
As regiões Sul e Sudeste do Brasil viveram uma semana tensa em termos climáticos. A passagem de uma frente fria, acompanhada de temporais, ventos fortes e do risco de ciclones extratropicais, causou mortes, desabamento de casas e galpões, interrupção no fornecimento de energia e deixou pessoas desalojadas e desabrigadas.
Os alertas feitos pela Defesa Civil acabaram não se concretizando, na maioria dos municípios, e o País atravessou esse fenômeno climático, em pleno inverno, sem grandes traumas. Situação diferente da provocada pelo excesso de chuvas registrado em janeiro, principalmente nas áreas litorâneas.
Enquanto o Hemisfério Sul tem enfrentado bem as mudanças climáticas, o Norte, em pleno verão, tem sofrido mais.
A estação mais quente do ano mal começou no hemisfério e já estão sendo registradas intensas ondas de calor que se espalham da Europa até a China. Nos Estados Unidos, a previsão é de temperaturas recordes neste fim de semana. A situação deve ser mais grave no Texas, no Arizona, em Nevada e na Califórnia, regiões que podem enfrentar condições potencialmente perigosas nos próximos dias. O México já registrou dezenas de mortes por conta do calor.
Na Europa, Itália, Espanha, Alemanha e Polônia também enfrentam temperaturas escaldantes. Os termômetros podem chegar aos 48ºC nas ilhas da Sicília e da Sardenha. E se isso se confirmar, serão “potencialmente as temperaturas mais altas já registradas na Europa”, segundo a Agência Espacial Europeia (ESA).
O norte da África também sufoca. Marrocos sofre com episódios de calor extremo desde o início do verão e um alerta vermelho de calor foi emitido para várias províncias do sul do país.
Algumas regiões da China, entre elas onde está Pequim, também sofrem com os efeitos de uma forte onda de calor. A nível mundial, o último mês de junho foi considerado o mais quente já registrado, de acordo com a agência europeia Copernicus e a americana Nasa.
A grande maioria dos países do Hemisfério Norte está mais preparada para enfrentar o frio do que o calor. As temperaturas elevadas potencializam os riscos à saúde de uma boa parte da população, principalmente os mais idosos. Mortes por insolação e por desidratação são frequentemente registradas. O aumento nas tarifas de energia elétrica, por conta da invasão da Rússia à Ucrânia, também complica a situação. Muitas famílias não têm dinheiro para arcar com o valor necessário par custear a refrigeração de casas, de apartamentos e de pequenos estabelecimentos comerciais. Quem vive da aposentadoria, sofre ainda mais.
É por esse motivo que o risco de uma mudança climática rápida demais assusta tanto os moradores do Hemisfério Norte. Controlar a temperatura do planeta virou obsessão. A pressão sobre os governantes aumenta a cada dia. Nesse cenário surgem ideias, cada vez mais mirabolantes e inexequíveis, para solucionar o problema. Só que nem sempre a situação é vista de uma forma macro, levando em consideração as causas e os efeitos de cada medida.
É claro que todos queremos viver num mundo onde seja possível poluir cada vez menos, produzir alimentos saudáveis sem o uso de agrotóxicos e utilizar apenas energia limpa. Infelizmente, para implementar esse sonho, existe um custo que a maioria não está disposta e nem tem como pagar. Até que essa equação se resolva vai ser necessária muita negociação entre os países.
De olho nesse cenário, representantes da América Latina e da União Europeia estão reunidos em Bruxelas, na Bélgica, para a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) com a União Europeia. Os líderes desses países buscam uma solução conjunta para minimizar os efeitos do aquecimento global. A saída passa sempre pelo financiamento de projetos sustentáveis que permitam produzir num ambiente mais saudável e garantir a preservação de áreas de mata e de floresta que ainda não foram tocadas pelo homem. O Hemisfério Sul leva vantagem. As nações da região têm muito a oferecer para o planeta. Só resta saber se os vizinhos do Norte, que já produziram a maior parte da destruição global, estão dispostos a pagar o preço que a salvação do planeta realmente vale. Na dúvida, basta abrir a janela e deixar a onda de calor entrar.