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Editorial

Freio de arrumação

A expectativa para a taxa Selic, até o final do ano, ficou estável com uma mediana na casa dos 12%

10 de Julho de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Depois de uma semana movimentada, agora Congresso dá uma esvaziada
Depois de uma semana movimentada, agora Congresso dá uma esvaziada (Crédito: © Edilson Rodrigues / Agência Senado)

Depois de uma semana tumultuada, onde a pauta econômica tomou conta dos debates no Câmara dos Deputados, a expectativa para os próximos dias é de calmaria. É tempo de analisar o que foi e o que não foi aprovado e tentar traçar um cenário ajustado para o resto do ano.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, depois de entregar a votação da Reforma Tributária e do Carf para o governo, decidiu tirar férias no Caribe junto com a família. No roteiro do cruzeiro está uma paradinha na ilha do cantor Wesley Safadão.

Enquanto isso, o mercado busca entender o que vem pela frente. O arcabouço fiscal, modificado no Senado, só deve ser apreciado pelo plenário da Câmara em agosto. Sem esse instrumento definido, fica difícil para o Governo estipular como vai ser o orçamento de 2024, peça chave para o rumo da economia brasileira.

Diante de tanta incerteza, os analistas econômicos não estão muito otimistas com relação à queda de juros. Segundo o Boletim Focus, divulgado nesta segunda, 10, pelo Banco Central, após um leve recuo na semana passada, a expectativa para a taxa Selic, até o final do ano, ficou estável com uma mediana na casa dos 12%. Para o término de 2024 também se manteve, em 9,5%. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano. Esse número deve começar a ser reduzido na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para agosto.

Na ata do Copom de junho, o BC expôs que a maioria do colegiado já vê condições para uma queda de juros na próxima reunião se o processo de redução da inflação e de reancoragem de expectativas continuar. Qualquer nova solução, como mudanças drásticas no arcabouço fiscal, pode complicar esse cenário.

Enquanto essa data não chega, alguns movimentos buscam de forma artificial, protestar contra os juros altos. Mesmo sabendo que nada deve ocorrer antes da próxima reunião, esses grupos tentam criar um espírito de animosidade contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Esses grupos, formados em sua maioria por apoiadores do presidente Lula, exigem também reajustes salariais para várias categorias de trabalhadores. Eles só esquecem que a queda dos juros depende do controle da inflação e do corte de gastos públicos. Sem essas duas medidas, tomadas de forma concatenada, fica difícil apostar numa queda significativa da Selic. Quem entende do riscado, sabe disso. O restante só tenta jogar para a torcida.

O Boletim Focus aponta também para uma estimativa para o câmbio, até o fim do ano, na casa dos R$ 5,00. Para 2024, a mediana passou de R$ 5,08 para R$ 5,06. Essa mudança de rota no valor do dólar é importante para quem importa produtos do exterior, mas não ajuda muito as exportações brasileiras. O agronegócio, por exemplo, pode sofrer uma sensível queda de receita diante dessas projeções. O mesmo vale para outras commodities como o minério de ferro.

Além de todas essas variáveis internas, a disputa territorial entre Rússia e Ucrânia ainda deve demandar uma série de cuidados. A notícia que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decidiu incluir um lote de bombas de fragmentação na ajuda bélica a ser enviada para a Ucrânia, aumentou a tensão na Europa. Os russos não gostaram nada dessa medida e prometem retaliações severas se o armamento chegar a ser utilizado. Outros países ligados à Otan também demonstraram uma certa preocupação com a atitude unilateral do presidente americano. Esse movimento ocorre justamente na época em que a renovação do acordo que libera a exportação de grãos da Ucrânia está em andamento e com sérias resistências por parte de Putin. Essa manobra americana, pode custar um aumento na inflação global dos alimentos, afetando, inclusive, o Brasil.

Com o Congresso e o Supremo em recesso, as próximas semanas, se nada sair do script, devem ser suficientes para que o País tenha uma melhor visão do quadro econômico em que se encontra. A única certeza que se tem, até agora, é que ainda falta muito a caminhar para se chegar a um crescimento do PIB suficiente para gerar mais empregos do que demissões, garantindo uma vida melhor para todos os cidadãos que aqui vivem.

Enquanto essa hora não chega, lá no Caribe, o presidente da Câmara, curte as músicas do Safadão. Principalmente aquela que diz: “Você não merece 1% do amor que eu te dei. Jogou nossa história em um poço sem fundo. Destruiu os sonhos que um dia eu sonhei. Quer saber? Palmas pra você! Você merece o título de pior do mundo.”