Editorial
O Brasil e a Revolução de 32
Temos de honrar o sangue derramado por nossos antepassados

São Paulo sempre teve papel de destaque na luta pela democracia e pela liberdade. Foi aqui, nas margens do Ipiranga, que D. Pedro I proclamou a nossa independência de Portugal. Foi em Itu, que os ideais que resultaram na proclamação da República ganharam seus primeiros contornos. A capital do Estado foi palco dos maiores comícios para a retomada das eleições diretas na década de 1980. Os paulistas sempre estiveram à frente de todas essas lutas e nunca se curvaram diante de tiranos que buscaram tirar o País dos trilhos.
Hoje, 9 de julho, também é uma data importante na história de São Paulo. Completamos, neste domingo, 91 anos da Revolução Constitucionalista de 1932. O movimento foi uma resposta dos paulistas ao autoritarismo iniciado no golpe de 1930, que deu início à era de Getúlio Vargas. Uma ditadura que gerou efeitos nefastos que podem ser observados até os dias atuais.
A data é tão marcante para os paulistas que desde 5 de março de 1997 virou feriado estadual. É importante lembrar que o 9 de julho remete a um ideal de liberdade e de imposição da vontade do cidadão que sempre pensa no melhor para o Estado.
A revolta paulista tem início em 24 de outubro de 1930. Com a deposição do presidente Washington Luís, foi eleito o paulista de Itapetininga, Júlio Prestes de Albuquerque. Só que a vontade popular não foi respeitada e em 3 de novembro daquele ano, Getúlio Vargas assumiu o chamado Governo Provisório, colocando fim à República Velha, conhecida pela famosa política do café com leite: soberania das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais.
Vargas tomou posse e, depois de retardar a formação de uma Assembleia Constituinte, fechou o Congresso Nacional e nomeou interventores para tomar conta dos Estados. O nome escolhido para administrar São Paulo não agradou em nada a população local. O descontentamento crescia a olhos vistos e um número cada vez maior de manifestações ganhava as ruas. A tensão aumentava dia a dia até que as mortes dos jovens Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo (MMDC), em 23 de maio de 1932, num confronto com forças do Governo Federal, acabou sendo o estopim da revolta paulista. Por meio do MMDC, o movimento paulista conspirou contra Getúlio Vargas. Na noite da sexta-feira, 8 de julho, com os ânimos exaltadíssimos, populares manifestaram-se pela revolução, com a adesão das tropas federais da 2ª Região Militar e da Força Pública.
Em 9 de julho, os revolucionários decidiram pegar em armas e repelir as forças federais. Eram cerca de 35 mil soldados do lado constitucionalista contra 100 mil varguistas.
Aos poucos, São Paulo foi perdendo terreno. Vargas ganhou aliados onde não se esperava e acabou ditando os rumos da Revolução. Em 1º de outubro de 1932, quase três meses após o início do conflito, os paulistas se renderam, pois já não tinham mais homens e mantimentos suficientes para garantir a manutenção das batalhas. Dados oficiais relatam que 934 vidas foram perdidas em combate, mas esse número pode ser bem maior e ultrapassar a marca de 2 mil. Os líderes da revolução tiveram seus direitos políticos cassados e foram exilados em Portugal. Os restos mortais dos grandes mártires da Revolução Constitucionalista de 1932 descansam, até hoje, no Obelisco Mausoléu no Parque do Ibirapuera.
A aventura paulista em se rebelar contra os malfeitos do Governo Federal virou uma marca de luta para o Estado, que nunca se furtou em apontar os erros e buscar soluções em busca de um país melhor. Mesmo derrotados, os paulistas ajudaram a abrir o olho da população brasileira para os exageros de Vargas, obrigando o presidente a repensar parte da sua estratégia.
Mais de nove décadas se passaram. Mesmo agora, no século 21, a voz dos paulistas deve sempre ecoar por todo o País na tentativa de manter a nação unida e impedir que novos arroubos totalitários tentem tirar os direitos e liberdades que conquistamos. Temos de honrar o sangue derramado por nossos antepassados e manter viva a chama de liberdade e de combate às injustiças.