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Editorial

Por trás da máscara

Lula voltou a defender o regime de Maduro. Insistiu na tese que as violações a direitos humanos e restrições à participação política eram uma ‘narrativa‘

30 de Junho de 2023 às 23:03
Cruzeiro do Sul [email protected]
Presidente Lula
Presidente Lula (Crédito: Reprodução)

Aos poucos, a máscara de defensor da democracia do presidente Lula vai se desfazendo. Ao insistir em defender ditadores de esquerda, o presidente brasileiro tem mostrado todo seu apreço aos regimes totalitários e a sua incapacidade de conviver com opiniões divergentes depois que se instala no poder.

Os embates contra a independência do Banco Central têm ficado notórios. Lula, mais de uma vez, incitou o Senado a derrubar Roberto Campos Neto do posto de presidente da instituição. Tudo isso porque o petista não aceita que suas ordens não sejam obedecidas por um simples funcionário público.

Os arroubos esquerdistas de Lula estão ficando cada vez mais patentes. Ao receber, com pompa e circunstância, Nicolás Maduro, o tirano que governa com mão de ferro a Venezuela, o presidente brasileiro colheu mais protestos do que elogios. Os jornais franceses, na semana passada, não pouparam críticas à aproximação de Lula com Maduro. O presidente brasileiro foi chamado de ‘decepção‘, ‘traidor do Ocidente‘, e muito mais.

Mesmo com todos esses alertas, o petista parece ter escolhido o rumo que pretende seguir. E a estrada pretende desviar o caminho do Brasil completamente para a esquerda.

Na abertura do 26º Encontro do Foro de São Paulo, em Brasília, na quinta-feira, 29, Lula fez forte defesa da governança de esquerda, mesmo que com ‘equívocos‘, na comparação com uma gestão comandada pela direita. ‘Nós ficaríamos ofendidos se nos chamassem de nazista, de neofascista, de terrorista, mas de comunista, socialista, nunca‘, disse Lula.

O Foro de São Paulo é uma organização de partidos e entidades de esquerda de países da América Latina e do Caribe fundada pelo presidente Lula e pelo ex-presidente de Cuba Fidel Castro, em 1990. Segundo o documento de criação, a organização busca reunir organizações de esquerda para ‘tratar da defesa da democracia, da integração e soberania dos países latino-americanos e do combate ao imperialismo e ao neoliberalismo‘. Apesar de citar a democracia, esta é uma palavra que vale pouco na boca de muitos dos integrantes desse movimento.

Numa entrevista à Rádio Gaúcha, também na quinta-feira, Lula voltou a defender o regime de Maduro. Insistiu na tese que as violações a direitos humanos e restrições à participação política eram uma ‘narrativa‘. Questionado pelo repórter sobre a falta de democracia da Venezuela, Lula tentou revidar com uma provocação. Que a Rádio Gaúcha enviasse até o país vizinho uma equipe para cobrir as eleições e constatar o nível de liberdade que existe lá. O presidente brasileiro só não tinha sido informado que nas eleições anteriores, o repórter que o questionava não só tinha ido à Venezuela cobrir as eleições como tinha sido preso e ameaçado pelo regime de Maduro. Uma prova cabal que liberdade de imprensa é item raro por lá.

As posições de Lula têm desagradado alguns líderes de países que fazem parte do Mercosul. Dois dos principais temas da agenda do grupo vão ficar de fora das decisões da cúpula de chefes de Estado na próxima semana, em Puerto Iguazú, na Argentina. Um deles, que é muito caro a Lula, é a reintegração da Venezuela ao bloco.

Em agosto de 2017, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai reconheceram a ‘ruptura da ordem democrática‘ e suspenderam formalmente a participação da Venezuela no Mercosul, conforme previsto no Protocolo de Ushuaia. A decisão daquela época deixou expresso que ‘a suspensão cessará quando se verifique o pleno restabelecimento da ordem democrática na República Bolivariana da Venezuela‘. A Venezuela tem agora que cumprir uma série de condições para ter sua participação reativada, entre as quais está a promoção de eleições em igualdade de condições de disputa, entre governo e oposição.

Lula tenta passar pano para o governo Maduro fingindo que o país vizinho vive um regime democrático. Só vai ser difícil convencer as lideranças do Uruguai e do Paraguai a enxergar a situação com a mesma lente vermelha do brasileiro. Além disso o Brasil também tem muito a se explicar com relação ao apoio a outras ditaduras da América Latina, como Cuba e Nicarágua.

De volta à atrapalhada entrevista à Rádio Gaúcha, Lula mostrou realmente o que pensa ao considerar o conceito de democracia como ‘relativo‘. Esse tipo de atitude não só envergonha, mas também assusta, boa parte da população brasileira. Lutamos e votamos pela democracia plena, e não por um conceito subjetivo de liberdade de direitos e de expressão. O Brasil não merece se assemelhar a párias como Cuba, Nicarágua e Venezuela.