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Editorial

Cerco ao carrapato-estrela

A desconfiança é que uma cepa mais potente da bactéria que transmite a febre maculosa esteja circulando pela região

21 de Junho de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Carrapato-estrela transmite a febre maculosa
Carrapato-estrela transmite a febre maculosa (Crédito: Adelcio R Barbosa/Divulgação)

A Prefeitura de Campinas iniciou, ontem (21), um censo da população de capivaras que reside em três parques da cidade. A medida faz parte de um pacote de ações preventivas depois que o município virou manchete nacional. A ideia é combater o carrapato-estrela, que transmite a febre maculosa e se hospeda, normalmente, nas capivaras.

Cinco pessoas morreram e outras quatro foram contaminadas depois de participar de eventos numa propriedade particular da cidade. A Secretaria Estadual de Saúde confirmou, na sexta-feira (16), que uma mulher de 38 anos que esteve em um show do cantor Seu Jorge na Fazenda Santa Margarida, em Campinas, contraiu febre maculosa. Dos casos suspeitos, quatro estão sendo investigados em Santa Isabel, na Região Metropolitana de São Paulo. Duas pessoas estão internadas. Os quatro moradores trabalharam no evento Feijoada do Rosa, realizado na mesma fazenda, no dia 27 de maio. A área da fazenda foi interditada e os eventos suspensos por um período mínimo de 30 dias para que seja feita uma varredura no local em busca de carrapatos. Outros parques de Campinas e de cidades da região também estão sendo monitorados.

Mesmo sem ter registrado nenhum caso suspeito desde 2021, a Prefeitura de Sorocaba decidiu iniciar uma série de medidas com o objetivo de orientar a população e identificar as espécies de carrapatos que estão circulando pelos parques e matas da cidade. Vale ressaltar que a presença de capivaras nas margens do rio Sorocaba tem sido cada vez mais frequente. As equipes da Zoonoses e do Saae começaram os trabalhos de investigação na terça-feira (20). O primeiro local vistoriado foi o Parque das Águas. As ações devem ser contínuas e se estender por outros parques municipais.

Os técnicos da Zoonoses fizeram um outro esclarecimento à população. Os carrapatos presentes em cães são diferentes dos que se hospedam nas capivaras e em outros animais silvestres. “O carrapato de cão é diferente e não transmite doença, então não há risco para a gente, são métodos de prevenção diferentes”, explicou Thais Buti, coordenadora de Vigilância de Zoonoses de Sorocaba, em entrevista ao jornal Cruzeiro do Sul.

Além dessas medidas preventivas, deve ser agendada uma reunião entre representantes dos municípios da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) com o governo estadual para discutir diversos assuntos, entre eles a febre maculosa. “O tema é de interesse da região. Às vezes a capivara sai de Votorantim, vai para Sorocaba, vai para outras cidades, existe esse trânsito de animais sim, então é interessante que haja esse alinhamento com os municípios”, disse Rodrigo Manga, prefeito da cidade e presidente da RMS.

Para o médico Márcio Antônio Moreira Galvão, professor doutor titular aposentado da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e um dos maiores especialistas em febre maculosa no País, a alta letalidade do surto ocorrido em Campinas é preocupante e precisa ser bem investigada. Pelos dados colhidos até agora, os casos relacionados à Fazenda Santa Margarida mostram uma situação fora da curva histórica para o Estado de São Paulo como um todo. A desconfiança é que uma cepa mais potente da bactéria que transmite a febre maculosa esteja circulando pela região. A confirmação dessa hipótese só poderá ser feita com a coleta dos carrapatos para análise. Até lá é preciso investir em prevenção.

Nessa equação, o ciclo de vida do carrapato é relevante. A partir de maio, esses aracnídeos hematófagos entram numa fase intermediária, conhecida como ninfa, em que não é larva nem adulto. É nesse momento em que há maior propensão em transmitir a febre maculosa. Essa fase vai, mais ou menos, até setembro e outubro. É o período mais crítico para pegar a doença no Brasil.

A partir de outubro, quando o carrapato se torna adulto, a picada é mais forte e a pessoa pode sentir a presença dele com mais facilidade. Muitas vezes, é isso que impede a ocorrência da doença, já que não dá tempo de o carrapato transmitir a bactéria.

O importante agora é redobrar os cuidados e evitar as áreas de risco. O contato com a natureza é vital para uma vida saudável, mas é preciso conhecer bem seus desafios e armadilhas.