Editorial
A dança das cadeiras
De confusão em confusão, o Governo patina em diversas áreas. O tempo vai passando e muitos projetos prometidos por Lula ficam empacados
O Governo Lula nem completou seis meses no poder e uma grande reestruturação na Esplanada dos Ministérios já é dada como certa. Alguns nomes escolhidos pelo presidente da República causaram mais desconforto que lucro político e agora podem ser trocados.
A pressão que vem do Congresso Nacional é grande, principalmente da parte do presidente da Câmara, Arthur Lira. Segundo o deputado, se o Governo não oferecer cargos robustos para alguns partidos de Centro e até de direita, vai ser difícil montar uma base sólida para aprovar projetos.
O próprio Lula, dias atrás, deu a senha para os correligionários e apoiadores num evento no ABC. O petista avisou que para governar vai ser preciso conversar com “gente que a gente não gosta”.
Resta saber quem serão os escolhidos para deixar as pastas e o efeito que isso vai provocar, na prática. Quatro nomes despontam nos bastidores como apostas certas para perder a vaguinha. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, encabeça a lista.
Além de ser considerado um dos responsáveis pela falta de articulação e pelas derrotas no Congresso, ele ainda se meteu numa grande confusão ao chamar Brasília de “ilha da fantasia”. A declaração provocou protestos da bancada federal do DF e do governador Ibaneis Rocha, que chegou a chamar o ministro de “idiota”. Costa até pediu desculpas, mas a somatória de erros cometidos até agora o colocaram na alça de mira da reforma ministerial.
Outro nome que segue forte encabeçando a lista dos possíveis demitidos é a ministro do Turismo, Daniela Carneiro. Desde janeiro, o nome dela está envolvido em várias denúncias de improbidade no Rio de Janeiro e de proximidade com integrantes de milícias. O problema é que ela é esposa do prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho Carneiro, um aliado de peso para Lula.
Resta saber se o presidente vai querer comprar essa briga. O próprio líder do governo no Senado, Jaques Wagner, diz que a troca de comando no Ministério do Turismo tem uma “lógica” já que não refletiu em votos do União Brasil. Wagner diz não defender a saída de Daniela do cargo, mas avalia que a iminente troca de partido da ministra justifica a cobrança pela troca na pasta.
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, é mais um cotado para deixar o cargo. Vira e mexe o nome dele está envolvido em denúncias nas manchetes dos principais jornais do País. Desde que usou um avião da FAB para ir a um leilão de cavalos, torrando dinheiro, público, sua posição ficou fragilizada.
Além disso há documentos que indicam a apropriação de verbas do “orçamento secreto” para proveito próprio e a montagem de um gabinete paralelo para distribuição de favores. Mistério é entender como figura tão problemática, ainda não foi dispensada por Lula.
Além desses três nomes, quem também pode se dar mal numa troca de ministros é Renan Filho, dos Transportes. O caso dele é um pouco diferente dos demais e passa por uma briga política em Alagoas. Arthur Lira e Renan Calheiros, pai do ministro, são grandes inimigos e disputam o mesmo território.
Lira gostaria muito de atingir seu desafeto e já mandou vários recados a Lula. O problema é que a família Calheiros tem poder de articulação no Senado, o que pode complicar as coisas para o presidente da República.
Nos últimos dias, o Ministério da Saúde também se tornou um problema para o Governo. Líderes do Centrão querem a saída de Nísia Trindade para assumir a pasta, uma das mais endinheiradas da Esplanada. A pressão é grande, mas Lula pretende resistir ao máximo.
Enquanto o novo desenho das articulações não é fechado, a troca de farpas aumenta entre os próprios ministros. Vários resistem a cumprir os acordos já firmados pelo articulador do Governo, Alexandre Padilha. Reuniões têm sido marcadas para cobrar providências e destravar verbas e indicações para cargos dos mais diversos escalões.
No Ministério da Educação, até petistas têm se queixado da relutância do ministro Camilo Santana em aceitar indicações de seus companheiros de partidos. Cobrado, Santana justificou que tem carta branca de Lula para montagem de sua equipe direta e que, portanto, não pretende ceder suas vagas.
De confusão em confusão, o Governo patina em diversas áreas. O tempo vai passando e muito projetos prometidos por Lula ficam empacados. No Congresso, a situação não é muito melhor e enquanto a formação de uma base sólida não for concluída, muitas derrotas e recados duros ainda serão emitidos pelos parlamentares. E é o próprio País que sofre com tudo isso.