Editorial
Acertando o passo
Os principais responsáveis pelo aumento da inflação no mês de maio foram os preços ligados a alimentação e bebidas
O mercado financeiro tem acompanhado, com bons olhos, o arrefecimento da inflação no Brasil. A expectativa é grande para que esse movimento de queda ajude na redução da taxa de juros determinada pelo Banco Central mais cedo do que se previa. Confiando nesse cenário, muitos investidores já estão mudando suas posições e comprando ações das mais diversas companhias na Bolsa de Valores. Isso tem ficado claro nas constantes altas seguidas registradas nos pregões nos últimos dias. As ações de várias empresas apresentam preço bastante atrativo e uma grande oportunidade de ganho para quem tem um perfil menos conservador e um pouco mais de sangue frio para entender as oscilações e os riscos desse tipo de investimento.
Os dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nessa quarta-feira (7) mostram que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variação dos preços para as famílias com renda de um a cinco salários mínimos e chefiadas por assalariados, teve alta de 0,36% em maio, após uma elevação de 0,53% em abril. Isso significa que, desde o começo do ano a alta acumulada foi de 2,79%. A taxa em 12 meses mostrou alta de 3,74%, ante a taxa de 3,83% até abril. O resultado ficou abaixo do esperado pelos analistas econômicos, sem, no entanto, surpreender o mercado.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) -- que mede a inflação oficial do País -- ficou em 0,23% em maio. A taxa é menor que a de abril último (0,61%) e de maio de 2022 (0,47%). Os principais responsáveis pelo aumento da inflação no mês de maio foram os preços ligados a alimentação e bebidas que tiveram uma alta de 0,16%. Esse grupo, sozinho, acrescentou 0,04 ponto porcentual para o IPCA. Mas esse não foi o único vilão da inflação. Sete dos nove grupos que integram o IPCA registraram altas de preços em maio. Depois de alimentação e bebida, também tiveram altas significativas os gastos com saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, habitação e vestuário.
Já as melhores notícias vieram do segmento de transportes que registrou uma queda de 0,57% em maio. Esse grupo foi beneficiado, principalmente, pela redução de 1,82% no preço dos combustíveis. Só que essa redução está muito mais ligada à decisão política de Petrobras de mudar sua forma de calcular e comercializar seus produtos do que uma realidade do mercado.
Vale lembrar também que a entrada da cobrança do novo ICMS dos Estados sobre a venda de combustíveis, iniciada em junho, deve impactar os índices do grupo transporte no fechamento do mês, anulando boa parte dessa vantagem conquistada em maio.
Além disso, apesar de toda a ciência contida no levantamento do IBGE, a inflação atinge de maneira diferente cada estrato da população. Famílias que fazem um maior número de refeições fora de casa sentem mais, no bolso, os efeitos dos aumentos registrados este ano. Quem usa diariamente a cozinha da própria casa tem uma chance maior de preparar refeições que fiquem num valor mais acessível e, dessa maneira, são menos afetadas pelas constantes altas.
A economia brasileira carece de um período de respiro e de sossego depois de tantos percalços iniciados na pandemia da Covid-19, passando pelas eleições de 2022 e culminando na falta de um projeto claro para o setor nos primeiros meses do Governo Lula. Tudo isso prejudica, e muito, as expectativas tanto de investidores como da população como um todo.
Essa calmaria precisa, com certeza, passar por uma maior geração de empregos. Problema ainda não equacionado pelo atual mandatário do País. O Indicador Antecedente de Emprego caiu 0,4 ponto na passagem de abril para maio. Os dados são da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O resultado sugere que o mercado de trabalho não deve retomar a tendência favorável observada em 2022, mas que também não deve ter pioras expressivas. Só que para o Brasil consolidar a retomada da atividade econômica é fundamental que isso seja acompanhado de uma recuperação do nível de empregos.
Derrubar a inflação por falta de demanda é a única coisa que não precisamos agora. Para um crescimento firme e sólido será necessário que o dinheiro volte a circular na mão de quem mais precisa. Dinheiro vindo do esforço do próprio trabalhador e não de auxílios que tiram a vontade de sonhar com uma vida melhor.