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Editorial

Os mistérios do churrasco

O Poder Legislativo tem mostrado ao Executivo enorme apetite em tomar as rédeas do País

27 de Maio de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
O churrasco de sexta-feira (26) é uma tentativa de aparar algumas arestas e aproximar personalidades tão diferentes
O churrasco de sexta-feira (26) é uma tentativa de aparar algumas arestas e aproximar personalidades tão diferentes (Crédito: DIVULGAÇÃO)

O presidente Lula mostrou, mais uma vez, sua falta de capacidade de entender o atual momento da política no Brasil. Depois de uma semana tumultuada, com a troca de farpas entre vários ministros e muitos desencontros, o presidente ainda acredita ser possível resolver a crise instalada em Brasília com um churrasco regado a picanha e cervejinha.

Preso no modelo de administração que fez no primeiro mandato, nos idos de 2003, e sem os companheiros que o ajudaram na época, Lula tem enfrentado dificuldade para gerenciar os seus 37 ministérios. O problema começou já na distribuição de cargos, com a escolha e a indicação política de pessoas com pensamento muito diverso. Para piorar, boa parte desses ministros está mais interessada em fazer valer suas teses e ideologia do que seguir o planejamento pretendido pelo Governo.

O churrasco de sexta-feira (26) é uma tentativa de aparar algumas arestas e aproximar personalidades tão diferentes. Uma tarefa bastante complicada. A desconfiança é tanta que organizadores desse repentino festejo proibiram a entrada de celulares. Não se sabe o que Lula pretendia esconder da população, se seu discurso e diretrizes para as próximas semanas, ou se o excesso de gasto com carnes nobres e bebidas caras pagas sempre pelo contribuinte.

O que se sabe, com certeza, é que o principal foco da crise, a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, preferiu trocar a companhia do presidente por um evento no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Marina sabe que vai perder não só o debate sobre a autorização de pesquisas da Petrobras na foz do rio Amazonas, como também terá o tamanho do seu ministério reduzido pelo Congresso Nacional. A permanência dela é incerta e não deve durar muito mais do que duas ou três semanas, tempo suficiente para Lula desfilar na presença da presidente da Comissão Europeia ao lado de sua mascote ambientalista.

Lula sabe que a reforma administrativa que fez, no primeiro dia de mandato, tem prazo de validade. Se não for aprovada pelo Congresso até 1º de junho, a Medida Provisória caduca. Isso obrigaria o Governo a retroceder para a estrutura existente no final do mandato de Jair Bolsonaro, deixando vários ministros desempregados.

Consciente desse desafio, o presidente preferiu rifar alguns de seus aliados. O acordo que mudou o desenho da Esplanada dos Ministérios teve o aval da cúpula do Palácio do Planalto. Tanto é verdade que quatro parlamentares petistas votaram, na Comissão Mista que avalia os MPs, a favor do texto, que retira da competência da pasta de Marina a gestão da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Cadastro Ambiental Rural (CAR). O Ministério dos Povos Indígenas, de Sônia Guajajara, perde a demarcação de terras para a pasta da Justiça, de Flávio Dino. Mesmo com essas concessões, Lula ainda corre o risco de sair derrotado.

A ausência do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, na lista de convidados para o churrasco, pode causar novos desconfortos para o Governo. O Poder Legislativo tem mostrado ao Executivo enorme apetite em tomar as rédeas do País. Sem uma base sólida no Parlamento, Lula está nas mãos dessas duas lideranças.

Emparedado pelo Congresso, atrapalhado pelas confusões causadas por seus próprios ministros e sem uma proposta clara para governar o País, o presidente vai saltando de crise em crise. Resta saber até quando esse malabarismo vai ser suficiente para manter a governabilidade. Diante de tantos sinais confusos, o mercado aguarda a poeira baixar para decidir se realmente vale a pena investir no Brasil. Até lá vamos conviver com a expectativa de um crescimento pífio para a economia em 2023.