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Editorial

A Amazônia volta ao centro do debate

O posicionamento radical de Marina lhe rendeu inimigos não só na Petrobras e no Governo, mas também entre aliados de seu partido

25 de Maio de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e os chefes de missões diplomáticas à Amazônia Oriental, fazem sobrevoo para a  sobre a Floresta Nacional de Carajás e visita à mineradora Vale.
Petrobras, uma das joias da coroa do Governo, defende a exploração e pede que o Ibama reveja seu parecer (Crédito: TV Brasil)

Um projeto de exploração de petróleo na foz do rio Amazonas está provocando um verdadeiro racha entre ministros do governo Lula. As críticas e ataques de um lado a outro estão cada vez mais claras e evidentes. Em um dos polos está Marina Silva, do Meio Ambiente, que quer impedir a autorização para prospecção solicitada pela Petrobras. Do outro, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, que defende a continuidade da pesquisa. Qualquer que seja a posição que o presidente adote, optando por uma das correntes de pensamento, o caldo vai entornar.

Os dois ministros têm exposto publicamente suas divergências. As visões de ambos os lados foram apresentadas numa audiência na Câmara dos Deputados e no Senado Federal na manhã de quarta-feira, 24. Silveira defendeu a posição da Petrobras, responsável pelo projeto, e apontou a dissonância entre as partes. “Não temos e não devemos ter dentro de um governo, dois ou três governos. Devemos ter um único governo”, afirmou Silveira, que definiu o assunto como “estratégico”.

Já Marina Silva mostrou seu descontentamento na Comissão de Meio Ambiente na Câmara: “Já apanhei igual a couro de pisar tabaco. Eu prefiro sofrer injustiça do que praticar injustiça”.

A Petrobras, uma das joias da coroa do Governo, defende a exploração e pede que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), subordinado a Marina, reveja seu parecer técnico que indeferiu o pedido de licença ambiental feito pela companhia.

Segundo a petrolífera, essa área de exploração, no litoral do Amapá, pode se tornar o “novo pré-sal”, rendendo muito dinheiro não só para a empresa como também para o Governo. A Petrobras garante que os danos ambientais serão mínimos para a Amazônia em comparação com os ganhos que o projeto pode oferecer.

O que está em jogo neste momento é apenas a liberação de uma licença para perfuração, com o objetivo de averiguar o volume de petróleo disponível na área. Para a exploração do óleo em si muita água ainda vai passar por baixo da ponte e a Petrobras precisaria abrir um segundo pedido de licenciamento.

Marina Silva sabe que se esse poço for perfurado e a quantidade de petróleo for significativa, não haverá santo que impeça a continuidade e a aprovação de todas as outras etapas do projeto. A ministra tenta lutar com unhas e dentes para impedir que isso ocorra e garantir seu discurso em prol da Amazônia como um todo. A agenda defendida por ela e seus seguidores não quer nem ouvir falar no aumento da produção de combustível fóssil no País.

O posicionamento radical de Marina lhe rendeu inimigos não só na Petrobras e no Governo, mas também entre aliados de seu partido. O senador Randolfe Rodrigues, que representa o Amapá, deixou a legenda comandada por Marina por não concordar com a posição dela.

Sem se preocupar com as repercussões do seu posicionamento, a ministra defendeu, na Câmara, a posição do Ibama e justificou que essa solução pode evitar problemas futuros. Marina teceu ainda sérias críticas à atuação da Petrobras. Falou, na presença dos deputados, que a empresa deveria não apenas explorar petróleo, mas também atuar no campo da geração de energia. Para ela, o Brasil não pode perder uma nova oportunidade de ser vanguarda na produção de energias renováveis.

O clima tem ficado mais tenso a cada hora e o desfecho desse “imbróglio” vai explodir nas mãos do presidente Lula. Enquanto isso não ocorre, o Congresso Nacional se prepara para complicar a vida da ministra do Meio Ambiente. As modificações que estão sendo preparadas na Medida Provisória que modificou a estrutura administrativa da Esplanada dos Ministérios tiram boa parte do poder e da importância da pasta gerida por Marina Silva. Com mais esse percalço pela frente, a situação dela no Governo vai ficando cada vez mais fragilizada. Resta saber até que ponto a ministra está preparada para engolir esses sapos ou se, mais uma vez, vai romper com Lula e cerrar fileiras na oposição. A presença de Marina, que era para ser um trunfo do presidente no campo da proteção do meio ambiente e no combate ao aquecimento global, acabou se transformando num grande e complexo problema. A imagem da Amazônia, mais uma vez, vai ficar em risco perante a opinião pública mundial.