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Editorial

Chega de racismo no futebol

É preciso focar no combate a aqueles que realmente causam o problema e aproveitam o efeito manada da torcida como um todo para disseminar suas ideias de racismo

23 de Maio de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Vinicius Junior joga atualmente no Real Madrid
Vinicius Junior joga atualmente no Real Madrid (Crédito: AFP)

O futebol é um dos esportes que mais despertam paixão no planeta. A Fifa, entidade que regulamenta o esporte mundo afora, tem um número maior de países associados que a própria Organização das Nações Unidas (ONU).

Só que essa paixão toda acaba provocando conflitos entre torcedores e ataques que desafiam as regras mínimas da civilidade.

Muitas vezes esses grupos criminosos, disfarçados de torcidas organizadas, causam tumultos em estádios, nas ruas e nos transportes públicos.

Ofendem jogadores e dirigentes e organizam verdadeiras batalhas campais entre rivais que, em vários casos, terminam com dezenas de feridos e até mortes.

O Brasil assiste a isso, a Argentina, a Turquia, o Reino Unido, os países do Leste Europeu, não importa o nível de desenvolvimento da civilização, basta entrar o fator futebol no meio da discussão para sociedades inteiras regredirem ao comportamento do período das Trevas, na Idade Média. Atitudes essas totalmente reprováveis em pleno século 21.

O assunto do momento, que repercute no mundo todo, é o ataque racista enfrentado pelo jogador brasileiro do Real Madrid, Vinicius Junior. Ele teve de encarar, numa partida em Valência, boa parte do estádio o chamando de “mono”.

E essa não foi a primeira vez. Basta o atleta disputar um jogo fora de casa, numa outra região da Espanha, para as ofensas repetirem-se. Foram 10 vezes só nessa temporada.

Vinicius Junior tem denunciado com frequência esses ataques, mas as autoridades espanholas, principalmente as ligadas ao futebol, sempre trataram o assunto com pouca responsabilidade. Resultado: o problema cresceu como uma bola de neve.

Agora, sob pressão e criticadas pelo excesso de passividade, essas mesmas autoridades decidiram lutar, tardiamente, contra o racismo no futebol. Após as primeiras reações na segunda-feira (22), quando as críticas ao ataque contra o brasileiro chegaram de todo o mundo, e da abertura de uma investigação pela Procuradoria de Valência por suposto crime de ódio, novas ações foram anunciadas nesta terça-feira (23).

A polícia espanhola decidiu trabalhar e deteve três torcedores do Valência suspeitos de “comportamentos racistas” ocorridos no domingo passado no estádio Mestalla. Eles foram ouvidos e liberados. De acordo com um comunicado emitido pela própria polícia, “a investigação, que teve a colaboração do ‘Valencia Club de Fútbol’, continua aberta para identificar outros possíveis autores de comportamentos similares”.

Outras quatro pessoas foram detidas em Madri como parte da investigação sobre o boneco com o uniforme do atacante de Vinícius Júnior enforcado e pendurado em uma ponte da capital espanhola no fim de janeiro. Três são “membros ativos de um grupo radical de torcedores de um clube madrileno”, acrescenta a nota, sem identificar uma organização.

Fora da esfera policial, o Conselho Superior dos Esportes (CSD) anunciou que pretende apresentar a proposta, tanto à Federação Espanhola de Futebol como para La Liga, com o objetivo de desenvolver uma campanha de conscientização‘ direcionada aos torcedores, com diversas ações estratégicas para lutar contra o “flagelo do racismo” e “para combater os discursos de ódio no esporte”.

“Temos que dizer claramente que somos antirracistas porque na Espanha estamos combatendo este tipo de comportamento, o condenamos e estamos trabalhando para erradicá-lo”, afirmou a porta-voz do governo espanhol, Isabel Rodríguez.

O problema é muito maior do que parece e de difícil solução. Muitos defendem que os clubes sejam punidos com multas, perdas de ponto e até rebaixamento, mas a sanção extrema a uma comunidade toda e a atletas que tanto se dedicam para defender as camisas que vestem por conta da ação de uma minoria, acaba parecendo injusta.

É preciso focar no combate a aqueles que realmente causam o problema e aproveitam o efeito manada da torcida como um todo para disseminar suas ideias de racismo, de xenofobia e de tantos outros ataques às pessoas que estão ali com o único objetivo de oferecer um bom espetáculo.

Esses torcedores irresponsáveis merecem sim punições rigorosas. Até que isso ocorra, o nosso papel está em denunciar aqueles que abusam do direito de torcer e que transformam a paixão pelo futebol numa doença que afeta toda a sociedade.